Na Primavera, sob o afago macio do ar resplandecente, tudo nesta cidade é amável e fácil. O Homem e as próprias coisas têm não sei que indefinido sorriso de universal cordialidade. Toda a cidade se torna hospitaleira e bem acolhedora. As melhores qualidades da raça francesa – a polidez, a sociabilidade, a graça – parecem reverdecer com uma frescura nova, como as folhas nas árvores. O estrangeiro sente em torno de si uma ambiência fraternal. As próprias paixões políticas que em Paris nunca desarmam, perdem a sua ira e azedume. Os jornais são ligeiros e cheios de novas que alegram e repousam. Todos os cuidados vão para as coisas da inteligência, da arte e do gosto. Os cocheiros de fiacres amansam. Pelas ruas, a multidão, em lugar de se empurrar febrilmente aos encontrões, desliza, como se na vida só houvesse vagares delicados. Paris é então verdadeiramente, como a queriam e cantavam os poetas do século XVIII, a cidade dos jogos e dos risos.
Eça in Cartas de Paris