Prefácio
A propósito de uma conversa com um velho conhecido, decidi recordar este polémico filme de 2002.
Foi realizado por Gaspar Noé e conta com Vincent Cassel e Mónica Bellucci como protagonistas. O burburinho em redor da película prendeu-se sobretudo com duas cenas icónicas: um assassinato e uma violação. Acabou por se tornar esse o centro das conversas, a pura atracção pelo choque, como quem olha repetidamente para um cão degolado ou um acidente rodoviário.
Tornou-se moda sair das salas a meio, não só entre o público mas também entre os críticos especializados, quase a fazer lembrar (numa escala e contexto diferentes) os primeiros tempos d’ «O Exorcista». No meio disto, alguns referiram também a opção de filmar os diversos quadros que constroem o todo de forma cronologicamente invertida, começando-se pelo final e recuando até ao início. Já tinha sido feito noutras ocasiões, como em «Memento», por exemplo.
Qualquer que seja a ordem, a história é de certa forma simples. Existe um casal e um amigo, tendo os homens trocado de papel (o amigo é ex-companheiro da mulher). Cassel e Bellucci, que na altura estavam também juntos fora da tela, mantêm uma relação instável, na qual ele empresta o sexo de qualidade e ela a maturidade emocional e financeira. Depreende-se ao longo do enredo que o amigo (cérebro que domina o corpo, o exacto oposto de Cassel) oferecia precisamente o contrário – uma estabilidade aborrecida que arrefeceu os sentimentos de Bellucci, atirando-a para os braços do másculo Cassel. Este trio prepara-se para ir a uma festa. Os episódios que nela ocorrem vão determinar a posterior odisseia tresloucada que redunda em catástrofe para todos.
Se a história fosse vista na ordem «correcta», teríamos uma vingança de série B (opinião de Pierre a dada altura). A mulher sai da festa, é atacada e violada, o par de homens descobre e precipita-se numa cavalgada doentia em busca do autor, desembocando, após várias peripécias violentas e desesperadas, num clube homossexual e sadomasoquista, onde descarregam a fúria no elemento errado.
Invertida a ordem, o filme transforma-se numa enorme interrogação moral e mesmo existencial.
O Filme
As primeiras imagens são feitas de vertigem, de um desequilíbrio total da câmara a navegar pelos prédios de tijolo escarlate, o único final/princípio possível para tudo o que se vai seguir/aconteceu.
Num desses prédios, estão dois homens de passado (e presente) questionável, que mantêm um diálogo de contornos niilistas e amorais (a fazer a espaços lembrar Sade e claramente apropriado para o Sad(e)omasoquismo que ocorre a poucos metros no referido clube), em que um deles lança de imediato a frase que serve de mote ao filme: «O Tempo Destrói Tudo». O outro responde, dizendo que não existem actos morais ou imorais, apenas actos. E que nunca, por mais hedionda que seja essa acção, se deve descurar o prazer que proporcionou. O primeiro replica que esteve preso porque violou a filha. Aqui está resumida e justificada toda a trama.
O barulho da rua invade o quarto, «puxando-nos» para o «Rectum», o dito clube para onde foram atraídos Marcus (Cassel) e Pierre (amigo). Do seu interior sai um Marcus em estado de choque, em maca e de braço ao peito, seguido de um Pierre quase catatónico mas fisicamente incólume (é importante reter este detalhe quando se sabe que a força de Marcus é o físico e a do amigo é a mente). São insultados pela multidão em fúria e depreende-se que o filósofo – mente a dominar o corpo – foi traído por esta ordem de existências e cometeu um acto que lhe custará uma pena de prisão de muitos anos.
Estruturalmente, tudo é irreversível. O idoso no quarto, a lamentar o acto sórdido que o levou à prisão, podia sem dificuldade ser um reflexo futuro do filósofo que acaba de entrar no carro celular. O que aconteceu é incorrigível, são acções que não podem ser desfeitas. Nesta fase, não sabemos o quê. Mas em breve se perceberá que o papel de macho dominante entre a parelha masculina troca de lugar inúmeras vezes na nossa percepção. Aqui, existe um Marcus domesticado e um Pierre selvagem. Avançando/recuando, percebe-se que ambos entraram no clube, então de papéis invertidos, com Marcus descontrolado e um filósofo a procurar evitar a tragédia iminente. Procuram um tipo cuja alcunha é «Ténia» (uma Ténia num bar chamado Rectum? Estás a brincar? – Desconfia Marcus a dada altura). Procuram-no porque julgam ser ele o autor de qualquer crime imperdoável. Marcus atravessa os corredores como se tivesse descido aos infernos, envolvido por uma luz escarlate agoniante, encontrando em cada sala um quadro pesado e cru, uma miríade de práticas mais ou menos chocantes. Interroga cada sombra que se atravessa no seu caminho, de uma forma deveras neurótica. «O Ténia? Conhecem o Ténia?». A dado momento, com uns berros e umas estaladas pelo meio, encontra-o sem disso se aperceber (tão-pouco nós, a não ser que nos encontremos já no ponto vantajoso de estarmos a ver o filme pela segunda vez). Iludido pelo comportamento de outro indivíduo próximo, ataca-o, esbracejando a sua vingança de forma patética, quase uma birra no lugar de uma luta. Logo dominado e imobilizado, grita enquanto lhe partem o braço e livra-se de coisas piores apenas porque o seu anjo da guarda abandona a filosofia a favor de um ataque assassino com um extintor (eis a primeira do par de cenas famosas). Neste ponto, o gesto repetido, monstruoso e animal parece-nos bastante gratuito, um exagero despropositado, pelo que só no decorrer da história se conseguirá identificar um princípio de justificação para tal desespero.
Como chegaram eles a isto? Pelos vistos, de táxi. Pierre, a aproximar-se do ponto de ruptura, ainda balbucia: «Vou visitar a Alex (Bellucci) ao hospital» e aqui temos a primeira pista sobre os motivos dos dois homens. Marcus responde erguendo um ferro e destruindo o pára-brisas do automóvel: «Tu vens comigo». De novo a inversão. Marcus selvagem, amigo a acenar os últimos fiapos de racionalidade.
A que propósito se encontram sozinhos num táxi? Novo avanço/recuo para se perceber que, alguns quilómetros atrás, entraram em conflito com o taxista asiático que os transportava, ao ponto deste ser atacado por Marcus, que o expulsa do veículo com a ajuda de gás pimenta. Pierre grita-lhe: «Se tivesses utilizado toda essa energia na relação com Alex, nada disto se tinha passado». E aqui outra pista, desta vez para nos informar que toda esta neurose de Marcus é alimentada por um sentimento de culpa deslocado. E também isso é agora irreversível. Pouco importa o quanto ele berre, destrua, ataque, corra. Nada vai trazer Alex de volta.
Novo quadro, com ambos a terem de se refugiar no táxi para escapar ao ataque concertado de um grupo de transsexuais, que se prostituem num túnel. Tudo porque na sua fúria abordaram um deles, de nome Guillermo, que supostamente terá estado presente no momento em que Alex foi atacada. É ele que nos revela a existência de «Ténia» e o local onde poderá estar: o «Rectum». Marcus, a espumar de raiva, puxa uma faca e provoca o ataque dos companheiros de Guillermo.
Mas afinal, como sabem eles de tudo isto? De que forma decidem dois elementos de classe média, perdidos entre filosofias existenciais e festas privadas, encetar uma vingança primitiva? A resposta está num par de chulos de bairro, pequenos criminosos das ruas que alegam «encontrar toda a gente antes da Polícia». Informam ainda que «mesmo preso, quem atacou Alex beneficiará de direitos humanos, cama, comida e roupa lavada, uma estadia ‘confortável’ na prisão. Eles, pelo contrário, oferecem ‘olho por olho, dente por dente’ e já que se fala em Direitos do Homem, gesticulam que a vingança é o maior de todos eles».
Também esta é uma decisão irreversível. No momento em que um apático Marcus acena positivamente à proposta dos delinquentes, deixa de ser o adulto-criança da festa, o burguês remediado do mundo convencional e abre em si a porta da Pré-História, a busca animal por sangue.
E contudo, poucos minutos antes, ainda dialogava com o amigo cerebral sobre quem tinha estragado a festa a quem, sobre quem amava Alex, sobre se ela devia ou não ter saído sozinha. É nesse instante que esta ascende das profundezas da passagem subterrânea, em coma, de rosto desfeito. Marcus, que na festa ignorara por completo a companheira, perdido entre danças epilépticas, misturas de bebidas, drogas, saltitando de mulher em mulher, abraçando uma num corredor, beijando outra na casa de banho, entra então em completa histeria. Atira-se sobre a maca, impotente para corrigir todos os pequenos nadas que redundaram naquela tragédia.
Aqui, cai de vez o arquétipo do cavaleiro andante que vai até ao fim do mundo para vingar a «morte» da amada. É antes alguém que quer sobretudo destruir aquela parte de si mesmo que permitiu que aquilo acontecesse. «Vais morrer», atira-lhe o desesperado amigo antes de entrarem no clube. «Não é problema teu», responde Marcus. Este sabe que errou, que merece ser castigado e mergulha naquele inferno como quem chega ao purgatório pós-morte.
O mesmo inferno que esperava Alex, no instante em que seguiu o conselho de uma transeunte e optou por atravessar a estrada pela passagem subterrânea, em vez de usar a passadeira movimentada e iluminada. No último instante, vislumbra-se a palavra «Passaje» escrita a vermelho vivo. É uma passagem metafísica, espiritual, uma bifurcação entre o antes e o depois na vida de Alex. Esta abandona o mundo no momento em que entra no túnel. A partir dali, está (estamos) noutra dimensão.
O escarlate que a rodeia é em tudo semelhante ao do clube onde mais tarde os homens se deslocam. Diferentes salas do mesmo Abismo. Numa curva, damos por fim de caras com «Ténia» (e aqui o espectador virgem perceberá pela primeira vez o erro de «casting» que foi cometido pelos outros no «Rectum». «Ténia» saiu/sairá ileso do ataque com o extintor), que aborda com rispidez Guillermo.
Assim que coloca os olhos em Alex, dispensa o outro com uns sopapos (minúsculo prelúdio do que se irá seguir) e corta a passagem à mulher (ela que procurava uma passagem mais rápida para casa). Eis então a outra (e mais forte) cena famosa, a da violação de Alex. São nove minutos exibidos (mas não filmados) num único take, com a intenção de emprestar maior realismo. Sabendo-se (através da inversão temporal) que «Ténia» é homossexual, não espanta a sua opção pela violação anal e algumas das frases que utiliza serão melhor compreendidas mais tarde. A forma como Alex procura reagir e defender-se, também ganhará outra dimensão e entendimento nas cenas seguintes. No final do acto, «Ténia» diz-lhe que «ainda não terminou» pois o que ele quer, com facilidade se depreende e ele próprio o confirma, é destruir o que se entende por belo e «demonstrar» que a beleza física não concede aos outros o direito de se acharem superiores. Podia perfeitamente ser uma frase atirada pelo inócuo (ou talvez não) filósofo numa das suas conversas intermináveis. E mais tarde se verá toda a negríssima ironia que esta analogia encerra, pois a violência de «Ténia» não é diferente da violência de Pierre, no clube.
Como já foi sugerido, Alex saiu sozinha por estar desiludida e zangada com Marcus. A festa, vista à posteriori, transforma-se numa piada sem graça e as tropelias juvenis dele não são mais do que patetices idiotas em comparação com o que foi visto no «Rectum». Alex passou a noite a dançar sozinha, alimentando as fantasias (supõe-se) platónicas do ex-companheiro, agora reduzido a «acompanhante de casal» e as luxúrias nada filosóficas de outros presentes, entre homens e mulheres. Mas o que seria uma imagem provocante e sensual do perfeito corpo de Alex, mal coberto por um vestido de seda quase transparente, é agora um alerta vermelho para o que todos nós sabemos que se vai passar. O principal desejo do espectador passa a ser cobri-la com um casaco em vez de despi-la.
Recordem: Marcus faz figura de idiota a noite inteira, experimentando cocaína na casa de banho, invadindo quartos onde se ameaçam orgias, enervando até ao limite Pierre, que o segue como um cão de guarda, esbracejando em agonia o seu desejo de evitar que Marcus traia objectivamente Alex.
É o que lhe resta. Tentar que o novo namorado dela, o ladrão da sua musa, lhe seja fiel.
Há agora que avaliar cada pequeno gesto, cada frase que se troca entre eles à luz do que sabemos que irá acontecer dali a poucas horas. Alex é resgatada pelo filósofo e bastam dois minutos para se perceber o que foi a relação entre eles e os motivos que a destruíram. Ela dança de forma cómoda e algo atrevida na frente dele, que permanece imóvel, desenquadrado e desconfortável, balbuciando-lhe que pare e anunciando que «não se recordava dela assim». Atira filosofia atrás de filosofia, defesa verbal atrás de defesa verbal, numa rede que ele próprio tece e na qual se aprisiona sem remissão. Falar é o que lhe sobra, pensar é o que lhe sobra e na tentativa de reduzir tudo a uma palavra, uma definição, não pode de forma alguma manter Alex do seu lado. Não pode pegar no orgânico e enclausurá-lo num dicionário de silogismos. Olha para ela como se esta fosse um poema, um quadro, algo bidimensional e nisso se perde, perdendo-a. Alex despede-se dele a vários níveis, os visíveis e os invisíveis. O modo como lhe diz «amanhã telefono-te» é de um cariz tão definitivo quanto possível.
Acabou de encontrar uma amiga, grávida. Subtilmente temos ali a cereja amarga daquele bolo já mais do que azedo. Marcus chega, aos pulinhos e aos gritinhos, sendo aqui que ela o corta pela raiz, olhando-o para além do corpo e percebendo que não pode ser aquele o pai do filho que espera.
Alguns poderão ver nisto e na promessa do telefonema a Pierre um regresso por parte de Alex ao velho parceiro, o aborrecido – mas fiável e «adulto» – amigo em vez do pujante mas irresponsável Marcus. E talvez aqui se encontre outro aspecto irreversível. Feita a primeira escolha, é agora tarde e o que vai acontecer no túnel inviabilizará para sempre essa correcção na trajectória. É no entanto mais provável que ela se tenha despedido de ambos, cada um à sua maneira.
Chegamos então ao par de cenas mais importante e revelador de todo o filme. Na conversa do metro que antecede a chegada à festa é estabelecida a psicologia do trio. De novo uma descida ao subsolo como premonição. Nessa premonição, uma outra, caixão dentro de caixão. Alex revela que está a ler um livro e que nele se diz que «tudo está determinado, sendo as pistas para tal os sonhos prenunciadores de cada um». Nesse sentido, mais uma forma de irreversibilidade.
Depois, dialogam, aí se descobrindo a estranha energia entre os três (casal com amigo que é também ex-namorado, agora tolerado). O filósofo procura saber compulsiva, intrusiva e insistentemente se Alex atingia o orgasmo quando estava com ele. O casal manobra as coisas, com mais ou menos humor, com mais ou menos paciência. Mais do que os paternalismos de Marcus, como quem cuida da casta inferior sabendo ser, ou julgando ser, o macho alfa e que o desespero mascarado de racionalismo do amigo enjeitado, o de facto relevante são as expressões e silêncios de Alex. Tanto se ri como tenta um diálogo (impossível) com o outro, como por fim desiste, com toda a tristeza do mundo naquele olhar. Aqui se estabelece acima de qualquer dúvida o lugar de cada um: o racional manietado (que pode a qualquer momento explodir com um extintor nas mãos) o impulsivo tolerante (que desperdiça toda a energia nas coisas erradas) e a Mulher, o ser mais puro (sem estar livre de vício) dos três.
Na festa se adivinhou que Alex tem muitas dimensões (sexuais e outras) e o passado que a transformou na mulher que é hoje não esteve limpo de pecados. Consegue, porém, estar acima de qualquer ser masculino, que por mais intelectual que pretenda ser acaba por estar controlado pelo órgão fálico – existem planos do pénis de Marcus e de «Ténia» – (como ela própria diz ao amigo, que se gaba como uma criança quando Alex lhe atira uma esmola, dizendo-lhe que este «se esforçava no campo sexual e lhe deu bons momentos» – sem confirmar o orgasmo).
A pedra de toque é a cena anterior/posterior, em casa dela. Aqui, depois de tudo descoberto, se entende na perfeição aquilo que os intervenientes ainda não sabem, mas ao qual estão condenados se quisermos acreditar na teoria determinista que Alex leu.
O casal passou a tarde na cama e nela dorme, como em qualquer fantasia adolescente. O corpo como símbolo da relação que os une, num quadro impossível de albergar o constrangido ex-namorado. Nunca aquele filósofo dormiu assim com Alex e nunca teve o sexo que ela acabou de ter com Marcus. O telefone toca (uma presença mental, racional e exterior mas ainda assim intrusiva na rotina dos dois). Pierre, é evidente, a anunciar qualquer detalhe que nem telefonema merecia. Marcus «cala-o», calando o telefone com uma almofada. Simbólico e sintomático.
Mexe os dedos e diz: «Tenho o braço dormente». E quem esteve atento, sabe que aquele é o braço que acabará partido pelo cotovelo.
Ela replica: «Tive um sonho horrível. Estava num túnel vermelho e de repente este partia-se em dois». Referência óbvia à famosa passagem onde será atacada e menos óbvia à gravidez que ainda não descobriu. Também se poderia pensar na violação de que é vítima quando «Ténia» zomba: «Estás a sangrar do traseiro?».
E logo aqui nos deparamos com a observação de Marcus: «Gostava de fazer anal contigo». Eis a negríssima ironia antes mencionada, pois é essa uma das frases-chave de «Ténia»: «O teu marido vai-te ao rabo? Sua burguesinha, aposto que nunca levaste nele».
«Pensei que me ias dizer algo romântico», queixa-se ela entre risos, mas já sabemos que as queixas de uma mulher são sempre sérias, ainda que estejam banhadas em casualidade. Prova final de que Marcus é um adulto-criança, pois afirma «não ser má ideia» se ela estiver grávida, mas logo depois lança a tirada do sexo anal, como um adolescente carente de experiências novas. Se mais exemplos fossem necessários, eis que este decide ir comprar cerveja para a festa e lhe pede a carteira. «Nunca tens dinheiro», responde ela. Tudo esclarecido.
Alex está de facto grávida e descobre-o por entre os corredores da casa que partilha com Marcus, cujas paredes e portas estão recheadas de cartazes de heróis da Marvel. Também aqui a referência à infantilidade masculina e à ilusão de grandeza, de «justiças» e vinganças épicas que Marcus arrasta pelas piores ruas da cidade, após descobrir o que aconteceu à mulher.
O final da película traz-nos a pior paz possível. Aquela que (sabemos nós) está apenas a anteceder a desgraça definitiva. E maior ainda por estamos conscientes que as respectivas vítimas estão completamente alheias ao que aí vem.
Alex primeiro no quarto, de mão na barriga, como que pressentindo a gravidez, tendo por cima da cabeça um cartaz da Criança-Estrela de 2001-Odisseia no Espaço, onde se lê a frase «A Última Viagem». E por fim num parque, rodeada de risos e alegria, num dia primaveril. A musa, a deusa, a Mulher, a ler o livro que lhe anuncia o fado.
O que é Irreversível, neste caso, é o destino.