O Homem desde todos os tempos tem tido (se me permitem renovar esta alegoria neoplatónica) duas esposas, a razão e a imaginação, que são ambas ciumentas e exigentes, o arrastam, cada uma, com lutas por vezes trágicas e por vezes cómicas, para o seu leito particular – mas entre as quais ele até agora viveu, ora cedendo a uma, ora cedendo a outra, sem as poder dispensar e encontrando nesta coabitação bigâmica alguma felicidade e paz. Assim Arquimedes tinha por emblemas na sua porta um compasso e uma lira.
O Positivismo científico, porém, considerou a imaginação como uma concubina comprometedora, de quem urgia separar o Homem – e apenas se apossou dele, expulsou duramente a pobre e gentil imaginação, fechou o homem num laboratório a sós com a sua esposa clara e fria – a razão.
Notas Contemporâneas