Viveu entre 1924 e 1996. Foi romancista, contista, professor e jornalista.
Filho do médico José Donoso e de Alicia Yáñez, sobrinha do jornalista Eliodoro Yáñez, fundador do diário La Nación. Estudou na The Grange School, onde foi colega de Luís Alberto Heiremans e de Carlos Fuentes, e no Liceu José Victorino Lastarria. Proveniente de uma família burguesa, optou no entanto por trabalhar, durante a juventude, como pedreiro e empregado de escritório, muito antes de dar início à sua actividade de professor e escritor.
Em 1945, viajou até ao extremo sul do Chile e da Argentina, onde trabalhou em quintas e no porto de Buenos Aires. Dois anos depois, concluiu os estudos secundários e começou a estudar inglês no Instituto Pedagógico da Universidade do Chile.
Em 1949, graças a uma bolsa da Doherty Foundation, optou por ir estudar filologia inglesa na Universidade de Princeton. A revista de Princeton, MSS, publicou os seus primeiros contos em inglês: The blue woman e The poisoned pastries, entre 1950 e 1951.
Em 1951, viajou pelo México e pela América Central. Regressou ao Chile, onde principiou a leccionar na Universidade Católica e na Kent School.
O seu primeiro livro – Veraneo y otros cuentos – surgiu em 1955, tendo ganho no ano seguinte o Prémio Municipal de Santiago. Em 1957, numa altura em que vivia com uma família de pescadores na Isla Negra, publicou o primeiro romance, Coronación, onde aborda a decadência das classes dominantes de Santiago. Oito anos depois, foi publicado pela primeira vez nos Estados Unidos e em Inglaterra.
Começa a escrever para a revista Ercilla em 1960, numa altura em que percorria a Europa, a partir de onde enviava os artigos. Acaba por trabalhar para esta publicação como jornalista e crítico literário até 1965. Posteriormente, colaborou também com a revista mexicana Siempre.
Em 1961, casou-se com a pintora Maria Ester Serrano, mais conhecida como Maria Pilar Donoso (1926-1997), que tinha conhecido no ano anterior em Buenos Aires.
Viajou até ao México em Dezembro de 1964, convidado para o Terceiro Simpósio da Fundação Interamericana para as Artes. Acabou por ficar um tempo no país, em casa de amigos, antes de prosseguir até aos Estados Unidos, onde viveu durante uma certa fase. Em 1966 publica El lugar sin límites, um pequeno romance que lhe valeu grande sucesso e que é hoje considerado uma das suas melhores obras. No ano seguinte, muda-se para Espanha, onde ficou até 1981.
Em 1970, publica El obsceno pájaro de la noche, considerado em definitivo o melhor romance, o mais completo e ambicioso. Donoso trabalhou nele durante oito anos, interrompendo o processo várias vezes, até que, segundo palavras do próprio, conseguiu terminá-lo aquando de um internamento hospitalar. O crítico Harold Bloom elegeu-a como uma das obras canónicas da literatura ocidental do século XX.
Em 1972, publicou o ensaio Historia personal del boom e em 1973 o volume Tres novelitas burguesas. Ainda que já tivesse abandonado o seu país antes de 1973, quando se dá o golpe militar de Pinochet, declara-se exilado em Espanha.
Em 1978, sai Casa de Campo – romance considerado como uma crítica metafórica à ditadura chilena – que lhe valeu o Prémio de la Crítica do ano seguinte. O romance de cariz erótico La misteriosa desaparición de la marquesita de Loria (1979) faz com que muitos o considerem mestre em todos os registos literários. El jardín de al lado (1981) acaba por confirmá-lo como um dos melhores autores chilenos da segunda metade do século XX.
Torna-se membro da Academia Chilena de Letras.
Em 1981, após regressar ao Chile, cria um curso literário de grande sucesso, à medida que continua a publicar novos romances, embora sem o êxito dos anteriores: La desesperanza (1986), Taratuta e Naturaleza muerta con cachimba (1990) Donde van a morir los elefantes (1995). Já póstumos, El mocho (1997) e Lagartija sin cola (2007).
José Donoso faleceu na sua casa em Santiago de Chile, a 07 de Dezembro de 1996. Segundo consta, leram-se a seu pedido, nos últimos momentos, poemas de Altazor de Vicente Huidobro. Os restos mortais foram enterrados a 80kms de Valparaíso.
Em 2007 publicou-se o último romance, nunca concluído, e ainda uma espécie de biografia, em 2010 – Correr el tupido velo, Prémio Altazor 2011 – obra-prima da sua filha adoptiva espanhola Pilar Donoso (1967-2011), valiosíssimo por mostrar o processo criativo do escritor chileno. Neste livro estão presentes muitos extractos dos diários pessoais de Donoso e sua mulher, e é também revelada a homossexualidade do escritor, a sua paranóia, o seu egocentrismo, os irresolúveis e constantes problemas económicos, o alcoolismo, a dependência materna dos antidepressivos e as tormentosas e destrutivas relações familiares. Pilar acabaria por suicidar-se com medicamentos, em Novembro de 2011.
Só depois da sua morte e da publicação desta obra, se provou em definitivo a sua homossexualidade, historicamente um tema tabu nos meios sociais e literários chilenos, ainda que muito se comentasse a meia-voz. Donoso, em cartas e passagens do diário, confessa a dor de não poder viver plenamente as suas emoções e não encontrar harmonia nas relações pessoais.
O livro divide-se em duas partes, com sete capítulos cada. A primeira intitula-se «A partida» e a segunda «O regresso».
Os temas predominantes no romance são o incesto, o abuso sexual, o parricídio, os jogos entre ficção e realidade, o tabu, a antropofagia e a violência.
O estilo de José Donoso caracteriza-se pela complexidade da narração devido aos múltiplos pontos de vista, diferentes tipos de narradores presentes – autor omnisciente, testemunha, protagonista – onde convergem o autor, o escritor, o narrador, mesclados em diversos níveis textuais e argumentativos. Deste modo, a fronteira entre realidade e ficção é ténue e difusa, sendo o leitor atraído para o interior do romance no papel de um personagem inventado, oculto por múltiplos disfarces, ficção dentro de ficção, naquilo que poderia chamar-se «omnisciência múltipla e selectiva», já que o narrador vincula à história elementos externos; autor e leitor como parte de um mundo real dependente da verosimilhança e alusões irónicas ao contexto social, político e histórico do Chile durante a ditadura, ridicularizando o poder totalitário da época, num paralelismo com o narrador omnisciente.
De acordo com alguns analistas, os personagens do romance são símbolos: Os adultos representam a oligarquia política; as crianças a classe média; os nativos, o proletariado; e os aparelhos repressivos do Estado e Forças Armadas, a servidão.
Personagens Símbolo
Adultos: personagens planas, imutáveis, com maior coerência psicológica, sem desvios de conduta. Apenas suplantados pelos estrangeiros.
Crianças: personagens modeladas, dinâmicas e diversas, donas do protagonismo narrativo.
Nativos: acusados pela família Ventura de praticar a antropofagia. São retratados como elementos estáticos, bárbaros e primitivos.
Servidão: Estado e Forças Armadas.
Estrangeiros: interessados em comprar o ouro da família Ventura, progridem no campo comercial e político.
Personagens individuais
Mauro: odeia estrangeiros.
Juvenal e Melania: identificam-se com a oligarquia.
Venceslau: personagem principal, integrante do grupo de crianças da família Ventura. É ele que liberta o pai louco (Adriano Gomara).
Adriano Gomara: médico liberal que atende os nativos de forma gratuita. Representa Salvador Allende.
Francisco de Asis: nativo que vive com Cordélia. Representa a figura comunista de Victor Jara.
Locais simbólicos
– A casa de campo é descrita como uma casa senhorial, alegoria para o século XIX.
– Marulanda representa o território, alegoria da América Latina e do Chile.