Paul Valéry

Viveu entre 1871 e 1945. Poeta, ensaísta e filósofo. Para além da poesia e demais ficção, manifestava interesse em Arte, História, Epístolas, Música e Actualidade.

Valéry foi nomeado 12 vezes para o Prémio Nobel da Literatura.

Paul era filho de pai francês (Córsega) e mãe italo-croata. Nascido em Sète, uma vila situada na costa mediterrânica francesa, foi depois criado em Montpellier, centro urbano mais próximo. Recebeu a tradicional educação católica, tendo depois cursado Direito na Universidade e passado grande parte da restante vida em Paris, onde fez parte, durante algum tempo, do círculo de Stéphane Mallarmé.

Em 1900, casou-se com Jeannine Gobillard, amiga da família deste e também sobrinha da pintora Berthe Morisot. O casamento foi na verdade uma cerimónia dupla, já que a prima da noiva e filha de Berthe Morisot, Julie Manet, casou com o pintor Ernest Rouart. Valéry e Gobillard tiveram três filhos: Claude, Agathe e François.

O autor chegou a formar, com Florence Meyer Blumenthal, o júri do Prix Blumenthal, uma bolsa atribuída entre 1919 e 1954 a jovens pintores, escultores, decoradores, escritores, músicos e outros artistas franceses.

Apesar de ter começado a publicar com vinte e poucos anos, Valéry não se transformou num escritor a tempo inteiro até 1920, altura em que o homem para quem executava as funções de secretário privado, Edouard Lebey, morreu, vitimado pela doença de Parkinson. Antes tinha exercido brevemente funções no Ministério da Defesa, aceitando depois o cargo, de horário mais flexível, de assistente do cada vez menos autónomo Lebey, trabalho que manteve cerca de 20 anos.

No seguimento da sua eleição para a Academia Francesa, em 1925, o autor transformou-se num orador público incansável e numa referência intelectual da sociedade francesa, viajando pela Europa e dando palestras de interesse cultural e social. A crescente admiração dos franceses valeu-lhe ainda um sem-número de cargos oficiais.

Representou a França em assuntos culturais na Liga das Nações e desempenhou funções em várias comissões associadas, incluindo a de Artes e Letras, pertencente ao Comité para a Cooperação Intelectual.

Em 1931, fundou o Collège International de Cannes, uma instituição privada onde se ensinava Francês e outras matérias. Esta sobrevive até aos dias de hoje, oferecendo cursos profissionais para nativos da língua (Ensino, Direito e Gestão) mas também cursos para estrangeiros.

É ele o autor do discurso principal nas celebrações alemãs do centésimo aniversário da morte de Johann Wolfgang Goethe, ocorridas em 1932. A escolha não podia ter sido mais adequada, uma vez que Valéry partilhava a fascinação de Goethe pela Ciência (em especial Biologia e Óptica).

Para além das actividades enquanto membro da Academia Francesa, integrava ainda a Academia de Ciências de Lisboa, entre outras. Em 1937, foi nomeado reitor daquilo que mais tarde se transformaria na Universidade de Nice. Foi ainda o primeiro responsável pela cadeira de Poesia, no Collège de France.

Com o advento da II Grande Guerra, o regime político de Vichy retirou-lhe alguns destes cargos e honrarias, em represália pela discreta recusa do autor em colaborar com o governante e por inerência com a ocupação alemã. Valéry continuou, no entanto, a publicar e a ser culturalmente activo na sociedade francesa ao longo desses anos, sobretudo enquanto membro da Academia Francesa.

Faleceu em Paris, no ano de 1945. Foi enterrado no cemitério da sua terra natal, Sète, mencionado no seu famoso poema O Cemitério Marinho.

Valéry é sobretudo conhecido como poeta, sendo por vezes considerado o derradeiro dos simbolistas franceses. Apesar disso, ao longo da vida publicou menos de 100 poemas e nenhum deles recebeu grande atenção. Segundo consta, na noite de 04 de Outubro de 1892, no decurso de uma intempérie, mergulhou numa crise existencial, episódio com grande influência na sua carreira literária. Acabou mesmo por, em 1898, desistir por completo do ofício, recusando-se a publicar uma palavra durante 20 anos, uma decisão reforçada em parte pela morte do seu mentor, Stéphane Mallarmé.

Quando por fim, em 1917, quebrou o seu «grande silêncio» com a publicação do poema «La Jeune Parque» contava já 46 anos.

O texto, uma obscura obra-prima musical composta por 512 versos alexandrinos em rima binária, demorou quatro longos anos a concluir mas valeu-lhe fama imediata. A par de O Cemitério Marinho e «L’Ébauche d’un serpent» é considerado um dos melhores poemas franceses do século XX.

O título foi escolhido numa fase avançada da criação do poema, referindo-se à mais jovem das três Parcas (deusas romanas menores também conhecidas como As Moiras), apesar de, para alguns leitores, essa ligação mitológica não ser pacífica.

Está escrito na primeira pessoa e trata-se, em resumo, do solilóquio de uma jovem mulher ao contemplar a vida e a morte, o compromisso e o exílio, o amor e a solidão, tudo isto num cenário dominado pelo mar, céu, estrelas, penhascos rochosos e o amanhecer. Contudo, o poema também pode ser interpretado enquanto alegoria para o modo como o destino influencia as vidas humanas ou como uma tentativa de entender a terrível violência que destruía a Europa, à época. O conteúdo não versa especificamente sobre a Primeira Guerra, mas tenta de algum modo entender a ligação entre beleza e destruição, estabelecendo assim um paralelismo com as tradicionais reflexões da Grécia Antiga sobre estas matérias, em especial nas peças teatrais de Sófocles. Encontram-se semelhanças evidentes com O Cemitério Marinho, também ele uma reflexão à beira mar sobre grandes temas da Humanidade.

Antes de «La Jeune Parque», o autor limitara-se a publicar diálogos, artigos e uns quantos poemas, para além de um estudo sobre Leonardo da Vinci. Em 1920 e 1922, editou duas pequenas colecções de poemas. A primeira, «Album des vers anciens», composta por versões revistas de antigos poemas curtos, dos quais um punhado tinha sido publicado anteriormente, antes de 1900. A segunda, «Charmes», acabou por cimentar-lhe a reputação enquanto poeta francês de relevo. É nessa colecção que está O Cemitério Marinho e outros poemas mais pequenos, de estrutura variada.

A técnica de Valéry é no fundo bastante convencional, bebendo muito da influência de Mallarmé.

Curiosamente, este considerava que a sua grande obra eram os trabalhos em prosa, tendo preenchido mais de 28 mil páginas de diários ao longo da vida. Estes escritos prolongados, polvilhados de aforismos e notas humorísticas, revelam uma visão céptica da natureza humana, num tom muito próximo do cínico. A sua visão do papel do Estado era bastante liberal, ao defender que as limitações à liberdade individual deviam ser reduzidas ao mínimo. Apesar de professar algum interesse pelas ideias nacionalistas no final do século XIX, acabou por rejeitá-las logo depois, acreditando que a cultura europeia devia a sua grandeza à diversidade étnica e ao universalismo fomentados pelo Império Romano. Desconstruiu também o mito da «pureza racial», argumentando que tal conceito, a ter alguma vez existido, redundaria sempre em estagnação – provando que a miscigenação era necessária para o progresso e desenvolvimento culturais.

Raymond Poincaré, Louis de Broglie, André Gide, Henri Bergson e Albert Einstein, todos eles respeitavam o pensamento de Valéry, tendo-se tornado seus correspondentes amistosos.

Apesar de tudo, o marco literário mais surpreendente é talvez o diário, pleno em tamanho e intelecto, a que deu o nome de «Cahiers». Todas as manhãs da sua vida adulta, quase sem excepção, o autor contribuiu com algo para este formato, levando-o a concluir que:

Tendo dedicado aquelas horas à vida mental, ganho assim o direito a ser ignorante no resto do dia.

Os temas presentes nestes «Cahiers» eram, com frequência surpreendente, relacionados com Ciência e Matemática. É provável, na verdade, que estes assuntos tenham requisitado muito mais tempo da sua atenção do que os famosos poemas. Estão ainda presentes diversos aforismos, mais tarde incluídos nos livros.

Somente a partir da década de 80 do século XX foi prestada a devida atenção a este conteúdo, por parte dos estudiosos.


(…)

O mar, o mar, sempre recomeçado!

Que recompensa após meditação

N’um longo olhar sobre a calma dos deuses!

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.