Deparei-me há tempos com as questões existenciais de uma personagem literária.
«Que mistério é esse da morte?» – Interrogava-se. – «Que milagre é esse que termina com a vida apenas porque aperto com mais força o pescoço de alguém? O que terá ela sentido? Para onde foi aquela pessoa?».
Desde sempre, a tendência irracional passa pela rejeição. Uma das irresolúveis dificuldades da mente passa pela incapacidade de processar o desaparecimento. A ausência de si.
Por alguma razão proliferam ainda hoje as histórias de fantasmas, espíritos e outras «presenças». O que serão estas senão «formas de vida» que pretendem provar a existência de outras dimensões, de outros planos, onde existe espaço para os que «deixam este mundo?».
Respondendo ao tal personagem, «aquela pessoa» teria ido para outro plano, mas ainda assim existiria, com outra forma que não a física. Aquela parte que chamamos de «Eu» seria indestrutível. O mais racional e científico dos cérebros parece não resistir a guardar na última das gavetas essa hesitação. Essa vertigem de assimilar com mais facilidade o conceito de «dimensão paralela» do que o simples vácuo. Sempre «algo» em detrimento de «nada».
Ainda não estive em nenhuma situação terminal, pelo menos conscientemente. Passei por situações estranhas cuja proximidade do fim é imensurável. Posso ter estado mais longe ou mais próximo do que imagino. Nunca se saberá.
Não demorei a recuperar, mas nunca me esqueci daqueles instantes. Aquele relâmpago de inconsciência, de «existo-não existo».
Provou-me, de certa forma, a terrível simplicidade das coisas.
E a ausência de sentido.