
© Pedro Teias
O castelo de Edimburgo foi edificado no topo de um vulcão extinto, conjugando vantagens geográficas e argúcia humana para se tornar numa fortaleza quase inexpugnável. Dois terços da estrutura fundem-se com as escarpas a pique da formação montanhosa, num ângulo de quase 90º, tornando a escalada pouco menos que impossível. A face remanescente desagua numa cintura dupla de muralhas, com fileiras de canhões a espreitar como cogumelos. Estendendo um olhar vigilante sobre a cidade, aninhada no vale tranquilo que a rodeia, a cidadela tornou-se símbolo máximo da urbe que protege.
Durante o domínio inglês, a impenetrável fortaleza foi, contudo, conquistada através do mais improvável dos métodos. Um soldado normalmente encarregue da ronda nocturna, tendo arranjado um interesse amoroso na cidade, havia depois de muita paciência e teimosia descoberto um carreiro esconso, que descia pela encosta a partir de uma gelada abertura nas muralhas até ao mais aconchegado leito da escaldante senhora. Fazendo este percurso com compreensível frequência, o dito homem de armas conhecia em pormenor os horários dos ingleses, pessoas que por norma se deitavam cedo e dormiam um sono confiante.
Preparando-se uma revolução em certos sectores escoceses, concluiu-se então que um ataque frontal era coisa de suicidas, pelo que se optou por reunir um pequeno grupo de elite, que aconselhados pelo fogoso e pouco profissional soldado, percorreram com ele a vereda salvadora rumo à abertura nas muralhas, ganhando acesso ao castelo e aos quartos do inimigo. Antes que algum soltasse um queixume, enterraram sem piedade os punhais no orgulho invasor, recuperando Edimburgo e o seu impenetrável castelo para a pátria escocesa.
Sobre alguma nota de agradecimento à senhora cujos calores tinham frequentemente de ser atendidos, não rezam as crónicas.