Viveu entre 1830 e 1886. Essencialmente uma poetisa, construiu uma obra de cariz moderno e vanguardista.
Nasceu numa casa construída em 1813, pelos seus avós maternos.
Proveniente de uma família abastada, Emily teve uma formação escolar irrepreensível, chegando a frequentar durante um ano o South Hadley Female Seminary. Abandonou o seminário após recusar-se, publicamente, a declarar a sua fé.
Quando findou os estudos, regressou à casa dos pais para cuidar deles com o apoio da irmã Lavínia, já que eram ambas solteiras.
Acabou por se criar um mito em redor de Emily, relacionado com a sua personalidade solitária, ao ponto de ficar conhecida como «A Grande Reclusa». É importante ressalvar, contudo, que este comportamento estava em linha com o modelo de conduta feminina existente no estado de Massachusetts, à época. A autora raramente abdicou desta conduta e em toda a vida fez apenas meia dúzia de viagens: a Filadélfia, para tratar de problemas de visão, a Washington e a Boston. Numa delas, conheceu dois homens que influenciaram bastante a sua vida futura, ao nível da inspiração poética: Charles Wadsworth e Thomas Wentworth Higginson.
Conheceu Charles Wadsworth, um clérigo de 41 anos, numa das viagens até Filadélfia. Alguns críticos consideram-no o destinatário de grande parte dos poemas de amor escritos pela poetisa.
Quase tudo o que se sabe sobre a vida da autora é baseado na correspondência que esta manteve com algumas pessoas. Entre elas estão Susan Dickinson, cunhada e vizinha, colegas de escola, familiares e alguns intelectuais como Samuel Bowles, o casal J. G. Holland, T. W. Higginson e Helen Hunt Jackson. Nessas cartas, além de comentários sobre o quotidiano, surgem também alguns poemas.
Em toda a vida, Emily não publicou mais do que dez poemas, alguns de forma anónima, pelo que a extensa obra só foi reconhecida após a morte. A sua vida discreta e misteriosa desafia até hoje os estudiosos. A sua poesia possui uma liberdade sintáctica única, muito próxima do uso oral da língua, revelando-se densa e paradoxal. Autora de uma literatura enigmática, pode dizer-se que criou um idioma poético próprio, desprezando as fórmulas ou a regularidade convencional. Alguns críticos consideram:
Cruzam-se na sua poesia os traços de um panteísmo espiritualizado, de uma solidão ora serena ora desesperada e de uma visão abismal do Universo e do ser humano. Micro e macrocosmos são compactados em aforismos poéticos.
A partir de elementos triviais, quotidianos, domésticos – do vestuário, por exemplo – bem como de pequenos seres da natureza, Dickinson dá vida às coisas, formando quadros considerados, por vezes, verdadeiramente surreais, embora expresse ideias bastante claras através de uma linguagem muito plástica. Devido a isto, muitos escolhem inseri-la na chamada poesia metafísica, a que se pode somar um certo misticismo.
À excepção de Kafka, não me lembro de nenhum escritor que tenha expressado o desespero com tanta força e constância como Emily Dickinson.
Harold Bloom
Foi somente após a morte da poetisa que a sua família descobriu os 1.775 poemas que compõem a totalidade da sua obra. Apenas uns poucos haviam sido publicados em vida, em diversos periódicos. Nesta antologia bilingue, o leitor terá uma deliciosa amostra do trabalho daquela que, juntamente com Walt Whitman, é considerada um dos grandes nomes da lírica norte-americana do século XIX. São poemas ora de indizível leveza, sobre pequenas coisas do dia-a-dia e a fluidez do tempo, ora composições mais pesadas, que tratam da morte e de tensões psicológicas. Dickinson, verdadeiro espírito livre, pensa e expressa estes versos com uma peculiar sensibilidade que transforma em beleza trágica a brevidade da vida.