Autores Argentinos – Ernesto Sábato

0f1c26e5247b7845f9aa56fdb46f76acViveu entre 1911 e 2011. Foi um romancista, ensaísta e artista plástico argentino.

Foi o vencedor do Prémio Cervantes de Literatura (1984) e um dos maiores autores argentinos do século XX.

Nasceu na província de Buenos Aires, o décimo de onze filhos.

Em 1924 saiu da Escola primária de Rojas. Realizou os estudos secundários no Colégio Nacional de La Plata, que concluiu em 1928. No ano de 1929 entrou na Faculdade de Ciências Físico-Matemáticas da Universidade Nacional de La Plata.

Foi um militante activo do movimento de reforma universitária, fundando o Grupo Insurrexit em 1933, de tendência comunista. Ainda no ano de 1933, foi eleito Secretário-geral da Juventude Comunista. Num curso conheceu Matilde Kusminsky Richter, uma estudante de 17 anos que abandonou a casa dos pais para viver com ele.

Em 1934 viajou até Bruxelas como delegado do Partido Comunista ao Congresso contra o Fascismo e a Guerra. Devido aos inconvenientes reinantes em Moscovo, abandonou o Congresso e fugiu para Paris. Regressou a Buenos Aires em 1936 e casou-se com Matilde.

Em 1938 obteve um Doutoramento em Física na Universidade Nacional de La Plata. Foi-lhe depois concedida uma bolsa anual para realizar trabalhos de investigação sobre radiação atómica no Laboratório Curie, em Paris. Nasce o seu primeiro filho. Em 1939 foi transferido para o Massachusetts Institute of Technology (MIT), deixando Paris antes da Segunda Guerra Mundial.

Voltou à Argentina em 1940 para ser professor na Universidade de Buenos Aires. Em 1943, devido a uma crise existencial, decide afastar-se definitivamente da área científica, para se dedicar por completo à literatura e à pintura.

No final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, nasce o seu segundo filho, Mário Sábato, que será um conhecido realizador de cinema.

Em 1945, publica o seu primeiro livro, Nós e o Universo, uma série de artigos filosóficos nos quais critica a aparente neutralidade moral da ciência e alerta sobre os processos de desumanização nas sociedades tecnológicas. Com o tempo, vai construindo uma postura libertária.

O ano de 1948 marca o início do repentino prestígio de Sábato: publica o seu primeiro romance, O Túnel, caracterizado por uma polida construção psicológica de personagens e apurada narrativa. Enraizada no Existencialismo, uma corrente filosófica de enorme difusão no pós-guerra, a obra recebeu críticas entusiastas de Albert Camus o que fez com que fosse traduzida para o francês, pela Gallimard.

Em 1961 publica Sobre Heróis e Tumbas, que foi considerado o melhor romance argentino do século XX. Trata-se de uma obra complexa, na qual a história de decadência de uma família aristocrática se intercala com um comovedor relato intimista sobre a morte do General Juan Lavalle, herói da independência argentina.

«Quando decidi usá-lo no meu romance, não era de modo algum o desejo de exaltar Lavalle, nem de justificar o fuzilamento de outro grande patriota como foi Dorrego, mas sim o de conseguir através da linguagem poética o que jamais se consegue através de documentos de partidários e inimigos; tentar penetrar nesse coração que abriga o amor e o ódio, as grandes paixões e as infinitas contradições do ser humano em todos os tempos e circunstâncias, o que só se consegue através do que se deve chamar de poesia, não no sentido estreito e equivocado que é dado no nosso tempo a essa palavra, mas sim no seu mais profundo e primordial significado».

O romance inclui também o famoso Informe sobre Cegos que por vezes foi publicado como peça separada, e que serviu de base para um filme. Trata-se de um texto tortuoso que coloca o protagonista num ambiente infernal e opressivo; uma história de pesadelo e paranóia que atravessa os sótãos e subterrâneos de Buenos Aires.

No ano de 1975 recebeu o Prémio de Consagração Nacional da Argentina. Dois anos mais tarde recebeu na Itália o Prémio Médicis.

A pedido do presidente Raúl Alfonsín, presidiu entre 1983 e 1984 à CONADEP (Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas) cuja investigação, publicada no livro Nunca Más, abriu as portas para o julgamento dos militares da ditadura argentina.

Em 1984, recebeu o Prémio Cervantes. Em 1987 foi homenageado em França como Comandante da Legião de Honra. Dois anos mais tarde, em 1989, recebeu em Israel o Prémio Jerusalém. No mesmo ano recebeu um Doutoramento Honoris Causa da Universidade de Múrcia, em Espanha.

No ano de 1991 recebeu um Doutoramento Honoris Causa da Universidade de Rosário, na Argentina e em 1993 o equivalente da Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, Brasil. A mesma honra foi-lhe outorgada pela Universidade de Turim, em Itália, em 1995, ano em que morreu o seu filho mais velho num acidente de viação.

Faleceu na madrugada de 30 de Abril de 2011, aos 99 anos de idade.


 

9789896411015Romance negro, de cariz psicológico, acerca de um perturbado pintor argentino, Juan Pablo Castel, e a sua obsessão com uma mulher. O título simboliza o isolamento emocional e físico de Castel em relação à sociedade, que se torna cada vez mais evidente à medida que este inicia, a partir da cadeia, o relato dos acontecimentos que o levaram a assassinar a única pessoa no mundo capaz de compreendê-lo. Marcado por temas existencialistas, a obra recebeu apoio entusiástico por parte de Albert Camus e Graham Greene, após a publicação em 1948.

A história inicia-se com a apresentação do protagonista, «o pintor que matou Maria Iribarne», antes de mergulhar nas circunstâncias que conduziram ao primeiro encontro entre os dois. A obsessão de Castel começa no Outono de 1946 quando, durante uma exposição do seu trabalho, este repara numa mulher absolutamente focada num detalhe específico de um determinado quadro, intitulado «Maternidade».

Castel considera isto deveras significativo, pois trata-se de um detalhe a que ele próprio atribui grande relevância, mas que parece não ser notado por mais ninguém, com excepção de ambos.

Perdendo a oportunidade de abordá-la antes desta abandonar a exposição, passa os meses seguintes obcecado com tal mulher, maquinando inúmeras formas de conseguir encontrá-la na imensidão de Buenos Aires, e fantasiando as palavras que lhe diria.

Por fim, depois de a ver entrar num edifício que ele assume ser o seu local de trabalho, começa a reflectir na melhor forma de lhe mencionar o episódio do quadro. Aproxima-se e descobre que a mulher se chama Maria Iribarne. No seguimento da conversa sobre o quadro, combinam encontrar-se novamente. Mais tarde, conclui-se que ela é casada com um homem cego de nome Allende, e vive na Rua Posadas, na parte norte da cidade. No decurso dos diversos encontros, a relação começa a ser dominada pelos obsessivos interrogatórios do pintor acerca da vida dela com o marido, incluindo a razão pela qual ela não adoptou o sobrenome deste, ou mesmo questões mais íntimas, para as quais Maria não encontra respostas satisfatórias. A partir deste desencontro, as obsessões de Castel começam a provocar-lhe toda a espécie de dúvidas irracionais acerca do amor que ele imagina existir entre ambos.

Tal ansiedade aumenta ainda mais quando ele e Maria viajam até uma estância, uma propriedade no Mar da Prata, pertencente ao primo de Allende, Hunter. O ambiente, a presença e comportamento dos restantes familiares e o evidente desagrado de Hunter, alimentam a paranóia de Castel e obrigam-no a abandonar a casa, balbuciando uma despedida a um dos criados.

Enquanto aguarda num terminal a melhor altura para partir, Castel espera que Maria se dê conta da sua ausência e se junte a ele. Contudo, ela nunca chega a aparecer, o que confirma os seus piores receios. De regresso a Buenos Aires, Castel elabora uma carta intensa e dorida, acusando Maria de dormir com Hunter, gesto do qual se arrepende imediatamente, ainda que após enfiar o envelope no marco de correio. Tenta de forma irada, mas infrutífera, convencer o empregado dos correios a deter a carta, vendo-se forçado a concluir que esta está destinada a chegar.

Mais tarde, Castel consegue falar com Maria pelo telefone: esta aceita encontra-se, apesar de pouco convencida, dizendo-lhe que há pouco a ganhar e muito a perder com novo encontro. Quando ela não aparece em Buenos Aires, Castel conclui que Maria é afinal uma devassa que engana o marido, não só com ele, mas igualmente com Hunter e outros homens. Num acesso de raiva, desloca-se de carro até à estância. Decide aguardar no exterior que os convidados abandonem a casa. Enquanto isto, a ansiedade que o atormenta cresce ao ponto de se imaginar mergulhado num túnel, paralelo a outro onde está Maria, vendo-se ambos obrigados a atravessar a vida de forma paralela mas separada, sendo ele «um túnel isolado, escuro e solitário: o túnel onde passei toda a minha infância, juventude e vida».

Por fim, Castel entra na casa e aborda Maria no quarto, onde a acusa de o deixar sozinho no mundo, acabando por apunhalá-la mortalmente.

No seguimento do ataque, Castel irrompe pelo escritório de Allende, dizendo-lhe que matou Maria por esta ter um caso com Hunter, apenas para descobrir que Allende estava perfeitamente ciente da situação. Bradando repetidamente que Castel não passa de um idiota, Allende, de forma triste e ineficaz, tenta agredir Castel, que se retira, acabando depois por se entregar à Polícia.

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