Uma das coisas que me atrasa é o hábito cada vez mais enraizado de ceder aos caprichos de uma leitura lenta. Não era difícil estabelecer uma meta mínima, um certo número de páginas diárias que me dessem alguma segurança acerca dos prazos concedidos a cada livro. Tentei fazê-lo muitas vezes e raras foram aquelas em que tive sucesso.
O problema é que quando estou a ler, não estou apenas a ler, nem sequer estou apenas a ler o livro que seguro entre as mãos. Ao simples exercício de caminhar por entre as frases, adiciono um processo visual para cada rua, cada personagem, cada evento. Não basta lê-lo, tenho de conseguir vê-lo o mais claramente possível na minha mente, o que me obriga demasiadas vezes a ler cada frase, cada parágrafo, mais do que uma vez. Com isto se perde tempo precioso. E não se trata apenas da imagem, mas também das vozes, das expressões, das manifestações da Natureza. Sou um adepto consumado do detalhe.
Não se fica, contudo, por aqui. Aquele livro traz-me outros livros, outras lembranças, não consigo ler o que está impresso sem pensar várias vezes sobre os significados ocultos. E mais ainda. Quantas personagens me recordam pessoas reais, quantos eventos reais reaparecem na memória graças àqueles eventos fictícios, que miscelânea de real/irreal se forma na mente.
Por tudo isto, já se vê, o avanço é lento e cheio de engulhos. Ler um livro é quase uma odisseia.
Quem me dera ser Ulisses.