Prefácio
É talvez apropriado que, ao contrário do que tem sido a regra noutros exemplos, não me recorde exactamente do contexto que me fez descobrir – e visionar – o filme em causa.
Não saberia sequer dizer se mo foi recomendado (e por quem) ou se me deparei com ele numa dessas esquinas feitas de acasos, que transformam a memória em bruma.
O que posso garantir é que o dito me saiu ao caminho no momento certo – qual espelho interior de súbito transmutado em obra de arte. Não conheço outro que exemplifique tão bem o luto de um relacionamento defunto.
Agora, quase uma década depois, é já possível visitá-lo como quem orna a campa com uma flor. O presente existe no exterior dessa reminiscência.
Porém, contivesse esse presente o finado relacionamento amoroso e este poderia ser bastante semelhante ao que nos é apresentado no enredo:
Um casal sem amor-próprio que à conta disso odeia ser amado pelo Outro – embora amando-o pela mesma razão.
É provável que, sozinho, tenha convivido com esta película de 1966 um par de vezes, antes de observá-la uma terceira, acompanhado.
Nunca mais verei este filme.
A lapidar reacção que obtive prova acima de qualquer dúvida o poder da obra.
Baseada numa peça de teatro de Ernest Lehman, foi levada à tela por Mike Nichols (primeiro filme da carreira) e protagonizada por um dos casais mais poderosos de Hollywood, na época: Richard Burton e Elizabeth Taylor.
Parelha problemática na ficção, eram-no igualmente na vida real – casaram e divorciaram-se duas vezes.
Há quem diga que Verdade e Fantasia nunca foram tão gémeas.
O Filme
O passado teatral do realizador Mike Nichols torna-se evidente logo na primeira sequência. Nela fica demonstrado que se pode dizer o máximo com recursos mínimos.
Um casal quarentão movimenta-se no interior de um campus universitário, abandonando o edifício onde (se depreende) teve lugar uma festa, rumo à residência.
O percurso é nocturno, deserto e outonal. O vento oscila as copas das árvores centenárias, polvilhando os carreiros de melancolia. O silêncio é violentado pelas gargalhadas da mulher, imunes aos pedidos de contenção do marido.
Ela é amarga e sardónica. Ele é passivo e desalentado.
Um palerma. És um palerma.
Isto basta para resumir o enredo, que é no fundo aquela união longa e torturada.
Notem: George é professor no departamento de História da Faculdade e casado com Martha, a filha do presidente da Universidade. Habitam o circuito fechado do meio académico mas sobretudo o circuito fechado – embora repleto de fendas – do relacionamento. Tal como ela explicará adiante, George não gere o departamento de História (muito menos se posiciona na linha da frente para suceder ao sogro na Presidência da instituição). Continua a ser o que começou por ser há 20 anos: um mero professor assalariado. Para ele, é confortável. Para ela, é decadente.
Não se pense, contudo, que Martha é livre de peculiaridades. Estas ficarão progressivamente visíveis ao longo da noite.
Cumprido o breve percurso (nunca uma analepse foi tão perfeita), a câmara foca o rosto de ambos ao abrirem a porta de casa. Reentram naquele espaço como quem cumpre pena.
What a dump (Que espelunca)!
Martha cita uma famosa frase da actriz Bette Davis, num filme cujo título lhes escapa.
(Obrigatório referir a curiosa ironia de ter sido esta a primeira escolha para o papel que acabará por ser de Elizabeth Taylor).
Ainda mais interessante é a descrição que esta faz do filme em causa, reproduzindo genericamente a existência que partilha com George (e também, especula-se, a que Elizabeth viveria com Richard, numa profusão de vasos comunicantes).
Martha descreve ao marido o enredo, mas não se recorda do título. Há motivos de interesse e análise em ambas as línguas, inglês e português, senão vejamos:
– Beyond the Forest (original) de King Vidor (1949): o casal habita uma residência situada nas fronteiras do campus, rodeada de arvoredo. O argumento preocupa-se em descobrir o que se esconde «para além da floresta» de ilusões e enganos.
– A Filha de Satanás (tradução): Contudo, até mesmo por acaso se estabeleceram paralelismos, já que Martha é filha do presidente da Universidade e ao longo da noite George refere-se ao sogro como «imortal», «com mais de 200 anos» e outras menções (sarcásticas) ao sobrenatural, aludindo a pai e filha.
Sem surpresa, George não se lembra – nem se esforça muito por recordar – o nome do dito filme, o que provoca nova torrente de agressões verbais por parte da mulher.
O que ela está de facto a «dizer» é: Reage.
O que ele está de facto a «dizer» é: Estou demasiado cansado.
No entanto, tempo para descansar é algo que não existe. Martha revela que convidou um casal – que conheceu na festa – para uma última bebida ali em casa.
O quê?
Convidados! Convidados!
Quem? Porquê?
Minudências, caro George, um professor de Matemática (parece) e a sua discreta mulher, «com feições de ratinho».
Na verdade, Nick é professor de Biologia, recém-chegado à Universidade com a sua jovem mulher, Honey.
Sugere-se ao leitor/espectador curioso que reflicta um momento sobre a vacuidade destes nomes: não estamos a falar de Nicholas, uma existência sólida e completa, mas do detalhe Nick, da vírgula Nick, do apontamento Nick. Nick, um niquinho de qualquer coisa. Um professor de Matemática ou Biologia ou lá o que é. Pouco importa, é jovem, é viril, é «outro» que não George.
E Honey. Honey, darling. Querida Honey, Melosa Honey, Honey mel, Querida, mel, querida. A mulher de. A Passiva. Parece.
Se há convidados, temos de arrumar a casa, a confusão que é esta casa-vida-mente-casa. Há uma pilha de loiça, lava-se um prato. Há um rasto de roupa espalhada, escondem-se as migalhas atrás de almofadas, copos dentro de gavetas, casacos atrás de móveis.
Não estamos a arrumar. A resolver. Estamos a fingir esconder.
Da mesma forma que o casal finge discutir-brincar-discutir. Não sabemos qual é qual, se no fundo estão bem mas fingem estar mal ou vice-versa. Talvez nem eles saibam.
E quando não sabem, ou preferem não saber, cantam. E questionam:
Quem tem medo de Virgínia Woolf?
Um possível equivalente em português para a graçola presunçosa seria, digamos:
Quem tem medo do Lobo Antunes?
Explicando:
A melodia que sustenta a frase é a da canção infantil tradicional: «Quem tem medo do lobo mau?».
Uma vez que Woolf (apelido da escritora Virgínia) é quase semelhante a wolf (lobo), alguém na festa se lembrou desta brincadeira «inteligente», provocando – segundo se percebe – o riso histérico de Martha e oferecendo ao casal (mais) um subterfúgio para o que ainda está por vir.
(Segundo alguns relatos, o autor da peça de teatro terá encontrado esta mesma anedota escrita nas paredes de um bar).
Por volta das 02h30 da madrugada, chegam os incautos convidados. Surpreendem parcialmente os anfitriões num ponto sensível da costumeira discussão nocturna, sobre tudo e sobre nada. Ao abrir-lhes a porta (depois de uma longa e inusitada espera), George provoca Martha, arrancando-lhe um:
Vai-te lixar
Que acaba por parecer dirigido ao jovem casal. Digamos que é um cartão-de-visita aceitável, ou então, pegando na frase promocional:
George e Martha convidam-no cordialmente para um serão de diversão e jogos.
Quem quiser participar, pode seguir o que resta da crónica por sua conta e risco.
O álcool começa a jorrar das garrafas, pois não há incêndio que prescinda de combustível.
Se existiu um breve período durante o qual Nick e Honey se convenceram de que aquilo ia ser uma noite normal, numa residência normal, onde se poderia ter um diálogo normal com anfitriões normais, bem…foi chão que deu uvas.
Em Roma sê romano, portanto tudo aquilo começa a ganhar o interesse de uma ópera bufa, de uma peça de teatro – curioso – da qual não conseguem desinteressar-se.
Fica evidente que George e Martha são (na peça ou fora dela) inimigos mortais, em busca de aliados temporários. Adivinharam.
Martha procura em Nick juventude, virilidade e futuro. Reparem, de certa forma um professor de Matemática (Biologia) pode sempre candidatar-se a administrador do departamento de História (Biologia).
Por outro lado, Honey, querida, bebe whisky como se fosse mel e mais cedo ou mais tarde o lobo mau, digo, o enjoo, digo, o medo, digo, o enjoo irá obrigá-la a recolher aos lavabos.
Antes porém, temos diversão e jogos. Outros nomes poderiam ser humilhação, violência verbal e psicológica, escândalo, histerismo, mas fiquemos por diversão e jogos.
Por exemplo:
O pai de Martha desafiou (em tempos) o genro para um combate de boxe, já depois de se convencer que George não lhe seguiria as pisadas no sucesso académico. Este não estava de facto interessado no simulacro, mas Martha aproveita, calça ela própria as luvas e atira-lhe um golpe. Este, passivo ou surpreendido, tropeça e cai.
Esta é a versão dela, ele não confirma nem desmente, faz parte do jogo nunca sabermos a verdade.
Por exemplo:
Ainda enquanto Martha partilha com os outros o episódio, regado a gargalhadas, George sai da sala, desloca-se à despensa e do fundo da prateleira retira uma arma. Regressa, ainda com os restantes envoltos em goles de whisky e detalhes cruéis. Aponta a espingarda à cabeça da mulher. Honey grita. Nick grita. Martha vira-se, observa-o e por um segundo acredita. George dispara. O gatilho impulsiona uma sombrinha, que se abre. Tratava-se de um brinquedo. Uma piada. Certo?
«Ele não confirma nem desmente, faz parte do jogo nunca sabermos a verdade».
Todos os jogos, por mais estranhos que sejam, possuem regras. Estas podem ser cumpridas ou quebradas, ponderadas ou não as devidas consequências.
«Não lhes fales no nosso filho».
«Sabiam que temos um filho? Amanhã faz dezasseis anos e vem passar o aniversário a casa».
Notem, «amanhã» é «Sunday», «sun day», «son day», dia do filho.
Celebremos então. Com uma batalha verbal, pode ser? Talvez partir qualquer coisa?
Espero que essa garrafa não estivesse cheia, não ganhas o suficiente para a desperdiçar.
O melhor é irmos embora.
Disparate. Vamos dançar. Vamos dançar, Honey, querida, mel? Diz-me, quem tem medo de Virgínia Woolf?
Vou vomitar.
Claro que vais. Mais tarde descobriremos porquê.
Por agora, Martha vai indicar os lavabos à visita e de caminho fazer café, caso alguém pense em dormir no meio das festividades. George e Nick buscam o ar puro e tranquilo do exterior. Na árvore que domina o relvado oscila um baloiço. É lá que o diálogo entre ambos prossegue.
De certa forma, George (ao contrário da reputação) é perito em combates de boxe, mas daqueles que dispensam o uso de luvas.
Nick admite – ou a isso é levado – que o casamento com Honey se deve mais ao poder do pai desta (financeiro ou social?) do que à paixão. Ah, isso e uma gravidez ectópica.
Como?
A barriga dela inchou.
E depois?
Depois desinchou.
Estou a ver.
Portanto, se o plano mestre de Nick é subir deitado – ou de braço dado com as pessoas certas – podemos concluir que este se afigura uma ameaça em potência, certo George? Afinal, és casado com a filha infeliz do presidente da Universidade.
Quem te avisa teu amigo é. Não te metas nesse abismo.
Não se preocupe, estamos a brincar.
Estamos?
Estamos, Nick? Então que tal isto como brincadeira?
Era uma vez um menino que a certa altura, sem querer, matou a mãe com um tiro (lembram-se de qualquer coisa assim ao longo da noite?). Era uma vez um menino que a certa altura foi com o pai a um bar local e divertiu todos os presentes durante horas a fio porque acidentalmente pediu uma dose de «bergin» em vez de «bourbon» (lembram-se de qualquer coisa assim ao longo da noite?). Era uma vez um menino que a certa altura estava num carro com o pai e ao desviar-se de um porco-espinho que atravessava a estrada, embate numa árvore. Ao contrário do progenitor, sobrevive, mas sendo informado do sucedido quando sai do coma, enlouquece, é internado e nunca mais pronuncia palavra.
Isto pode ou não ser verdade, pode ou não ser uma alegoria, pode ou não ser outra coisa.
«Ele não confirma nem desmente, faz parte do jogo nunca sabermos a verdade».
Quem está cansado? Quem quer café? Quem quer continuar a noite de diversão e jogos?
Enfia isso onde o sol não entra.
Muito bem, Nick. Já vi que preferem ir embora. Proposta: vamos levá-los de carro. Conduz o George.
Notem que George já bebeu um bocadinho a mais, logo conduz de forma mais brusca. Ou talvez George não seja grande condutor, no fundo, portanto esperemos que nenhum porco-espinho decida atravessar a estrada a estas horas, sabe-se lá o que podia acontecer.
Martha, que recuperou as baterias durante a trégua, oleou as armas:
Sabem que o «Georgie-boy» também escreve? Fez uma linda história sobre um menino que matou os pais.
Espera aí…
Sim Nick, vais ter de esperar. Vais ter de esperar porque a tua Honey quer dançar. O que é aquilo? Um bar à beira da estrada? Ora essa, é para já.
Que comecem as «danças». Martha não se faz rogada, afinal há quem diga que bons dançarinos são bons amantes, mais vale tirar isso a limpo de uma vez por todas.
Segundo George, este jogo específico tem um nome: «Agarra a Anfitriã».
Ele e Honey não morrem de amores pelo mesmo, pelo que Martha regressa ao clássico «Provoca o Patriarca».
É verdade. George tentou a carreira de escritor. Mas o meu pai proibiu-o de editar aqueles disparates. Jamais um genro dele confessaria em livro um passado assim.
Quer dizer que é verdade? Ele é o…
«Ele não confirma nem desmente, faz parte do jogo nunca sabermos a verdade».
Tem, contudo, um terceiro jogo na manga. O seu preferido. Por uma vez podemos jogar um que lhe agrada: «Confronta os Convidados».
O que eu não te contei, querida, é que comecei a trabalhar num segundo livro. É uma história muito interessante, acerca de um jovem casal de província. O marido arranjou um emprego numa boa universidade.
Adoro estas histórias.
Claro que sim, Honey, vais ver como gostas. Então, o marido é um jovem professor universitário, casado com uma mulher discreta mas rica.
Essa história é-me familiar.
Pois claro, querida, pois claro que é. Para além disso, também se casaram porque ela teve uma gravidez ectópica.
O quê?
Exacto. Como era? Ah sim, «a barriga inchou e depois desinchou».
Contaste-lhe!
Agora foste longe demais.
Qual, quê.
Vou-me vingar de si.
Foste mesmo longe demais, George.
O interessante nestas histórias é descobrir-lhes as metáforas. Assim, um ratinho chamado Honey que bebe whisky como mel, arrisca-se a passar metade do tempo nos lavabos. Mais ainda se substituirmos o álcool por outra coisa cujas consequências podem redundar em enjoos e barrigas que «desincham».
Mas claro, isto é apenas um jogo. Uma história. Uma brincadeira.
Nick corre atrás de Honey, decidindo abdicar da boleia. George e Martha confrontam-se no parque de estacionamento. A escalada redunda numa declaração de «guerra total».
Esta abandona o marido, apodera-se do carro e recolhe o jovem casal, de regresso à residência. George fica entregue ao vazio, vendo-se obrigado a caminhar.
Ao chegar a casa, algum tempo depois, depara-se com o veículo abandonado no relvado. Honey ficou esquecida no banco traseiro, entregue a um sono ébrio. Tudo indica que Martha e Nick descobriram o caminho do quarto.
Será isto suficiente para que «Georgie-boy» deixe de ser passivo? Ou foram demasiadas situações destas que assim o tornaram? Ou saberá ele que a «passividade» é apenas o escudo que o protege de (mais) uma tragédia?
Bem, há sempre espaço para arrombar uma porta. Neste caso a da entrada. Tal faz soar um espanta-espíritos (a ironia).
Quebrada a barreira, talvez seja útil abordar Honey, que despertou com o barulho «dos sinos». Ou das trombetas, arriscamos.
Por entre as incoerências e divagações de ambos, George confirma as razões para os enjoos desta. Essa morte «real» inspira-o a criar uma morte «fictícia». Aguardem.
Aguardem, porque alguém falhou no exame. Neste caso, Nick. Convém explicar-lhe que para conseguir subir deitado, terá de conseguir fazer algo mais do que dormir.
Para Martha, se este não confirma a virilidade anunciada, não passa de outro George (não se esqueçam disso). Se é outro George, há que tratá-lo exactamente da mesma forma: com (verdadeiro) desprezo.
Recordem a frase que resume o filme: Um casal sem amor-próprio que à conta disso odeia ser amado pelo Outro – embora amando-o pela mesma razão.
Ou seja:
George e Martha odeiam-se a si próprios, por diferentes razões. Logo, não concebem que alguém (neste caso o outro) os ame. Por um lado, amam-se precisamente por isso. Por serem amados pelo parceiro. Por outro, é preciso castigar quem se atreve a gostar de nós. É preciso odiar quem não nos odeia.
Concluindo, o desprezo de Martha para com George é (parcialmente) falso. Contudo, o desprezo de Martha para com Nick – que não a ama nem é por ela amado – é verdadeiro.
Eis que George regressa das trevas (literais e virtuais) com um ramo de bocas-de-lobo (familiar?).
Flores. Flores para os mortos.
(Fazem uma paródia a outra peça de teatro – «Um Eléctrico Chamado Desejo»).
Para que existam flores para mortos, é necessário que exista um morto.
Quem morreu? Bem…
Lembrem-se. «Amanhã» é Domingo. «Sunday». «Son day».
Alguns ter-se-ão interrogado sobre a razão pela qual um rapaz de 16 anos está fora de casa. Depende de a quem perguntam.
Se falarem com Martha, este foi levado à fuga para que a sua vida «não fosse arruinada pelo pai». Presume-se, tal como aconteceu com ela.
Se falarem com George, este foi levado à fuga devido à obsessão doentia da mãe, que insistia até em «dar-lhe banho», num reflexo do interesse desta por «homens mais novos».
No entanto, pouco importa. George recebeu uma notícia grave. Depois de concluir a teatral leitura de um texto religioso – que remete para um exorcismo – anuncia de forma bizarra que o filho morreu «num acidente rodoviário».
O desespero de Martha e o seu pedido surreal para que o marido «não mate o filho de ambos» forçam Nick a entender o que aparentemente se passa (Honey, de uma forma subliminar e à conta da parcial confissão sobre o aborto, já o terá entendido):
George e Martha nunca tiveram filhos e em determinado momento (há 16 anos presume-se), decidiram conceber uma criança fictícia cujos múltiplos detalhes foram sendo aprimorados com a ajuda da imaginação de ambos.
O que é verdade? O que é de facto verdade ao longo daquela noite ou daquelas vidas? Como sempre…
«…faz parte do jogo nunca sabermos a verdade».
Acho que estou a perceber. – Clama Nick, num tom de certa forma chocado.
Estarás Nick? E se tu próprio fosses um produto da imaginação? E se Honey o fosse? E se, no diálogo espaço-tempo, o casal George e Martha tivesse imaginado o casal Nick e Honey? E se estes fosse uma projecção do passado dos primeiros? Ou George e Martha uma projecção do futuro dos segundos?
– Um professor de Matemática, perdão, Biologia, perdão, História que casa com uma rapariga pelo poder e dinheiro do pai;
– Uma rapariga que, à conta de um problema com o álcool (por exemplo) engravida mas perde os filhos constantemente (ou aborta-os a dada altura, contexto que a impede mais tarde de engravidar, quando de facto o deseja).
Dali a 20 anos, serão Nick e Honey os novos George e Martha? Foram George e Martha Nick e Honey, há 20 anos?
Quem sabe?
Cumpridas as festividades, a parelha mais jovem é cordialmente dispensada. A noite terminou. O sol nasce.
Agora, a única pergunta que importa é:
Quem tem medo de Virgínia Woolf? Quem tem medo do real? Quem tem medo da Vida?
I am, George. I am.