Há uns anos, deparei-me com nova fornada de notícias que «profetizavam» o encerramento da Cinemateca Portuguesa, razão que me pareceu suficiente para redigir este texto:
«A reestruturação (ou outro nome qualquer) financeira parece agora prestes a encerrar a Cinemateca Portuguesa.
Pouco me incomoda que os aberrantes centros comerciais, cada um com 12 salas completamente vazias de conteúdo, a tresandar a pipocas e a refrigerantes, estejam às moscas enquanto exibem o mais recente monstro.
Não me causa qualquer desconforto que gigantes financeiros percam espectadores – que podem estar no conforto do lar a assistir ao que querem nas diversas plataformas, pois com sorte escolhem algo bastante melhor do que aquilo que lhes é oferecido nas salas tradicionais. E em último caso, se escolherem o mesmo filme de baixa qualidade, podem ao menos celebrar o facto de terem poupado uns euros.
Um centro comercial é, de qualquer forma, um dos empreendimentos mais deprimentes e sufocantes alguma vez inventados pelo Homem e a sua decadência ou mesmo queda, apenas me oferece alívio.
Uma coisa totalmente diferente é entregar à morte a Cinemateca Portuguesa, o último bastião do verdadeiro Cinema, em Portugal. Poder-se-á argumentar que, tal como exemplifiquei antes, tenho a possibilidade de ficar em casa e aceder aos grandes clássicos. A diferença é que ir à Cinemateca não é apenas ir ver um filme.
Algumas das minhas melhores tardes em Lisboa foram lá passadas. Naquele espaço descobri dezenas de grandes realizadores e obras-primas do Cinema. Usufruí de muitas horas de leitura, escrita, encontros, descobertas, meditação.
Hoje em dia, recordar a Cinemateca é recordar um pedaço de história, da insignificante que é a minha e da História de muitos dos grandes. É um pedaço de Essência.
E quando se destrói a essência, como alguém dizia, já não temos um país.
Temos um sítio».