
© Desmond McCarthy
No ocaso do século XIX, a costa sul de Dublin nada mais era do que natureza selvagem salpicada por meia dúzia de lugarejos piscatórios, punhados de casas atirados sobre o terreno como se saídos da mão de um semeador principiante.
Dun Laoghaire, cuja pronúncia aproximada é «dan liri», fazia parte desse restolho juntamente com Sandymount, Blackrock, Monkstown, Dalkey, Killiney e tantos outros espalhados pela linha costeira. O significado etimológico é «Forte de Laoghaire», sendo este um antigo rei irlandês que escolheu esta enseada para estabelecer uma fortificação, a partir da qual pudesse atacar as costas inglesas.
A influência monárquica tornou-se estrutural ao longo dos séculos, tanto que a visita do rei inglês Jorge IV, em 1821, foi factor decisivo para que a cidade passasse a ser designada por Kingstown. Assim ficou durante quase um século até a revolução irlandesa lhe devolver o título original.
O advento do porto e do caminho-de-ferro, nos princípios do século XX, impulsionaram o forte crescimento da zona, que passou a figurar no mapa como ponto de passagem obrigatório a nível comercial, financeiro e social. O porto trouxe consigo rotas comerciais e militares, facilidades de ligação com a Grã-Bretanha e a outro nível, actividades náuticas de cariz recreativo e desportivo. O caminho-de-ferro contribuiu para o sucesso comercial crescente e transformou o antigo lugarejo numa estância de fim-de-semana e férias, apetecível entre as classes altas que se exibiam no passeio marítimo, sempre que o clima o permitia.
Hoje em dia, a cidade conta com pouco mais de 20 mil habitantes, que procuram no subúrbio um espaço de descontracção e refúgio, perto da capital, mas suficientemente longe para dela se abstraírem, de olhos postos na linha costeira que desagua em Sandycove e na Martello Tower, por uma semana lar de James Joyce.