Nasceu em 1942. É jornalista e escritora. Apesar de ter nascido em Lima, a família voltou logo para o Chile. Actualmente vive nos Estados Unidos.
É filha de Tomás Allende, funcionário diplomático e primo irmão de Salvador Allende, e de Francisca Llona.
Isabel é considerada uma das principais revelações da literatura latino-americana da década de 1980. A sua obra é marcada pela ditadura no Chile, implementada com o golpe militar que em 1973 derrubou o governo do primo de seu pai, o presidente Salvador Allende (1908-1973).
Escreveu A Casa dos Espíritos (1982) e ganhou o reconhecimento do público e da crítica. Em 1995 lançou o livro Paula, que a autora escreveu para a filha, em coma devido a um ataque de porfiria. Como Allende não sabia se a sua memória voltaria após a saída do coma, resolveu contar a história para auxiliá-la a recordar os factos. Paula passou a ser então um retrato autobiográfico. A filha não voltou do coma e morreu pouco depois.
Allende, cuja obra revela a espaços características do «realismo mágico», é famosa não só pelo mencionado A Casa dos Espíritos mas também por outros trabalhos como A Cidade dos Deuses Selvagens (2002), que lhe valeram sucesso comercial. Tem sido considerada «a autora de língua castelhana mais lida em todo o mundo».
Os seus trabalhos são quase sempre baseados em experiências pessoais e prestam homenagem à vida das mulheres, tudo isto por entre uma mescla de elementos mitológicos e realistas. São muitas as faculdades americanas onde deu palestras sobre Literatura ou fez apresentações. Fluente em Inglês, que considera a segunda língua, obteve a cidadania americana em 1993. Vive na Califórnia com o marido, também americano, desde 1989.
Deu início à carreira literária em 1967, fazendo parte da redacção da revista Paula, passando depois, entre 1969 e 1974 para a revista infantil Mampato, onde chegou a ser editora. Publicou dois contos infantis, La Abuela Panchita, e Lauchas y Lauchones. Trabalhou também como produtora em canais da televisão chilena entre 1970 e 1974. Enquanto jornalista, teve um dia oportunidade de entrevistar Pablo Neruda, notável poeta chileno. Durante a mesma, Neruda considerou que Allende tinha muita imaginação e que deveria dedicar-se à escrita, no lugar do jornalismo. Sugeriu-lhe também que organizasse em livro os textos presentes na sua coluna humorística. Esta assim fez, o que lhe valeu o primeiro livro publicado. Em 1973, a sua peça de teatro El Embajador estreou em Santiago, poucos meses antes de Allende ser forçada a fugir do país, devido ao golpe militar.
Durante o tempo que passou na Venezuela, trabalhou como jornalista freelance para o El Nacional de Caracas, entre 1976 e 1983 e como administradora da Marrocco School em Caracas, de 1979 a 1983.
Nesta altura, corria o ano de 1981, recebeu um telefonema a informá-la que o seu avô de 99 anos estava moribundo, pelo que decidiu sentar-se e escrever-lhe uma carta, de modo a «mantê-lo vivo, ao menos em espírito». Essa carta evoluiu até se transformar num manuscrito: A Casa dos Espíritos (1982). O objectivo era exorcizar os fantasmas da ditadura de Pinochet. O livro foi rejeitado por várias editoras sul-americanas, mas acabou por ser publicado em Espanha. Acabou por ter mais de 24 edições em castelhano e ser traduzido em inúmeras línguas. Revelou-se um sucesso enorme e Allende foi comparada a Gabriel Garcia Márquez enquanto continuadora do género conhecido como «realismo mágico».
Os seus livros tornaram-se então conhecidos pelas descrições cheias de vida. Apesar de ser associada ao «realismo mágico», as obras exibem igualmente muitas características do pós-Boom, pelo que o seu estilo tem de ser visto como o resultado de múltiplas influências. Allende obedece a uma rotina literária metódica. Escreve ao computador, de segunda a sábado, das 9h às 19h. «Começo sempre os textos no dia 08 de Janeiro», tradição iniciada aquando de A Casa dos Espíritos.
Recebeu inúmeros prémios no Chile e noutros países e foi recentemente considerada uma «Lenda da Literatura» pela Latino Readers Magazine.
Apesar do grande sucesso comercial, a sua obra granjeou também diversas críticas. Há quem diga que «Isabel Allende está a matar Garcia Márquez aos bocadinhos». Roberto Bolano considerou a literatura de Allende «anémica», comparável a «uma pessoa no leito de morte», e apelidou-a ainda de «máquina de escrever, ao invés de escritora». O crítico literário Harold Bloom acrescenta que Allende «está presa num determinado período e está condenada a ser esquecida depois disso». Outros afirmam que ela «comete um erro grave ao confundir sucesso comercial com qualidade literária».
Allende disse ao jornal El Clarín que está consciente que nem sempre tem sido apreciada no Chile, confirmando que os intelectuais do país «detestam-na». Defende-se contudo das críticas, afirmando:
«O facto de se pensar que quando vendemos muitos livros deixamos de ser escritores respeitáveis é um enorme insulto aos leitores. Fico algo zangada quando se tenta passar essa ideia. As últimas críticas que se fizeram aos meus livros estão reduzidas a ataques pessoais, resultantes do simples facto de eu vender muitos livros. Considero isso indesculpável».
As críticas mais positivas salientam que o impacto que Isabel Allende teve na literatura latino-americana e mundial não pode ser ignorado. Alguns jornais apelidam-na de «genial» e destacam-lhe os prémios recebidos.
O romance foi rejeitado por diversas editoras sul-americanas antes de ser publicado em Barcelona, em 1982. Tornou-se um sucesso de vendas, recebeu os elogios da crítica e catapultou Allende para o estrelato. Foi considerado o Romance do Ano no Chile, e a autora recebeu o Prémio Panorama Literário. A obra foi traduzida em mais de 37 línguas.
O enredo descreve a vida da família Trueba, ao longo de quatro gerações, abordando assim o período revolucionário que se seguiu ao fim do colonialismo no Chile – apesar do nome do país ou de personagens decalcadas das figuras históricas, tais como «o Presidente» ou «o Poeta», nunca ser revelado. A história é narrada por dois protagonistas (Esteban e Alba) e exibe características do «realismo mágico».
Tudo começa com a família del Valle, com incidência nas filhas mais nova e mais velha, Clara e Rosa. A mais nova, Clara del Valle, tem poderes paranormais e mantém um diário detalhado da sua vida. Através destes poderes, Clara adivinha a chegada de um acidente fatal na família. Pouco depois, a sua irmã de cabelo verde, Rosa «A Bela», morre envenenada num atentado destinado ao seu pai, candidato ao Senado. O noivo desta, um mineiro sem recursos chamado Esteban Trueba, fica devastado e procura encontrar consolo para o coração destroçado dedicando-se a trabalhar na fazenda da família, «As Três Marias». Com uma estratégia que combina intimidação e recompensas, obtém/exige rapidamente o respeito e a dedicação dos manipuláveis camponeses, transformando «Três Marias» numa «fazenda modelo». Faz do primeiro camponês que lhe dirigiu a palavra, Pedro Segundo, o seu capataz. Este acaba por se tornar na pessoa mais próxima que Trueba terá em toda a vida, uma espécie de amigo não assumido. Entretanto, incapaz de se controlar, viola a maioria das camponesas, transformando a sua primeira vítima, Pancha García, na mãe do seu filho bastardo, aquele que mais tarde será conhecido como Esteban García.
Esteban Trueba é um dia obrigado a regressar à cidade, para visitar a mãe moribunda. Após a morte desta, decide cumprir o seu último pedido: casar e ter filhos legítimos. Vai visitar a família del Valle, para pedir a mão de Clara. Esta aceita o pedido, pois já adivinhara a sua chegada dois meses antes, e volta a falar, nove anos depois. Durante o noivado, Esteban manda erguer o que todos apelidam de «A Grande Casa do Canto», uma mansão enorme onde a família Trueba irá viver ao longo de gerações. Após o casamento, a irmã de Esteban, Férula, vem viver com o casal na propriedade. Férula desenvolve uma grande dedicação para com Clara, nascida da sua necessidade de servir os outros. Porém, Esteban exibe uma vontade indomável de possuir e monopolizar o amor de Clara, o que faz com que expulse Férula. Esta amaldiçoa-o, dizendo-lhe que ele viverá para ver corpo e alma mirrarem, até morrer como um cão. Apesar de sentir a falta da cunhada, Clara, passiva e sonhadora, encontra a felicidade no aprimorar das suas capacidades psíquicas. Espíritos, artistas e espíritas são presença assídua na Casa Trueba.
Clara dá à luz uma filha de nome Blanca e depois dois rapazes gémeos chamados Jaime e Nicolas. A família, apesar de viver na capital, passa os Verões na fazenda de Esteban. Assim que chegam a «Três-Marias» pela primeira vez, Blanca faz imediatamente amizade com Pedro Tercero, filho do capataz de seu pai. Ao longo da adolescência, acabam por se tornar namorados. Após um terramoto, que destrói parte da fazenda e provoca ferimentos em Esteban, os Trueba mudam-se em definitivo para «Três-Marias». Clara passa o tempo a dar aulas e a prestar apoio às crianças camponesas, enquanto Blanca é enviada para um convento e os gémeos para um colégio interno inglês, ambos situados na cidade. Blanca simula uma doença para assim conseguir regressar à fazenda, onde poderá estar com Pedro Tercero. A vida decorre com pacatez até Pedro Tercero ser expulso por Esteban, devido aos seus ideais revolucionários de cariz comunista/socialista.
O conde francês Jean de Satigny, que está de visita, revela a Esteban os encontros nocturnos da filha com Pedro Tercero. Este, furioso, parte em busca de Blanca, chicoteando-a brutalmente. Quando Clara demonstra a sua indignação perante tal comportamento, Esteban esbofeteia-a, partindo-lhe os dentes da frente. A mulher decide nunca mais lhe falar, readopta o nome de solteira e abandona «Três-Marias» de regresso à cidade, na companhia da filha. Esteban, furioso e abandonado, despeja as culpas em Pedro Tercero, e oferece uma recompensa monetária pela sua captura com o auxílio da corrupta polícia local. Nessa altura, Pedro Segundo afasta-se de Esteban, dizendo-lhe que quer estar longe no momento em que Trueba capturar o filho. Enraivecido com mais uma deserção, Trueba inicia uma caça pessoal a Pedro Tercero, acabando por descobri-lo numa pequena cabana das proximidades. O máximo que consegue é cortar três dedos a Pedro, arrependendo-se posteriormente da sua raiva incontrolável.
Jaime torna-se um médico amigável, enquanto o habilidoso Nicolas sobrevive através de esquemas financeiros. Ambos iniciam uma relação estranha com uma mulher chamada Amanda. Nicolas e Amanda começam por ser apresentados juntos, mas separam-se mais tarde devido à gravidez desta. Jaime nutre nesta altura um terno amor por ela mas nunca confessa os seus sentimentos. Concorda em fazer-lhe o aborto, não devido ao cobarde pedido do irmão, mas em nome do que sente por uma mulher que não pode ter. Anos mais tarde, Jaime e Amanda voltam a encontrar-se e este salva-a de uma morte certa. Esta recorda-se de Jaime, aquele médico tão prestável, e acaba por se apaixonar por ele, mas este nota agora que ela deixou de ser aquela mulher atraente que o enfeitiçara no passado. Continua a relacionar-se com ela, apesar de não a amar.
Blanca descobre que está grávida de Pedro Tercero. Esteban, desesperado por salvar a honra da família, convence Blanca a casar com o conde francês, dizendo-lhe que matou Pedro. De início, Blanca mantém uma relação cordial com o novo marido, mas deixa-o ao descobrir que este participa em jogos sexuais com as criadas. Regressa discretamente à Casa Trueba e dá à filha, que tem o mesmo cabelo verde de Rosa, o nome de Alba. Clara profetiza-lhe uma vida feliz e afortunada. O seu futuro companheiro, Miguel, presenciou o seu nascimento, pois habitava a Casa Trueba com a irmã, Amanda. Mudam de morada pouco depois.
Esteban Trueba acaba por regressar igualmente, apesar de passar alguns períodos em «Três-Marias». Está todavia isolado de todos os membros da família, com excepção da pequena Alba, de quem gosta muito. Esteban acaba por candidatar-se a senador pelo Partido Conservador, ainda que esteja inseguro sobre a vitória. Clara comunica com ele por gestos, dizendo-lhe que «aqueles que sempre ganharam voltarão a ganhar» – frase que ele adopta como lema. Clara começa nesta fase a comunicar com Esteban através de sinais, ainda que mantenha a sua promessa e nunca mais lhe dirija a palavra. Poucos anos depois, esta morre pacificamente e ele mergulha em arrependimento e desgosto.
Alba é uma criança solitária que gosta de inventar jogos na cave da casa e pintar as paredes do quarto. Blanca empobreceu muito depois de abandonar Jean de Satigny, obtendo rendimentos através da venda de cerâmica e das aulas que dá a crianças com deficiência mental. Está de novo a encontrar-se com Pedro Tercero, que se tornou um letrista/músico revolucionário. Alba e Pedro dão-se bem, mas não sabem que são pai e filha, embora Pedro suspeite disso. Alba também gosta dos tios. Nicolas acaba por ser expulso pelo pai, e muda-se oficialmente para os Estados Unidos.
Quando cresce, Alba passa a frequentar um colégio local, onde reencontra Miguel, agora adulto, e envolve-se com ele. Miguel é também um revolucionário, e por amor, Alba envolve-se nos protestos estudantis contra o governo conservador. Após a vitória do Partido do Povo (de cariz socialista), ambos celebram.
Receando o advento de uma ditadura comunista, Esteban Trueba e os correlegionários políticos começam a planear um golpe militar para depor o governo socialista. No entanto, posto em prática, provoca nos militares a vertigem do poder e estes perdem o controlo. O filho de Esteban, Jaime, é morto por mercenários, juntamente com outros apoiantes do governo. Após o golpe, são frequentes os raptos e torturas. Esteban ajuda Blanca e Pedro Tercero a fugir para o Canadá, onde o casal encontra finalmente a felicidade.
O regime militar esmera-se na tentativa de eliminar qualquer foco de oposição e acaba por perseguir Alba. Esta fica prisioneira do Coronel Esteban García, o filho ilegítimo de Esteban e Pancha Garcia. No passado, numa das visitas que fizera à Casa Trueba, García molestara Alba. Agora, tresloucado pelo ódio à vida de privilégio e riqueza, tortura-a com frequência, em busca de informações sobre Miguel. Acaba por violá-la, fechando assim o ciclo iniciado por Esteban Trueba quando violou Pancha García. Quando Alba perde o gosto pela vida, é visitada pelo espírito de Clara, que lhe diz para não desejar a morte, pois é coisa fácil de obter, mas para lutar pela vida.
Esteban Trueba consegue libertá-la com a ajuda de Miguel e Trânsito Soto, uma velha amiga/prostituta dos seus tempos de juventude. Após ajudá-la a escrever as memórias, morre-lhe nos braços, acompanhado pelo espírito de Clara. Está em paz, pois evitou a maldição de Férula, segundo a qual morreria como um cão. Alba explica que não procurará vingar-se dos que a magoaram, na esperança que o ciclo humano feito de ódio e vingança possa ser quebrado. Esta escreve enquanto espera por Miguel e pelo nascimento do filho de ambos.
Alguns nomes são simbólicos, sobretudo os nomes de mulheres, já que revelam a personalidade das personagens. Os nomes Nívea, Clara, Blanca e Alba são relativamente parecidos, dentro de uma mencionada tradição familiar. (Nívea significa branca-de neve, e pode ser associado a essa cor, tal como os outros, embora cada um tenha as suas particularidades.) Férula significa «vara» em latim; em castelhano refere-se a algo utilizado para imobilizar um membro, como um gesso ou uma tala.
Personagens
Clara del Valle Trueba
Clara é a figura central do romance. Tem capacidades premonitórias e místicas, sendo por isso algo desinteressada das tarefas mundanas, mas mantém a família unida através do amor que sente por eles e das acções resultantes das profecias. É a filha mais nova de Severo e Nívea del Valle, mulher de Esteban Trueba, e mãe de Blanca, Jaime, e Nicolas. Em nova, juntamente com o tio Marcos, serviu-se dos poderes para gerir um negócio de vidência, enquanto desenvolve outras capacidades paranormais. Este tio acaba por desaparecer num avião primitivo construído por ele próprio, estando meses ausente, e acabando por morrer devido a uma «misteriosa peste africana», contraída nas viagens. Clara aperfeiçoa as técnicas de adivinhação e deslocamento de objectos, nomeadamente uma mesa com três pernas, e rodeia-se de amigos como as irmãs Mora, também videntes, e «O Poeta». Severo e Nívea del Valle são as personagens principais de outro romance de Allende. À medida que cresce, Clara desenvolve estas capacidades sendo até capaz de comunicar com fantasmas e espíritos. É o símbolo do amor e afecto.
Esteban Trueba
Esteban Trueba é o protagonista masculino, e um dos principais narradores da história, juntamente com a neta Alba. Em jovem, tenta conquistar Rosa «A Bela», mulher escultural de cabelo verde, filha de Severo e Nívea del Valle, e por isso trabalha nas minas de modo a acumular fortuna suficiente para a sustentar. Entretanto, ela morre devido a um envenenamento acidental, evento cruel que muda a vida de Esteban e lhe enegrece o coração. Apesar de mais tarde se casar com Clara (irmã de Rosa e filha mais nova dos del Valle) e criar uma enorme família, o seu temperamento irascível e violento afasta todos os que o rodeiam. Mantém um relacionamento tenso com a filha Blanca, mas demonstra genuíno amor e devoção pela neta Alba. Apesar do frequente comportamento violento, é também dedicado à mulher, Clara, mergulhando num luto eterno após a sua morte. Com uma personalidade empreendedora, de alguém que fez fortuna através de anos de trabalho e constante desenvolvimento da fazenda «Três-Marias», Esteban despreza os comunistas, considerando-os preguiçosos e estúpidos. Anos mais tarde, mete-se na política, gastando energias e dinheiro na tentativa de prevenir a subida do Movimento Socialista ao poder. Contudo, depois do golpe militar, acaba por perder grande parte da influência, vendo-se de súbito obrigado a admitir que se tornou num homem envelhecido e frágil. É contudo o mal que ajudou a trazer ao país, mais do que a perda de poder, aquilo que abate o altamente patriótico Esteban. Concluindo que o seu maior desejo é reconquistar o amor da família e a paz geral, modifica radicalmente a maneira de ser. Nos dias que lhe antecedem a morte, liberta-se lentamente da raiva que alimentou a vida inteira. Começa a corrigir as coisas com a família que lhe resta, ajudando Blanca e Pedro Tercero a fugir do país, de modo a que estes possam por fim viver em paz, e mais tarde, quando Alba é raptada pelos militares, recorre ao auxílio da sua velha amiga Trânsito Soto (que gozava de boa influência entre as tropas), ficando eufórico quando a neta é libertada. Morre tranquilo, nos braços dela, sabendo que foi perdoado pelo espírito de Clara.
Blanca Trueba
Blanca é a filha primogénita de Clara e Esteban. Alterna a infância entre a Casa Trueba, na capital, e a fazenda «Três-Marias», onde mantém uma relação intensa com um rapaz chamado Pedro Tercero García, filho do capataz de Esteban. A amizade entre ambos é duradoura, apesar de se encontrarem apenas no Verão, e chegados à adolescência, tornam-se namorados. É um amor que resiste, mesmo depois de Pedro ser expulso da fazenda por Esteban, por estar a fazer propaganda comunista entre os fazendeiros. Depois de ficar grávida dele, o pai obriga-a a casar com o conde Jean de Satigny, de quem ela não gosta. Após abandonar o conde e regressar à Casa Trueba, encontra Pedro de vez em quando, resistindo aos seus pedidos de casamento, mas sem nunca colocar um fim na relação. A reconciliação de Blanca com o pai acaba por permitir a sua partida para o Canadá com Pedro, onde conseguem finalmente ser felizes juntos. Esta passa a ganhar bastante dinheiro, pela primeira vez na sua vida, através da venda de figurinhas de barro, que são consideradas exemplos de «arte popular» pelos canadianos.
Pedro Tercero García
Pedro é filho do caseiro/capataz de «Três-Marias», Pedro Segundo García. Na juventude, apaixona-se por Blanca, tornando-se o pai da sua única filha, Alba. Durante anos, espalha propaganda socialista entre os fazendeiros, tornando-se mais tarde um revolucionário e escritor de canções (podem encontrar-se nesta personagem algumas semelhanças com o cantor revolucionário Victor Jara). Após o golpe de estado no país, procuram, ele e Blanca, exílio na Canadá, com a ajuda de Esteban. Fica a saber-se que aí chegado, retoma a sua cruzada política, já que as suas canções traduzidas obtêm algum sucesso.
Alba García
Alba (equivalente a «Madrugada» em castelhano e «Branca» em latim) é a filha de Blanca e Pedro Tercero García, ainda que durante muito tempo estivesse convencida que o seu pai era o conde Satigny. Ainda antes de nascer, já tinha sido destinada a grandes feitos pela avó Clara. Devido a esta premonição, foi-lhe dito que não era necessário ir à escola, tendo sido criada em casa até aos sete anos. O romance termina com a morte de Esteban, e Alba senta-se durante muito tempo sozinha na mansão Trueba, ao lado do corpo do avô. O último parágrafo revela que está grávida, apesar de ela não saber (ou não querer saber) se a criança é de Miguel ou do violador que encontrou na prisão.