Leo Tolstoi

leo-tolstoy


Viveu entre 1828 e 1910. Além da sua fama como escritor, Tolstoi ficou conhecido por se tornar, na velhice, um pacifista cujos textos e ideias contrastavam com as igrejas e governos, pois defendiam uma vida simples e em proximidade com a Natureza.

Juntamente com Dostoievski, Turgueniev, Gorki e Tchécov, foi um dos grandes mestres da literatura russa do século XIX. As suas obras mais famosas são Guerra e Paz, sobre as campanhas de Napoleão na Rússia, e Anna Karenina, onde denuncia o ambiente hipócrita da época e constrói um dos retratos femininos mais profundos e sugestivos da Literatura.

Morreu aos 82 anos, de pneumonia.

 

Liev Nicolaevitch, conde de Tolstoi, nasceu em «Yasnaya Polyana» (nome da sua casa), localizada a 12 km de Tula e a 200 km de Moscovo.

Devido à morte prematura dos pais, foi educado por preceptores.

Em 1851, na juventude, o vazio existencial levou-o a alistar-se no exército russo. Tal experiência contribuiria para que, mais tarde, se tornasse pacifista.

Durante essa época, Tolstoi bebia muito, perdia muito dinheiro no jogo e dedicava muitas noites a ter encontros com prostitutas. Mais tarde, o velho escritor repudiaria esta fase da sua vida.

No final da década de 1850, preocupado com a precariedade da educação no meio rural, criou uma escola para filhos de camponeses. Escreveu ele próprio grande parte do material didáctico e, ao contrário da pedagogia da época, deixava os alunos livres, sem excessivas regras ou punições.

Em 1862, casou-se com Sophia Andreievna Bers, com quem teve 13 filhos.

Durante 15 anos, dedicou-se intensamente à vida familiar. Porém, o casamento com Sophia seria repleto de distúrbios e discussões. Foi nessa época que Tolstoi produziu os romances que o celebrizaram – Guerra e Paz e Anna Karenina. O primeiro consumiu sete anos de trabalho e ambos são considerados grandes obras da literatura mundial.

Embora muito bem-sucedido como escritor e mundialmente famoso, Tolstoi atormentava-se com questões sobre o sentido da vida e, após desistir de encontrar respostas na filosofia, na teologia e na ciência, deixou-se guiar pelo exemplo da vida simples dos camponeses, que ele considerou ideal. A partir daí, teve início o período que ele apelidou de «conversão».

Seguindo à letra a sua interpretação dos ensinamentos cristãos, Tolstoi encontrou o que procurava, cristalizando então os princípios que norteariam a sua vida a partir daquele momento.

O cristianismo do escritor recusou a autoridade de qualquer governo organizado e de qualquer igreja. Criticou também o direito à propriedade privada e os tribunais e pregou o conceito de não-violência. Para difundir as suas ideias, Tolstoi dedicou-se – em panfletos, ensaios e peças teatrais – a criticar a sociedade e o intelectualismo estéril. Tais ideias, anunciadas tão explicitamente, causaram confusão nos fãs do famoso escritor e influenciariam um importante admirador: Gandhi, nesta época ainda a viver em África.

Após esta «conversão», Tolstoi deixou de beber e fumar, tornou-se vegetariano e passou a vestir-se como camponês. Contemporâneos escreveram:

Leo Tolstoi foi um adepto e um apóstolo do vegetarianismo. E não é pouco nem insignificante que um tal espírito e tão sublimado coração perfilhasse e praticasse essa doutrina, que a inércia moral e o poder do vício desprezam ou escarnecem, na cegueira própria da sua particular estreiteza.

Convencido de que ninguém deve depender do trabalho alheio, passou a limpar os seus aposentos, a lavrar o campo e a produzir as próprias roupas e botas. Estas ideias atraíram um séquito de seguidores, que se denominavam «tolstoianos». Decidiu abdicar dos direitos de autor dos livros que viria a escrever e só voltou a utilizar esse dinheiro quando precisou de fundos para transportar para o Canadá uma comunidade de camponeses, perseguidos pelo governo.

Tolstoi chegou a ser vigiado pela polícia do Czar. Devido às suas ideias e textos, foi excomungado pela Igreja Ortodoxa, em 1901. Alguns dos seus amigos e seguidores também foram exilados. Leo só não foi preso porque era adorado em todo o mundo como um dos maiores nomes do seu tempo.

O escritor, porém, não conseguia alcançar a simplicidade em que acreditava. A família, especialmente a mulher Sophia, cobrava-lhe os luxos e riquezas a que se tinha habituado. Os filhos davam razão à mãe, que ameaçava matar-se quando ele sugeria abandonar a casa.

Sophia, que lhe tinha dedicado a existência, exigia que o escritor lhe deixasse, em testamento, os direitos das obras que fez na fase final da vida. Tolstoi, por sua vez, elaborou um testamento secreto, segundo o qual passaria todos os direitos de autor a um «tolstoiano» de nome Chertkov, que tornaria a sua obra pública.

Aos 82 anos de idade, decide enfim fugir de casa e deixar a família, abandonando aquela vida para levar uma existência simples e feliz, sem riqueza.

Durante alguns dias a fuga foi um sucesso. Nos comboios e nas estações por onde passava era reconhecido por todos, já que se tratava do homem mais famoso da Rússia. Porém, devido à sua preferência por viajar em vagões de terceira classe, cheios de ar frio e fumo, o já debilitado escritor contraiu uma pneumonia, que foi agravando rapidamente.

No dia 20 de Novembro de 1910, Tolstoi morreu durante a fuga, devido à pneumonia, na estação ferroviária de Astapovo, província de Riazan.

O comboio funerário que trouxe o corpo foi recebido por camponeses e operários que viviam próximos da propriedade dos Tolstoi.

O caixão foi seguido por uma multidão de três a quatro mil pessoas. O número teria sido ainda maior se o governo de São Petersburgo não tivesse proibido a vinda de comboios especiais de Moscovo para o enterro. A sua morte foi noticiada nos principais jornais do mundo.

Ideais

 

Proximidade com o Anarquismo

Para Tolstoi, os Estados, as Igrejas, os Tribunais e os dogmas eram apenas ferramentas de controlo utilizadas por uma minoria de homens sobre os outros, ainda que repudiasse a classificação dos seus ideais como anarquistas. Contudo, pode assumir-se uma aproximação ao anarquismo em 1862, quando em viagem pela Europa, o escritor visitou o autor anarquista Proudhon. Este estava a escrever um texto chamado «La guerre et la paix», cujo título Tolstoi propositadamente utilizou no seu romance.

O escritor não acreditava em guerras ou revoluções violentas como solução para quaisquer problemas, mas sim em revoluções morais individuais que levariam às verdadeiras mudanças. Afirmava que as suas teses se baseavam na vida simples e próxima à natureza dos camponeses e não nas teorias sociais do seu tempo.

 

A busca pelo Natural

Apesar de professar uma conversão no último período da sua vida e de renegar os seus trabalhos mais famosos, já se encontram nesses textos diversas referências sobre a busca do autor por uma vida simples e próxima da natureza.

Vários foram os personagens criados nesta época que representavam o ideal de vida simples e natural. Em Os Cossacos são os camponeses semi-selvagens de uma área remota do Cáucaso; em Guerra e Paz é o personagem Platão que é descrito no livro como a personificação da verdade e da simplicidade: As suas palavras e acções brotam dele com a mesma espontaneidade que o aroma brota da flor. Em Anna Karenina outro camponês, também chamado Platão, é o símbolo desta aspiração do autor.

Ainda antes, na infância, Tolstoi alimentava, tal como os irmãos, um sonho de fraternidade total. Acreditavam que o círculo fraterno que formavam poderia ser expandido e englobar a humanidade inteira, eliminando todos os problemas. O local onde esta utopia foi idealizada, sob a sombra de uma árvore num bosque da Rússia, é o local onde foi enterrado Tolstoi, conforme ele pedira, juntamente com outro irmão.

 

Pacifismo

Tolstoi ficou famoso por ser um pacifista. Nas palavras de Gandhi, com quem trocou correspondência, o autor foi o maior «apóstolo da não-violência». No livro O Reino de Deus está em Vós, Tolstoi baseia-se no Sermão da Montanha para afirmar que não se deve resistir ao mal através do próprio mal.

No mesmo livro, continuando o seu raciocínio pacifista, o escritor afirma ser contrário ao serviço militar obrigatório (e ao militarismo como um todo). Também defende e exalta povos como os Quakers, que segundo ele buscam a simplicidade, a autonomia e não utilizam a violência.

 

Religiosidade sem dogmas

Foi excomungado pela Igreja Ortodoxa Russa, religião dominante no seu país, depois de tanto criticá-la. O escritor definia como dogmas irracionais, que serviam para dominar o povo, alguns dos conceitos mais caros à Igreja. Considerava e seguia a doutrina de Jesus, mas achava impossível, por exemplo, que Jesus pudesse ser um Homem e um Deus ao mesmo tempo. Para Tolstoi, Deus estava nas próprias pessoas e nas suas acções e Jesus teria sido, para ele, o homem que melhor soube exprimir uma conduta moral que gerasse justiça, felicidade e elevasse espiritualmente todos os homens.

O seu cristianismo exacerbado, no fim da vida, assemelhava-se ao cristianismo primitivo. Em alguns trabalhos publicados, os textos foram muito mais longe que as atitudes pessoais, como em Sonata a Kreutzer, onde se vê uma tendência para exaltar o celibato. Porém, o escritor ainda teve filhos depois desta obra. Pouco antes da sua morte, os amigos aconselharam-no a retratar-se com a Igreja, mas este recusou.


A trama gira em torno do caso extraconjugal da personagem que dá título à obra, uma aristocrata da Rússia Czarista que, a despeito de parecer ter tudo (beleza, riqueza, popularidade e um filho amado), sente-se vazia até encontrar o impetuoso oficial Conde Vronsky, com quem inicia um caso amoroso. A história começa com a chegada de Anna a casa do seu irmão, Stepan, que está numa situação difícil com a esposa, Dolly. Anna trata de intervir na situação, que de alguma forma é um reflexo da sua.

O oficial Vronsky está disposto a casar-se com Anna Karenina assim que ela se divorcie de Alexey Karenin, um oficial do governo, mas esta é vulnerável às pressões da sociedade russa, às suas próprias inseguranças e à indecisão de Karenin. Mesmo quando fogem para Itália, encontram dificuldades em fazer amigos. De volta à Rússia, Anna torna-se cada vez mais ansiosa e isolada, enquanto Vronsky mantém a vida social. Apesar das reafirmações deste, Anna torna-se cada vez mais possessiva e paranóica sobre a infidelidade do amante, chegando a ficar fora de controle.

Paralelamente, acompanhamos a história de Konstantin Levin, um proprietário de terras que deseja casar com Kitty, irmã de Dolly, chegando a propor casamento duas vezes até ela aceitar. O romance detalha as dificuldades de Levin em lidar com o seu estado, o eventual casamento e as questões pessoais, até ao nascimento do filho.

O romance está dividido em oito partes, e começa com uma das frases mais citadas e mais conhecidas da literatura universal:

Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes são-no de diferentes maneiras.

Parte 1

A cena inicial apresenta-nos o Príncipe Stepan Arkadievich Oblonsky, «Stiva», um aristocrata moscovita e servidor civil que foi infiel à esposa, Darya Alexandrovna, «Dolly». Esta descobriu o relacionamento de Oblonsky com a governanta, pelo que acompanhamos a reacção da família, que entra em tumulto. Stiva é avisado pelo mordomo que a sua irmã, Anna Arkadievna Karenina, está a caminho de São Petersburgo, em visita.

Enquanto isso, o amigo de infância de Stiva, Konstantin Dmitrievich Levin, «Kostia», chega a Moscovo com a pretensão de pedir a mão da irmã de Dolly, a Princesa Katerina Alexandrovna Scherbatskaya, «Kitty». Levin é um proprietário de terras apaixonado, inquieto e tímido que, ao contrário dos seus amigos de Moscovo, gosta de passar boa parte do tempo no campo. Descobre que Kitty possui outro pretendente, o Conde Alexey Kirillovich Vronsky, um oficial do exército.

Quando Stiva vai buscar Anna à estação de comboios, encontra o Conde Vronsky, que está lá devido à chegada da sua mãe, a Condessa Vronskaya, que viajou ao lado de Anna na mesma carruagem. Quando os familiares se reúnem, Vronsky vê Anna pela primeira vez, enquanto recebem a notícia que um dos trabalhadores da estação caiu na linha acidentalmente e morreu. Anna interpreta isso como um mau presságio. Vronsky sente-se encantado pela presença dela.

Na casa do irmão, Anna fala aberta e emocionalmente com Dolly sobre o caso deste e convence-a de que ele ainda a ama, apesar da infidelidade. Esta sente-se comovida com as palavras de Anna e decide perdoar Stiva.

Kitty, de apenas 18 anos, tem a sua primeira experiência como debutante nos bailes, e espera-se que ela encontre um cavalheiro na sua introdução à sociedade. O nome que surgia na sua mente era Vronsky, que lhe tinha dado grande atenção em recentes ocasiões, pelo que a mesma esperava que pudessem dançar no baile. Contudo, antes disso, Levin chega a casa deles e pede Kitty em casamento, sendo rejeitado na oferta. A jovem acredita estar apaixonada por Vronsky e sente-se impulsionada pelas palavras da mãe, que defende que este vai pedir a filha em casamento, ao contrário do pai, que prefere Levin. Quando Kitty vê Anna pela primeira vez, fica impressionada com a sua beleza e personalidade.

No grande baile, Kitty fica à espera de algo definitivo por parte de Vronsky, mas este acaba por dançar com Anna, deixando a jovem em choque e com o coração partido. Percebe que Vronsky parece estar apaixonado por Anna e não possui a menor intenção de se casar com ela, apesar de ter aparentado interesse em ocasiões anteriores. De facto, este atribuiu pouca importância ao caso e está convencido que ela pensa da mesma maneira. Anna, abalada pela sua reacção nervosa à dança com Vronsky, volta para São Petersburgo e este, por impulso, entra no mesmo comboio. Durante a viagem, os dois encontram-se e Vronsky confessa o seu amor por Anna. Ela rejeita-o, apesar de estar profundamente tocada pela atenção que recebe dele.

Levin, abalado pela rejeição de Kitty, volta ao campo, abandonando as esperanças de algum dia contrair matrimónio com ela e Anna reúne-se com o marido, Alexei Alexandrovich Karenin, um oficial do governo, e com o filho, Seryozha. À chegada, percebe que já não se sente atraída pelo esposo, embora o julgue um bom homem.

Parte 2

Os Scherbatskys consultam um médico sobre a saúde de Kitty, que se tem mostrado enfraquecida desde que foi rejeitada na noite do baile por Vronsky. Este recomenda que ela viaje para um spa na Europa, para recuperar. Dolly diz-lhe que entende o motivo pelo qual ela sofre e que esse sofrimento é em vão. Kitty, humilhada por Vronsky e atormentada porque rejeitou Levin, começa a contrariar as palavras da irmã e afirma que nunca perdoaria um homem que a tivesse traído. Enquanto isso, Stiva visita Levin no campo porque deseja vender parte das suas terras.

Em São Petersburgo, Anna começa a passar mais tempo com a Princesa Betsy, uma socialite progressista e prima do Conde Vronsky, que continua a tentar reunir-se com Anna. Ainda que esta inicialmente o rejeite, vai sucumbindo lentamente às investidas do oficial durante os eventos sociais, o que chama a atenção de Karenin. Este acredita que os casais devem evitar discutir por ciúmes e por isso afirma estar apenas a alertá-la para a possibilidade de intrigas, confessando-se também preocupado com a imagem pública, mas não parece suspeitar das atitudes da mulher.

Vronsky, um cavaleiro talentoso, inscreve-se numa corrida de obstáculos. Pouco antes, Anna conta-lhe que está grávida de um filho dele. Durante o evento, este pressiona muito a égua, causando instabilidade e fazendo com que o animal caia de costas. Anna, que está na plateia com o marido, não consegue conter a aflição diante de todos e Karenin diz-lhe que tal reacção lhe parece imprópria e que pode mais uma vez gerar comentários.

Kitty e a mãe viajam para um spa na Alemanha, na tentativa de recuperar a saúde da jovem. É lá que conhecem Madame Stahl e a virtuosa Varenka, a sua filha adoptiva. Influenciada por Varenka, Kitty torna-se bastante piedosa, mas desencanta-se quando descobre que Madame Stahl está a simular a doença e regressa a Moscovo.

Parte 3

Levin continua a trabalhar no campo, enquanto reflecte no significado do espiritual e nos seus desafios diários. Começa a combater a ideia da falsidade, criticando a hipocrisia que encontra noutras pessoas. Desenvolve ideias sobre como deve ser levada a agricultura, a relação entre o trabalhador rural, a terra e a cultura e chega à conclusão de que as reformas rurais da Europa não resultariam na Rússia, devido à personalidade única do camponês russo.

Quando Levin visita Dolly, esta interroga-o, procurando entender o que aconteceu entre ele e a sua irmã e assim explicar o comportamento de Kitty. Ele sente-se agitado com a conversa, e começa a afastar-se de Dolly quando percebe que o tratamento amável que esta dava aos filhos era falso. Levin decide esquecer totalmente Kitty e começa a contemplar a ideia de se casar com uma camponesa, porém, ao vê-la de relance, percebe que ainda a ama. Enquanto isso, em São Petersburgo, Karenin recusa-se a deixar Anna e insiste na continuidade do relacionamento, ameaçando ficar com Seryozha caso ela mantenha o caso com Vronsky.

Parte 4

Uma vez que Anna e Vronsky continuam a relação, Karenin decide procurar um advogado para tratar do divórcio. Naquela época, um divórcio só poderia acontecer na Rússia se o motivo da parte inocente fosse confessado pela parte culpável – o que arruinava a posição de Anna na sociedade e a impedia de se casar novamente – ou em caso de haver provas concretas do adultério. Karenin convence a mulher a entregar-lhe as cartas escritas por Vronsky, mas quando as apresenta ao advogado, este afirma que tal prova é insuficiente. Stiva e Dolly procuram convencer Karenin a desistir da ideia do divórcio.

Este muda de planos depois de saber que a mulher corre risco de vida durante o parto da filha, Annie. Ao lado da cama onde repousa Anna, Karenin chega mesmo a perdoar Vronsky. Este, envergonhado pela magnificência e bondade de Karenin, e vendo que Anna também via bondade nas acções do esposo, faz uma tentativa falhada de suicídio. Quando Anna recupera, não consegue viver com o marido, apesar da sua bondade, perdão e carinho com Annie. Quando lhe contam que Vronsky planeia partir para Tasckent, entra em desespero. Na primeira oportunidade, reúne-se com ele e os dois fogem para a Europa.

Enquanto isso, Stiva consegue marcar um reencontro entre Levin e Kitty, que termina na reconciliação dos dois e no noivado.

Parte 5

Depois de intensos preparativos, Levin e Kitty casam-se e vão morar no campo. Apesar de felizes, passam por períodos tensos durante os três primeiros meses do casamento. Levin fica incomodado com a quantidade de tempo que Kitty passa com ele e tenta dedicar-se de novo ao trabalho no campo. Quando o casamento vai amadurecendo, chega a Levin a notícia que o seu irmão mais velho, Nikolai, está a morrer. Kitty oferece-se para acompanhar o marido e mostra-se uma grande companheira nos cuidados com Nikolai. O amor de Levin por Kitty cresce. Esta descobre que está grávida.

Na Europa, Anna e Vronsky encontram muitas dificuldades em fazer amigos. Enquanto Anna está feliz por passar mais tempo a sós com Vronsky, ele sente-se sufocado pela presença contínua dela. Tenta passar os dias como pintor, mas ao conhecer outro russo durante a estadia em Itália, que se revela pretensioso sobre a arte, cansa-se daquela vida e volta com Anna para a Rússia.

Em São Petersburgo, hospedam-se nos melhores hotéis, mas em quartos separados. Torna-se cada vez mais evidente que ele continua capaz de se encaixar na sociedade russa, enquanto ela é excluída da mesma. Até a sua velha amiga, a Princesa Betsy, que também possui amantes, trata de fugir da sua companhia. Anna, na sua solidão, começa a ficar ansiosa com a possibilidade de Vronsky já não a amar. Entretanto, Karenin é confortado pela Condessa Lídia Ivanovna, uma entusiasta da religiosidade e do misticismo, que era em parte uma tendência das classes altas. Esta afirma que ele deve evitar os contactos de Seryozha com a mãe e como tal deve contar ao rapaz que ela está morta. No entanto, o menino recusa-se a acreditar que isso seja verdade. No seu nono aniversário, Anna consegue falar com ele, mas Karenin descobre.

Anna, desesperada por voltar a ter a atenção da sociedade, decide ir uma peça de teatro que irá estar muito frequentada, apesar dos pedidos de Vronsky em sentido contrário. No teatro, é amplamente repreendida pelas antigas amigas e uma delas faz um escândalo, abandonando o local. Anna fica devastada. Incapazes de encontrar espaço na cidade, decidem ir para o campo.

Parte 6

Dolly, a Princesa Scherbatskaya e os filhos de Dolly passam o Verão com Levin e Kitty. Levin sente-se apreensivo com a «invasão» dos Scherbatskys e a situação agrava-se depois da chegada de Stiva com o primo, Veslovsky. Levin fica ciumento ao perceber que Veslovsky começa a insinuar-se a Kitty. Acaba por não se controlar e expulsa o outro, numa cena constrangedora diante dos visitantes. Aquele desloca-se imediatamente a casa de Vronsky, ali perto.

Dolly decide visitar Anna e ver como está a cunhada, apercebendo-se do incontestável contraste entre o estilo de vida simples de Levin e a vida altamente luxuosa que leva Vronsky. Não consegue acompanhar o ritmo com que Anna troca de vestidos estilosos, nem medir a dimensão dos gastos que Vronsky faz num hospital que está a construir. Além disso, é perceptível que a relação entre o casal não vai bem. Dolly repara no comportamento agitado e inquieto de Anna e nos constantes flirts que ocorrem entre esta e Veslovsky. Vronsky pede a Dolly para abordar a mulher, de modo a que esta aceite o pedido de divórcio de Karenin e os dois possam enfim casar e viver normalmente, mas Anna diz a Dolly que ninguém consegue entender a situação dela.

Esta começa a sentir ciúmes cada vez mais intensos de Vronsky e não consegue sequer ficar longe dele por curtos momentos. Quando ele viaja por alguns dias para as eleições provinciais, Anna convence-se que é necessário que se casem para evitar que este a abandone. Depois de escrever uma carta a Karenin, deslocam-se ambos a Moscovo.

Parte 7

Ao visitar a casa dos Scherbatskys em Moscovo, Levin rapidamente se habitua à vida frenética, cara e frívola da sociedade urbana. Acompanha Stiva a um clube de cavalheiros, onde os dois se encontram com Vronsky. À saída, Stiva convence Levin a visitar Anna, que de momento cuida de uma menina órfã inglesa. Este fica apreensivo, mas ao chegar, é facilmente enfeitiçado por ela. Quando o admite a Kitty, esta analisa as suas expressões e acusa-o de se ter apaixonado pela outra. Momentos depois o casal reconcilia-se, mas percebendo que a vida em Moscovo era negativa, principalmente para Levin, decidem partir.

Anna não entende como consegue encantar homens como Levin, que tem uma jovem esposa, sem no entanto continuar a atrair Vronsky. A relação com ele está sob constante tensão, porque este move-se à vontade pela sociedade, enquanto ela permanece excluída. A sua crescente amargura, o tédio e o ciúme causam diversas discussões entre o casal. Anna usa cada vez mais morfina para dormir, um hábito que começou quando estavam no campo e foi tomando conta dela.

Já no campo, Kitty dá à luz um menino, que recebe o nome de Dmitri «Mitya». Levin fica aterrorizado pela figura do pequeno bebé indefeso e não sabe o que sente pelo menino.

Stiva visita Karenin para tratar de convencê-lo a seguir em frente com o divórcio, mas as decisões deste estão agora governadas por um vidente recomendado por Lídia Ivanovna. O outro aparentemente teve uma visão em sonhos, durante a visita de Stiva, e dá a Karenin uma mensagem críptica, que é interpretada como uma recusa.

Anna fica cada vez mais ciumenta e irracional sobre Vronsky e suspeita que ele tenha relações com outra mulher. Receia também que este vá aceitar a sugestão da mãe para se casar com uma mulher rica da alta sociedade. Discutem e Anna acredita que a relação acabou. Começa então a pensar que a única saída para o seu tormento é o suicídio. Na sua confusão mental e emocional, envia um telegrama a Vronsky para que este venha imediatamente vê-la, enquanto faz uma visita a Dolly e a Kitty. Sem uma resposta rápida do mensageiro, a sua confusão e raiva aumentam e num impulso, acaba por se atirar para a linha do comboio, entre carruagens em movimento, acontecimento paralelo ao início da história.

Parte 8

O lançamento do livro do meio-irmão de Levin, Serguei Ivanovich, é ignorado por leitores e críticos e este junta-se então ao movimento Pan-eslavista, gerando discussões com Levin. Stiva recebe a notícia que Karenin decidiu cuidar da filha de Anna com Vronsky, Annie. Um grupo de voluntários russos, incluindo Vronsky, partem da Rússia para lutar ao lado dos sérvios na revolta contra o governo turco.

Durante uma tempestade no campo, Levin sai desesperado em busca da esposa e filho que estavam no bosque e percebe então que ama os dois na mesma proporção. A família de Kitty fica preocupada pelo facto de um homem altruísta como Levin não ser um cristão e este vê-se numa nuvem de pensamentos sobre a existência de Deus, que termina na sua conversão depois de uma discussão com um camponês. Passa então a acreditar em tudo o que lhe ensinaram sobre o cristianismo e abandona as dúvidas de fé. Percebe ainda que apesar da sua fé em Deus, é humano e vai continuar a cometer erros.


Temas

 

Anna Karenina aborda os temas da hipocrisia, inveja, fé, fidelidade, família, casamento, sociedade, progresso, desejo carnal, paixão e o contraste entre a vida no campo e a vida na cidade. Diz-se que Tolstoi não entra em moralismos no texto, mas deixa fluir naturalmente «o modo de vida russo» e que a mensagem chave do livro é «ninguém pode construir a felicidade sobre a dor dos outros».

Levin é considerado um retrato semi-biográfico da crença e dos eventos da vida de Tolstoi. O primeiro nome do escritor é Lev e Levin é um derivado de Lev.

 

 

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.