Ao terceiro dia, obedecendo ao plano traçado, sigo para o lado oeste, rumo aos famosos armazéns Harrod’s e a Hyde Park.
Os primeiros são uma opulenta e quase ofensiva ostentação de consumo e riqueza. Num edifício de quatro andares, são incontáveis as lojas cujos produtos não estão sequer marcados com preço. O que significa, como se sabe, que para quem ali compra, o preço é um detalhe.
Existe contudo uma variedade imensa, para todas as bolsas e todos os gostos. Sou normalmente avesso a consumo, mas concedo que vale a pena dispensar uma ou duas horas no local.
De novo em busca de tranquilidade, atravesso rumo a Hyde Park. Apesar de mais célebre, não é melhor que St. James. Exibe, para quem estiver interessado, o Memorial a Diana de Gales, alguns pequenos museus e monumentos, mas é sobretudo um local para descanso, convívio e desporto.
Num dos extremos, deparo-me com o Albert Memorial, que antecede a descoberta do famoso Albert Hall, uma das salas de espectáculos mais famosas de todo o mundo. De novo a sensação de caminhar por entre a História.
A poucos passos, a Alameda dos Museus. Opto por almoçar nas galerias do Victoria&Albert, debaixo de claustros imponentes e música clássica tocada ao vivo. Experimento uma tarte inglesa, um dos pratos tradicionais, e fico agradavelmente surpreendido.
Depois de almoço, entro no Museu de História Natural. Está recheado de turistas, e não obtenho a calma suficiente para observar todos os detalhes que gostaria. Duvido que algum dia isso seja possível. O que vi, contudo, chega para considerá-lo o melhor museu de Londres.
De regresso, troco de roupa e mordisco qualquer coisa antes de me dirigir para um dos pontos mais altos de toda a viagem. A famosa peça de teatro de Agatha Christie, The Mousetrap, em exibição há nada menos do que 62 anos consecutivos.
Uma das premissas do espectáculo passa por estabelecermos um «contrato» com os actores. Conhecida a solução da trama, não a poderemos revelar em nenhuma circunstância, de modo a manter vivo o interesse de quem ainda não viu.
Trata-se de um policial clássico, em que variados suspeitos são colocados num espaço fechado, onde naturalmente ocorrerá um crime, desenvolvendo-se o enredo em volta de quem será o culpado.
O espaço, St Martins Theatre, o cenário e os actores fazem justiça ao argumento. A conclusão e as justificações para essa conclusão são oferecidas com demasiada rapidez, talvez para não nos debruçarmos completamente sobre as suas inconsistências. Depreende-se que está preparado para «surpreender» o público, «forçando-o» a falhar na escolha, ainda que esse exercício enfraqueça o clímax.
Sem energias para as profundezas do metro, regresso ao hotel no interior de um táxi inglês, por si só um acontecimento.