Fazem-me suficientes vezes a pergunta.
«Onde vai buscar inspiração?».
Não estou seguro de que seja esta a melhor formulação para a dúvida que assalta esses curiosos, nem sequer que seja realmente isto que eles querem perguntar.
O que provavelmente querem descobrir é como se transforma o nada em alguma coisa. E aqui, comprovo que tudo passa muito mais pela interpretação da realidade. Aquilo que está à minha disposição, está obviamente também à disposição de qualquer outra pessoa. Não tenho por isso que fazer esforços inauditos para encontrar a denominada matéria-prima. O esforço reside na transformação dessa matéria-prima em algo aceitável.
Todas as formas de arte se alimentam entre si, todos sabemos que existe Escrita na Música, Música na Pintura, Pintura na Escrita e esta no Cinema, sendo quase ilimitado o número de vasos comunicantes.
Dir-se-á, no entanto, que uma coisa é sabermos que tudo isso existe e está disponível, outra completamente diferente é saber utilizar essas ferramentas.
Insisto então na ideia de que tudo passa pela interpretação. Melhor ainda, disponibilidade para a interpretação. Mais do que ver, observar. Mais do que ouvir, escutar. Mais do que provar, saborear. Mais do que respirar, inspirar.
Pois em breve inspirar evolui para inspiração.