Nasceu em 1946. Escritora a quem foram atribuídos, entre outros, o Prémio Luso-Espanhol de Arte e Cultura (2014), o Prémio Jean Monet de Literatura Europeia, Escritor Europeu do Ano (2000), Albatroz, Prémio Internacional de Literatura da Fundação Günter Grass (2006), Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (2002), o Grande Prémio de Literatura dst (2019) e o Prémio FIL de Literatura em Línguas Românicas de Guadalajara (2020).
Lídia Jorge nasceu no Algarve, em Boliqueime, concelho de Loulé, numa família de agricultores.
Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo sido professora do Ensino Secundário. Foi nessa condição que passou alguns anos decisivos em Angola e Moçambique, durante o último período da Guerra Colonial, mas a maior parte da sua carreira docente foi em Portugal. Foi Professora do Ensino Secundário na Escola Secundária Rainha Dona Leonor, em 1985. Foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social e integrou o Conselho Geral da Universidade do Algarve da qual recebeu a distinção de doutora honoris causa.
Iniciando-se na actividade literária com a publicação do romance «O Dia dos Prodígios» (1980) tal constituiu um acontecimento num período em que se inaugurava uma nova fase da Literatura Portuguesa, desde logo se tornando num dos nomes mais importantes desta e em especial enquanto «renovadora» da técnica romanesca. Além do sucesso que obteve a nível nacional, passou a integrar o programa dos concursos de agregação da cadeira de Português, nas Universidades Francesas.
Mais tarde, seguiram-se os romances «O Cais das Merendas» (1982) e «Notícia da Cidade Silvestre» (1984), ambos distinguidos com o Prémio Literário Município de Lisboa, o primeiro dos quais ex-aequo com «Memorial do Convento» de José Saramago. Escritora onde o fantástico coexiste com o real, dona de uma imaginação primorosa nos campos lexical e morfológico, define-se assim:
Não sou uma pessoa lírica. A minha escrita, aliás, é talvez poética, mas não lírica.
O aparecimento de «Notícia da Cidade Silvestre» (1984), veio confirmar o valor da obra de Lídia Jorge, que considerou aquele seu livro como «uma espécie de confissão do troço da vida de duas pessoas, enfim, uma mulher que se confessa».
Diferenciando-se das duas obras anteriores, «Notícia da Cidade Silvestre» é um livro despojado, despido da retórica que os outros tinham, sem essa grande metáfora, com um caminho diferente (…) é a sociedade portuguesa dos últimos dez anos, descrita de uma forma íntima – o que não significa que se perca a noção de amplitude social.
Foi no entanto com «A Costa dos Murmúrios» (1988), livro que reflecte a experiência colonial passada em África, que a autora confirmou o seu destacado lugar no panorama das letras portuguesas. Depois dos romances «A Última Dona» (1992) e «O Jardim sem Limites» (1995), seguiu-se «O Vale da Paixão» (1998) galardoado com o Prémio Dom Dinis da Fundação Casa de Mateus, o Prémio Bordalo de Literatura da Casa da Imprensa, o Prémio Máxima de Literatura, o Prémio de Ficção do P.E.N. Clube, e em 2000, o Prémio Jean Monet de Literatura Europeia (Escritor Europeu do Ano).
Lídia Jorge publicou ainda «O Vento Assobiando nas Gruas» (2002), romance que mereceu o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio Correntes d’Escritas.
«Combateremos a Sombra», publicado em Portugal em 2007, recebeu em França o Prémio Michel Brisset 2008, atribuído pela Associação dos Psiquiatras Franceses. Com chancela da Editora Sextante, publicou em 2009, o livro de ensaios «Contrato Sentimental», reflexão crítica sobre o futuro de Portugal. Seguiu-se-lhe o romance «A Noite das Mulheres Cantoras» (2011), em Março de 2014, Os Memoráveis e em 2018, «Estuário», distinguido com o Grande Prémio de Literatura dst.
Lídia Jorge publicou antologias de contos, «Marido e Outros Contos» (1997), «O Belo Adormecido» (2003), e «Praça de Londres» (2008), para além das edições separadas de «A Instrumentalina» (1992) e «O Conto do Nadador» (1992). A sua peça de teatro «A Maçon» foi levada à cena no Teatro Nacional Dona Maria II, em 1997, com encenação de Carlos Avilez. Também uma adaptação teatral de «O Dia dos Prodígios» foi realizada e encenada por Cucha Carvalheiro no Teatro da Trindade, em Lisboa. O romance «A Costa dos Murmúrios» foi adaptado ao Cinema por Margarida Cardoso (2004).
Embora tendo escrito poesia desde muito jovem só em 2019 publica o seu primeiro livro no género, «O Livro das Tréguas».
Em 2020 foi para as livrarias «Em Todos os Sentidos» onde se reuniu o conjunto de quarenta e uma crónicas que Lídia Jorge leu, ao longo de um ano, aos microfones da Rádio Pública, Antena 2. Crónicas que encaram de frente a fúria do mundo contemporâneo, interpretando os seus desafios, perigos e simulacros, com um olhar crítico acutilante: «Como não podemos vencer o Tempo, escrevemos textos que o desafiam a olhar-nos de frente a que chamamos crónicas».
Os romances de Lídia Jorge encontram-se traduzidos em diversas línguas.
Em Portugal, o Presidente da República, Jorge Sampaio, a 09 de Março de 2005, condecorou-a com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. O Presidente da República Francesa, Jacques Chirac, a 13 de Abril de 2005, condecorou-a como Dama da Ordem das Artes e das Letras de França, sendo posteriormente elevada ao grau de Oficial. Em 2006, a autora foi distinguida na Alemanha, com a primeira edição do Prémio de Literatura Albatroz da Fundação Günter Grass, atribuído pelo conjunto da sua obra. A Universidade do Algarve, a 15 de Dezembro de 2010, atribuiu-lhe o doutoramento Honoris Causa, em sessão solene no Grande Auditório do Campus de Gambelas.
Lídia Jorge é inquestionavelmente uma voz singular e reconhecida no panorama da Literatura Portuguesa contemporânea. Comprovam-no a receptividade do público e da crítica; as repetidas edições das suas obras; as traduções para outras línguas; as teses e os ensaios académicos que se vão apresentando sobre os seus textos em vários países; e os prémios nacionais e internacionais que têm distinguido a sua obra.
A assinalar o 30.º aniversário da publicação de «O Dia dos Prodígios», a Câmara Municipal de Loulé promoveu uma grande exposição, «Trinta Anos de Escrita Publicada», entre Novembro de 2010 e Março de 2011, no Convento de Santo António dos Olivais.
Em 2004, Ana Maria Machado, repórter portuguesa em Washington, é convidada a fazer um documentário sobre a Revolução de 1974, considerada pelo embaixador americano à época em Lisboa como um raro momento da História. Aceitado o trabalho, regressa, contrata dois antigos colegas, e os três jovens visitam e entrevistam vários intervenientes e testemunhas do golpe de Estado, revisitando os mitos da Revolução. Um percurso que permite surpreender o efeito da passagem do tempo não só sobre esses «heróis», como também sobre a sociedade portuguesa, na sua grandeza e nas suas misérias.
Transfiguradas, como se fossem figuras sobreviventes de um tempo já inalcançável, as personagens de Os Memoráveis tentam recriar o que foi a ilusão revolucionária, a desilusão de muitos dos participantes e o árduo caminho para uma Democracia.
Paralela a esta acção decorre uma outra, pessoal e íntima: a história do pai da protagonista, António Machado, que retrata em privado o destino que se abate sobre todos os outros. Todos vivem na Democracia, uma espécie de lugar de exílio. Mas um dia, todas as misérias serão esquecidas, quando se relatar o tempo dos memoráveis.