Vinte e três de Setembro de 2013. Morre António Ramos Rosa, poeta algarvio.
Tinha 88 anos e uma infecção respiratória. Combinação implacável. Está reservada para um dia a leitura da sua antologia poética. A morte também leva os poetas, diria até, sobretudo os poetas. Leva-os em vida, porque como alguém disse após a notícia do seu desaparecimento, «os poetas nunca morrem».
Ramos Rosa publicou o primeiro livro aos 34 anos, «tardiamente», consideram. Outros publicam tão novos que são obrigados a usar pseudónimos, ou a renegar os impulsos de juventude. Como sempre não há consensos sobre o que é cedo ou tarde. Nem sobre o que é bom ou mau. As combinações entre estes quatro conceitos são variáveis e potencialmente perigosas.
Tenho coisas na gaveta que ainda não sabem se são prematuras ou tardias, muito menos boas ou más. Acaba por ser pouco relevante quando ou se verão a forma clássica de uma publicação. Interessa que estão feitas. Fizeram-se. Existem. Até, como Ramos Rosa, deixarem de existir.
Se ficam ou não na memória, não é para hoje.