Não deve ser estranha a ideia, cada vez mais consolidada na minha percepção, de que os livros são exactamente como as pessoas.

Ainda que no fundo se saiba que os livros são muito melhores do que as pessoas. Têm o incontornável problema de só existirem porque as pessoas existem, pelo que carregam consigo algo de humano e é esse o seu único defeito.

É então assim que os identificamos. Aos livros, digo. Pelo traço humano que exibem.

Normalmente, os mais inteligentes, interessantes e importantes, são discretos. As capas são neutras, de cores modestas, a grafia respeita as hierarquias (título primeiro, autor depois), o papel é macio ao toque, a encadernação é resistente e consistente. Não há espaço para fotos, frases exclamativas e coloração berrante. São seguros e por isso tranquilos. Não gritam pelo leitor, sorriem enquanto aguardam que este os descubra. Não estão nas montras, nem nas secções comerciais. Estão no seu lugar.

Depois, existem outros. Possuem tudo o que não faz falta porque carecem da única coisa que interessa. Os objectivos são os mais diversos, sem que nenhum seja o correto. São coloridos, barulhentos, espalhafatosos, pedantes, impositivos, trapalhões, irrequietos, impertinentes e verdade seja dita, completamente inúteis. Chegam em paletes, em busca de atenção, falam muito, anunciam imenso, cumprimentam meio mundo, pedem autógrafos. Que linda capa, que belas letras, que cor estrondosa, que prefácio apelativo, que sucesso fantástico. Entram nos tops de vendas, como os artistas pop e duram o tempo de uma estação. Enriquecidos de vazios, dão lugar à nova fornada de pseudo talentos, atravessando o panorama como fogo de artifício.

Exactamente como as pessoas. As que perduram e as outras.