É um assunto que me tem visitado nas últimas conversas.
De como as palavras que formam os textos e os significados associados são muito mais do que aquilo que para elas planeámos.
Não se pode dizer que tenha descoberto nada, estão gastas as incontáveis declarações e testemunhos acerca das fugas que o texto executa a partir do momento em que é lido pelo Outro.
A exacta definição de publicar é «intervenção no espaço público» o que liberta o texto, ou qualquer outra manifestação artística, dos espartilhos pensados pelo autor. Já não é aquilo que foi projectado, é outra coisa, melhor ou pior, diferente, é muitas coisas em simultâneo, é do tamanho do número de interpretações que dela se façam.
Já experimentei o exemplo concreto. A partir de um pequeno texto, com o qual pretendia dizer qualquer coisa, foram feitas extrapolações que o redimensionaram de forma positiva, que o engrandeceram e melhoraram. Não era exactamente aquilo que eu pretendera dizer, mas pelos vistos, era também aquilo que eu dissera, sem querer e sem saber, pois a partir das minhas palavras, também aquilo tinha sido entendido.
Ou talvez não. Talvez eu tenha dito apenas aquilo que pobremente disse e tenha sido apenas o poder individual de cada palavra, muito maior que a minha débil interpretação, a destacar-se. Ou até a intuição do tal Outro, para ver ali o que eu não vira.
Portanto, dizemos o que dizemos, mas arriscamo-nos nesse fantástico mundo das palavras, a dizer muito mais coisas.
Exactamente como a descendência. São feitos dos nossos genes, sangue, carne, osso, ideias, pensamentos, educação, defeitos e virtudes, mas logo se tornam muito mais que isso. Não são apenas a combinação mecânica e dual entre metade de um progenitor e metade de outro. São tal e tudo o resto em que depois se transformam.