Regressaram as manhãs cinza, o ar frio e seco, as chuvas intermitentes. Não é raro o perfume a terra molhada, as tropelias do vento, os grupos de nuvens que atravessam os céus, em conspirativa reunião.
Rapidamente a memória activa as imagens de pantufas, leituras sob o abraço morno do candeeiro, mantas e almofadas. Os pés acariciados pelo chão alcatifado, chá quente, torradas a escorrer manteiga, bolos de frutos. Escrita no recanto da poltrona. Mar intrépido. Uma inigualável beleza selvagem no exterior e um aconchego irreprimível no interior.
Sem dificuldade, mergulho nos saborosos dias de Dezembro. Por um incontável número de razões, foi desde sempre o meu mês preferido.
Há pouco tempo, li acerca de um curioso hábito, talvez de alguém real, talvez de uma personagem literária, diferença pouco substantiva para o caso. A rotina consistia em celebrar o aniversário não no mês de nascimento, mas no mês da concepção, bastando para tal recuar nove meses.
Assim, por exemplo, se alguém tivesse nascido nos princípios de Setembro, teria provavelmente sido concebido no início do Dezembro anterior.
Dei por mim a reflectir sobre acasos, memória residual e uma estranha transferência de energias.