Uma das histórias que entrou na memória colectiva da ilha ocorreu entre 1845 e 1852. Ficou conhecida como Irish Potatoe Famine (A Grande Fome). À época, a dieta de um terço dos habitantes estava, por diversas razões, fortemente suportada na batata, utilizada como argamassa de sobrevivência. Comunidades inteiras tinham como ração diária uma dose de batatas e um pouco de leite.
Quando uma doença, conhecida como flagelo da batata, começou a disseminar-se pelas culturas da ilha, a tragédia revelou-se iminente. Calcula-se que tenham morrido um milhão de pessoas devido à fome e doenças relacionadas, e o dobro tenha abandonado o país, emigrando para outras paragens, sobretudo os Estados Unidos. Tudo isto fez com que a população sofresse uma quebra de 25%, esvaziando inúmeras partes do território.
O que os livros da História que se quer oficial nem sempre relatam, é que o país continuava a produzir, apesar da praga, quantidades suficientes de batata para alimentar a totalidade da população. O que nem sempre se diz é que eram exportados entre 30 a 50 navios por dia, recheados de produção. Também se esconde que a política de aquisição/delimitação de terrenos, ausência voluntária dos proprietários da gerência e organização das terras e um conjunto de leis prejudiciais foram factores que tiveram um enorme peso no agravar da crise humanitária.
Observadores chegados de Inglaterra, confrontados com o silêncio fúnebre dos campos, propriedades abandonadas, planícies assombradas por espectros famintos, desnudados, esqueletos flutuantes que atravessavam o horizonte como fantasmas, terão dito: «Não são sequer humanos. Deveriam ser simplesmente exterminados».

Potato Famine Memorial – Dublin
Talvez por isso, os livros de História falhem ao não referirem que o ocorrido, na época, tratou-se nada menos do que uma tentativa, directa ou indirecta, de genocídio do povo irlandês.