Viveu entre 1931 e 2008. Foi escritora e tradutora.
Maria Gabriela Llansol Nunes da Cunha Rodrigues Joaquim, mais conhecida como Maria Gabriela Llansol, nasceu em Lisboa.
Formada em Direito, que jamais exerceu, começa a publicar em 1962. Entre 1965 e 1984 viveu exilada na Bélgica, onde deu início, com «O livro das comunidades», a uma obra com mais de 26 títulos e considerada inclassificável – como se lê na nota biográfica incluída numa edição brasileira de Um Falcão no Punho:
Na literatura portuguesa contemporânea, a obra de Maria Gabriela Llansol destaca-se com um perfil avesso à representação dominante no romance e a todas as formas de ortodoxia. Escrito sob o signo da ruptura, o seu texto estrutura-se de forma não linear e não sequencial, gerando frequentemente fulgurações, ou «cenas-fulgor», que traduzem a descontinuidade temporal, a preferência pelo fragmentário e a experiência da metamorfose e da vibração do Vivo, originalmente postas em linguagem.
A experiência do encontro com a escrita «llansoliana» e com a proposta que ela contém, reflete-se na grande quantidade de produções académicas, tais como trabalhos de conclusão de curso, dissertações de mestrado e teses doutorais dedicadas à obra «llansoliana». Também pela quantidade de filmes e outras produções artísticas, que nascem dessa experiência.
A sua escrita ocorre «nas margens da língua […] e fora do universo institucional e mediático da Literatura».
Segundo Augusto Joaquim, companheiro de escrita e de vida: «o mundo a que esta autora se refere é o nosso mundo e nele, aos problemas de fundo que o fazem tal como ele é: lugar por onde passamos à procura de amor e de sentido».
Llansol, em carta para Eduardo Prado Coelho:
Desde sempre me tenho norteado pelo princípio do que o texto precisa de encontrar, não o leitor abstracto, mas o leitor real, aquele a que, mais tarde, acabei por chamar legente – que não o tome nem por ficção, nem por verdade, mas por caminho transitável.
A escritora portuguesa de ascendência espanhola é considerada uma autora hermética e de difícil inteligibilidade para o leitor comum, embora seja apontada por muitos como um dos nomes mais inovadores e importantes da ficção portuguesa contemporânea.
A sua carreira literária iniciou-se com «Os Pregos na Erva» (1962), obra que inaugurou uma nova forma de escrever, embora estruturalmente se assemelhe a um livro de contos. Publicou de seguida «Depois de os Pregos na Erva» (1972), «O Livro das Comunidades» (1977), «A Restante Vida» (1983), «Na Casa de Julho e Agosto» (1984), «Causa Amante» (1984), «Contos do Mal Errante» (1986), «Da Sebe ao Ser» (1988), «Um Beijo Dado Mais Tarde» (1990), com evidentes ressonâncias autobiográficas, «Lisboaleipzig 1: O Encontro Inesperado do Diverso» (1994), «Lisboaleipzig 2: O Ensaio de Música» (1995), «Ardente Texto Joshua» (1998) e «Onde Vais Drama Poesia?» (2000).
No caso de Maria Gabriela Llansol dificilmente se podem aplicar designações tradicionais como conto, romance ou mesmo diário. Apesar de se detectarem elementos tradicionais da narrativa, as suas obras, mais do que narrativas, são conjuntos de pequenos quadros e meditações. A acção localiza-se geralmente na Alemanha ou em regiões próximas, nos primórdios do Renascimento, num ambiente fantástico em que à volta de Copérnico, Isabol ou Hadewijch se movimentam personagens inspirados em pensadores místicos como San Juan de la Cruz e Eckhart e filósofos como Nietzsche e Espinosa.
Os diários Um Falcão no Punho (1985), considerado o ponto de viragem no que toca à cada vez maior inteligibilidade da sua escrita, e «Finita» (1987), distinguem-se das obras ficcionais pela sua aparente ordenação cronológica e pelas reflexões sobre a concepção materialista em que se baseia a mística e a poética da autora. Um dos traços mais marcantes de toda a sua produção consiste na constante negação da escrita representativa, com inserção no texto de diferentes caracteres tipográficos, espaços em branco, traços que dividem o texto, perguntas de retórica, aspectos que contribuem para a sensação de estranheza que os seus textos provocam.
Levando às últimas consequências a criação de um universo pessoal que desde os anos 60 não tem paralelo na Literatura Portuguesa, a obra de Maria Gabriela Llansol faz estilhaçar as fronteiras entre o que designamos por ficção, diário, poesia, ensaio, memórias, etc.
Morreu, doente, em Março de 2008. Augusto, o marido, já tinha falecido. Viveu sempre sem filhos e com gatos.
«Confronto estes dias com o período final da minha adolescência em que sofria de uma ligeira doença de fadiga. Vinda do liceu, ou já em férias, só me restavam forças para, na imobilidade, ler, acrescentando-lhes o gozo ilícito do meu próprio corpo. Sob o signo da falta, eu gozava e lia e, agitando-me, sem violência, nesta contradição fundava a escrita».