
© Pedro Teias
Maggie Dickson separou-se do marido. Contudo, na sua época, tal não era sinónimo de poder fazer o que bem quisesse. Como tal, quando se envolveu com outro homem, a solução foi ocultar a gravidez o mais possível. Tudo caminhou sobre rodas até ao momento em que a apanharam, por assim dizer, com o menino nos braços. A pena para estes casos era nada menos do que a morte por enforcamento. Assim se procedeu, mas durante a execução, ninguém percebeu que o pescoço de Maggie não estalara, tendo esta entrado numa espécie de estado comatoso devido ao garrote da corda. Pronunciada legalmente morta e colocada num caixão, foi já a caminho do cemitério que a defunta regressou à vida, fazendo anunciar a boa nova com vigorosos murros no invólucro de madeira onde a tinham encerrado.
Acto contínuo, nessa mesma noite, foi de novo transportada ao carrasco que tão competentemente a executara. Trocados os cumprimentos, consultaram-se as leis para concluir duas coisas: primeira, que não se pode executar a mesma pessoa duas vezes, pelo que, tendo-se já desperdiçado a primeira e única oportunidade, nada restava aos algozes senão deixar Maggie Dickson seguir em liberdade. A segunda, não menos importante, declarava que esta já não estava, nem mesmo aos olhos de Deus, vinculada ao casamento, que de forma clara exige essa união «até que a morte os separe». Estando a nossa Maggie legalmente morta, podia sem desprimor dos cânones dizer-se que estava também de novo solteira.
Passou então a afortunada senhora a frequentar o pub que hoje exibe o seu nome, feliz como um passarinho, espalhando o optimismo por todos os condenados que por ali passavam antes de enfrentar o castigo sumário.
«Também eu fui enforcada e ainda aqui estou, de perfeita saúde».
É caso para dizer que a esperança é a última a morrer…ou talvez não, caso encontre carrascos da qualidade dos escoceses.