
© Bernardo Martins
Acordei de manhã cedo.
Com tempo, energia e finanças limitadas, optei por seguir rigorosamente as sugestões do guia de viagem.
Submergi no metro londrino – conhecido como The Tube – o mais antigo do mundo. Começou a ser construído em 1863 e hoje totaliza 13 linhas.
Apesar de imenso e complexo nas suas partes mais antigas, está muito bem sinalizado e dificilmente nos perdemos se estivermos atentos. Contudo, serve uma cidade de oito milhões de pessoas, pelo que é um dos meios de transporte mais repletos da Europa. A evitar em hora de ponta.
A manhã foi passada junto de locais incontornáveis como o Big Ben, o Palácio de Westminster e a Abadia, tudo em redor do Tamisa. Espreitei depois a estátua de Churchill e fugi do omnipresente rebuliço no St. James Park, epíteto do jardim inglês, com lagos, intermináveis linhas de árvores e muita vida animal, sobretudo pelicanos e esquilos, sempre prontos para se aproximarem a troco de uma guloseima.
Observo ao longe o monótono Palácio de Buckingham antes de perder por alguns minutos a mudança da guarda junto aos edifícios militares. Prossigo pela Whitehall, uma das principais avenidas na zona, até desembocar junto da estátua do almirante Nélson, em Trafalgar Square. Mergulho em todos aqueles nomes e referências, donos da sua parcela de mito, com a sensação que a lenda é sempre maior que a realidade. Quando se diz «Trafalgar Square» parece dizer-se mais do que aquela praça circular poluída pelo trânsito e enxameada de turistas de máquina em punho.
Mas é apenas isso.
Almoço num local original, de seu nome In The Crypt, transformado em restaurante depois de ter sido exactamente o que nome indica: uma cripta. Refeitas as energias, continuo a subida até Covent Garden, um dos mercados mais famosos de sempre. A panóplia de histórias é grande, mas a imagem mais presente que tenho transforma-o em cenário de um filme de Hitchcock: Frenzy (Perigo na Noite).
Com isto em mente, acabo por percorrê-lo debaixo de uma alegria infantil. Hoje, longe de ser um mercado tradicional, foi transformado num espaço de lojas variadas e cafés, onde se podem escutar concertos ao vivo.
Guardadas as memórias, prossigo rapidamente até chegar ao Museu Britânico.
Sejamos claros: por mais salas que tenha, nunca será o Louvre. Está no entanto repleto de pontos de interesse, destacando-se acima de todos os outros a Pedra da Roseta.
Como é comum nestes locais, as horas passam num sopro e quando volto a ver a luz do dia encontro na verdade a luz nocturna, sendo debaixo desta que regresso ao centro para me perder junto ao Soho e a Chinatown, dois bairros famosos.
O primeiro dia é suficiente para desmistificar dois lugares comuns (ou em alternativa, para celebrar a extraordinária sorte que tive): A meteorologia e a alimentação. Vilipendiadas uma e outra ao longo de décadas, acabei por experimentar o contrário do que costumava ouvir. Os dias passaram-se debaixo de um sol que raras vezes encontrei em Dublin, por exemplo, e cada uma das refeições que fiz deixou-me água na boca para a seguinte.
Não me aventurei, desta vez, na noite londrina. Regressei cedo ao hotel, de modo a reunir energias para o segundo dia.