Nasceu em 1944, em Lisboa. Romancista, contista, dramaturgo e argumentista.
Mário de Carvalho nasceu numa família oriunda do sul de Portugal. A reminiscência do Alentejo está presente em vários passos da sua obra, mas Lisboa é o lugar privilegiado dos seus textos. A sua prisão pela PIDE, polícia política salazarista, foi um choque duríssimo que o levaria desde muito cedo à resistência contra o Regime.
Já no Liceu Camões foi aluno de Mário Dionísio e colega de turma de João Aguiar e Eduardo Prado Coelho.
A partir das greves estudantis de 1961-1962, desenvolveu actividade nas associações académicas e cineclubes, até à sua licenciatura pela Faculdade de Direito de Lisboa.
Em 1971, devido à resistência clandestina antifascista (Partido Comunista Português) foi preso durante a instrução militar. Submetido a onze dias de privação do sono, acabou por cumprir catorze meses de prisão nas cadeias políticas de Caxias e Peniche.
Saiu ilegalmente de Portugal em 1973 e exilou-se em Lund, na Suécia, onde obteve asilo político já nas vésperas da Revolução de Abril.
Regressado a Portugal, após um agitado envolvimento político, dedicou-se a uma advocacia de causas, nomeadamente sindicais.
Integrou a direcção da Associação Portuguesa de Escritores, durante as presidências de David Mourão-Ferreira (1984-1986) e Óscar Lopes (1986-88).
Foi professor convidado da Escola Superior de Teatro e Cinema e da Escola Superior de Comunicação Social durante vários anos. Orientou pós-graduações em Escrita de Teatro na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e várias oficinas de Escrita de Ficção. É pai das escritoras Rita Taborda Duarte e Ana Margarida de Carvalho.
Em 1981 publicou «Contos da Sétima Esfera». Seguiram-se os «Casos do Beco das Sardinheiras», «O Livro Grande de Tebas», «Navio e Mariana» e «A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho».
«Os Alferes» apresenta de uma forma crua e desapiedada, não isenta de ironia, os dilemas dos jovens oficiais milicianos no teatro de uma guerra em que não acreditavam. Um dos contos foi adaptado duas vezes para Cinema e uma para Teatro.
«A Paixão do Conde de Fróis», logo traduzido para a prestigiada editora Gallimard, decorre no século XVIII, durante a Guerra dos Sete Anos. O seu livro mais reeditado, traduzido e premiado veio a ser o romance Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde que se transformou num clássico do género, embora o autor, numa epígrafe provocatória, tenha garantido não se tratar de um romance histórico. Na sequência do «Prémio Pégaso de Literatura», foi traduzido para Inglês, Francês, Alemão, Italiano e outras línguas, em capa dura e edições de bolso, com excelentes recensões.
Em 1995 surge o romance satírico «Era Bom Que Trocássemos Umas Ideias sobre o Assunto» inaugurando o género a que o autor chamou «cronovelema» e que associa o humor à crítica aguda do quotidiano. O livro obteve um bom acolhimento na Alemanha e em França.
Mário de Carvalho tem, actualmente, 21 livros publicados no estrangeiro, em 11 países, incluindo o Brasil.
A sua escrita é extremamente versátil e é impossível incluí-lo em qualquer escola ou corrente literária. Desde a crónica irónica do quotidiano à toada mais sombria, tem praticado uma grande diversidade de géneros, percorrendo vários épocas e ecoando alguns grandes clássicos da literatura portuguesa e universal.
Todas as suas peças de teatro foram levadas à cena, em Portugal ou no estrangeiro. Trabalhou com os realizadores Luís Filipe Costa, José Fonseca e Costa, Solveig Nordlung, José Carlos Oliveira, Gonçalo Galvão Teles e José Barahona.
A 9 de Junho de 2014 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
Lúcio Valério Quíncio é o magistrado de Tarcisis, cidade romana da Lusitânia no século II d. C. Como dirigente máximo, cabe-lhe tomar todas as decisões, enquanto tumultuosos acontecimentos conduzem a pequena cidade ao descontentamento geral. No exterior, notícias de uma invasão bárbara iminente, proveniente do Norte de África, obrigam-no a drásticas medidas, enquanto no interior das muralhas uma nova seita, a Congregação do Peixe, põe em causa os valores da romanidade, evocando os ensinamentos de um obscuro crucificado. No plano íntimo, a paixão devastadora por uma mulher, Iunia, perturba-o e confunde-o, mas sem o afastar do cumprimento do dever.
Neste romance em que a ficção se sobrepõe à História, traduzido em nove línguas e galardoado com o «Prémio de Romance e Novela da APE», o« Prémio Fernando Namora», o «Prémio Pégaso de Literatura» e o «Prémio Literário Giuseppe Acerbi», Mário de Carvalho reconstitui as características culturais, políticas e quotidianas do Império Romano, sem nunca esquecer a «intercessão de certo deus que, nos primórdios, ao que parece, passeava num jardim pela brisa da tarde…».