Viveu entre 1903 e 1972. Manteve quatro nacionalidades ao longo da vida: alemã, herdada dos pais, francesa de nascimento, espanhola, depois de ir morar com pai em Valência, em 1914, e mexicana, por escolha própria, depois de aí se exilar da Guerra Civil Espanhola.
O pai, Friedrich Aub, era de origem alemã, nascido na Baviera e a mãe, Susana Mohrenwitz, francesa, com raízes judio-alemãs. Proveniente de uma família de homens de leis, o pai de Max quebrou a tradição e em 1898 já viajava pela Europa, sobretudo por Espanha, como representante comercial. Lidava bem com o público e depois de trabalhar em casas comerciais, estabeleceu-se por conta própria. As viagens frequentes faziam dele uma figura quase sempre ausente.
A mãe vinha da alta burguesia e tinha queda para as artes e antiguidades. Max, nascido em Paris, cresceu rodeado de mulheres: a mãe, a irmã Magdalena e uma empregada doméstica. Passava os Verões numa aldeia rural, Montcornet. Cresceu num ambiente privilegiado e multilingue, praticando o alemão com a família e o francês na rua e no colégio. A nível religioso, foi educado como agnóstico.
Residiu em França até 1914, ano em que se mudou para Espanha, concretamente para Valência. O advento da I Guerra apanhou o pai de surpresa, uma vez que enquanto cidadão alemão estava proibido de regressar a França. Max aprendeu o castelhano num curtíssimo espaço de tempo, declarando mais tarde ser incapaz de escrever noutra língua. Em 1916 o pai solicitou a nacionalidade espanhola para toda a família, abdicando da alemã.
Em 1917, um confronto entre a Guarda Civil e alguns populares na praça Emilio Castelar, em Valência, impressionou-o de tal forma que passou a dedicar-se com interesse aos mais desfavorecidos. Leitor voraz, dotado de uma inteligência profunda, e pertencente a uma família abastada, optou no entanto por não seguir carreira académica, começando em vez disso a trabalhar, de modo a obter rapidamente a independência económica. Isto permitiu-lhe viajar muito, especialmente pela Catalunha. Neste período, começou a subscrever revistas francesas, italianas e belgas.
Em 1929, Aub aderiu ao PSOE, aliança que manteve até ao fim da vida.
Durante a Guerra Civil Espanhola, o governo republicano destacou-o como adido cultural em Paris, tendo sido ele o responsável, em 1936, por colocar em exibição o quadro «Guernica» de Picasso, na Exposição Internacional. Tratou também da organização do Segundo Congresso de Escritores Antifascistas. Depois disso, regressou a Espanha e em Agosto de 1937 foi nomeado secretário-geral do Conselho Central do Teatro. Em 1938, colaborou no filme de André Malraux «L’espoir», tendo escrito o argumento.
Em Fevereiro de 1939, foi obrigado a abandonar Espanha com a equipa de filmagens, e em 1940 o regime franquista tinha-o na lista dos principais opositores, tendo sido denunciado em Março desse ano como militante comunista ao governo francês de Vichy. Foi também marcado como «Judeu-Alemão» e como tal considerado espião/traidor. Foi feito prisioneiro durante um ano e depois deportado para um campo de trabalhos forçados na Argélia. Conseguiu escapar em 1942, com a ajuda de um guarda.
Pouco depois, conseguiu arranjar um bilhete de Casablanca para o México, sendo acompanhado mais tarde pela mulher e filhos. Uma vez instalado, associou-se a outros exilados espanhóis – incluindo Luis Buñuel, com quem formou uma camaradagem profissional. No México trabalhou como argumentista, jornalista e professor. Tornou-se cidadão mexicano em 1955, e aí residiu até à morte.
Fingindo ter colhido relatos de assassinos confessos no México, em França e em Espanha, o autor empurra as personagens ao limite da violência, criando um verdadeiro «manual para crimes compreensíveis», ou melhor dizendo, força-os a confessar as razões pelas quais cometeram tais crimes. Publicados pela primeira vez em 1957, estes micro-contos inauguram um humor negro sem paralelo na literatura de língua espanhola, com raízes em Goya e em Posadas, no barroco espanhol, no culto e na maneira de burlar a morte. Telegráficos, concisos, transformam um crime numa errata.
«Estava um frio danado.
Ele marcara-me encontro às sete e um quarto na esquina da Venustiano com a San Juan de Letran. Não faço parte dessas pessoas absurdas que adoram os relógios e os veneram como a divindades indestrutíveis. Sei perfeitamente que o tempo é elástico e que se nos dizem sete e um quarto, isso pode significar sete e meia. Aliás, tenho um espírito largo e sempre fui tolerante, um liberal da velha guarda. No entanto, há coisas que nem mesmo um liberal como eu poderá aceitar. Que eu chegue a horas aos encontros não obriga os outros a fazer o mesmo, mas isto só até certo ponto, e concordarão comigo que esse ponto existe.
Já disse que estava um frio horrível e que nesse cruzamento do diabo soprava uma ventania impossível. Sete e meia, vinte para as oito, oito horas. É perfeitamente lógico que me pergunte porque é que não me fui embora. É simples: sou um homem de palavra, um pouco antiquado, se prefere. Heitor tinha marcado encontro para as sete e um quarto, e nunca me teria passado pela cabeça faltar a esse encontro. Oito e um quarto, oito e vinte, oito e vinte e cinco, oito e meia. E Heitor, nada. Estava completamente gelado: doíam-me os pés, as mãos, o peito e os cabelos.
Na realidade, se tivesse vestido o meu sobretudo castanho, talvez isto não tivesse acontecido. Mas os desígnios do destino são misteriosos; asseguro-lhe que às três da tarde, quando saí de casa, nada fazia prever a ventania que se levantou. Vinte e cinco para as nove, vinte para as nove, um quarto para as nove. Estava enregelado e roxo. Ele chegou às dez para as nove: calmamente, sorridente e satisfeito. Trazia vestido o seu sobretudo cinzento e as luvas forradas. E assim, sem mais nem menos, saudou:
‘Olá! Estás bom?’
Não pude deixar de o fazer. Empurrei-o para debaixo do eléctrico que ia a passar».