Considerações de Eça de Queirós sobre o grupo de escritores (onde ele se inclui) que ficará conhecido como «Os Vencidos da Vida».
O amável «Correio da Manhã», fazendo hoje o retrato social dos «Vencidos da Vida», um por um, para lhes contestar este título acabrunhante, continua e engrossa o ruído de publicidade que a imprensa tem erguido ultimamente em torno deste grupo jantante, com considerável desgosto dos homens simples que o compõem.
O que de resto parece irritar o nosso caro «Correio da Manhã» é que se chamem «Vencidos» àqueles que, para todos os efeitos públicos, parecem ser realmente vencedores. Mas que o querido órgão, nosso colega, reflicta que para um homem, o ser vencido ou derrotado na vida depende, não da realidade aparente a que chegou, mas do ideal íntimo a que aspirava. Se um sujeito largou pela existência fora com o ideal supremo de ser oficial de cabeleireiro, este benemérito é um vencedor, um grande vencedor, desde que consegue ter nas mãos uma gaforina e a tesoura para a tosquiar, embora atravesse pelo Chiado cabisbaixo e de botas cambadas. Por outro lado, se um sujeito, aí pelos vinte anos, quando se escolhe uma carreira, decidiu ser um milionário, um poeta sublime, um general invencível, um dominador de homens (ou de mulheres), segundo as circunstâncias, e se, apesar de todos os esforços e empurrões para diante, fica a meio caminho do milhão, do poema ou do penacho, é para todos os efeitos um vencido, um morto da vida, embora se pavoneie por essa Baixa amortalhado numa sobrecasaca.
Jornal «O Distrito de Évora»