Viveu entre 1894 e 1962. De nome completo Edward Estlin Cummings, modificou o nome literário para E. E. Cummings. Foi poeta, ensaísta, dramaturgo e até pintor. Escreveu cerca de 2900 poemas, dois romances autobiográficos, quatro peças de teatro e diversos ensaios.
Cummings está conotado com a poesia modernista, muito em voga no século XX e conhecida entre outras coisas pelo predomínio do verso livre. A maioria dos poemas exibem originalidades sintácticas, tal como a ausência de maiúsculas. Cummings declarou-se politicamente neutro durante grande parte da vida, postura que modificou após o advento da Guerra Fria, altura em que se tornou Republicano e apoiante expresso do presidente Joseph McCarthy. Após uma breve carreira como professor universitário em Harvard nos anos 50, faleceu na década seguinte, já próximo dos 70 anos de idade.
Nasceu em Cambridge, no estado de Massachusetts. O pai era professor na Universidade de Harvard, tendo mais tarde feito carreira como eclesiástico. A mãe era dedicada, participando em frequentes jogos e brincadeiras com Edward e a irmã Elizabeth. O autor sentiu desde cedo que os progenitores o apoiavam nos seus devaneios criativos, sobretudo sob a forma de poemas e desenhos. Entre os amigos da família contavam-se alguns filósofos locais e os Verões eram passados num lago situado no estado de New Hampshire.
Demonstrou desde cedo inclinações espirituais, característica que manteve ao longo da vida. Os diários estão repletos de referências a Deus e orações enquanto veículo de inspiração para o trabalho – poemas e pinturas.
Cummings descobriu a sua vocação – ser poeta – muito cedo, dedicando-se à escrita diária de poemas a partir dos oito anos, ritual que manteve até aos 22. Licenciou-se em Harvard no ano de 1915 e especializou-se em 1916. É nesta fase que descobre a poesia moderna, que se caracterizava por ignorar certas convenções gramaticais e sintácticas, em busca de maior dinamismo linguístico. Logo após os estudos, trabalhou brevemente na área dos livros.
Em 1917, devido à Primeira Guerra Mundial, Cummings alista-se como condutor de ambulâncias juntamente com o colega e amigo John Dos Passos. Porém, à conta de um erro burocrático, acaba por não lhe ser atribuída qualquer missão nas primeiras cinco semanas, pelo que permanece em Paris. Toma-se de amores pela cidade, tendo feito diversas visitas ao longo da vida.
Durante a comissão de serviço, o par de jovens escritores enviava frequentes cartas para casa, cujo conteúdo acabou por chamar a atenção dos censores militares. Preferiam a companhia de soldados franceses à de colegas americanos e ambos demonstravam de forma ostensiva as suas opiniões anti-guerra. Cummings confessa mesmo a sua «incapacidade de odiar» os Alemães. A 21 de Setembro desse ano, cinco meses depois do início da missão, acaba preso juntamente com um colega sob suspeita de espionagem e actividades impróprias. Acabam por cumprir uma pena de três meses e meio num centro de detenção militar na Normandia.
Foram colocados na companhia de outros presos numa divisão enorme. O pai do autor encontrou dificuldades em obter apoio diplomático para a libertação do filho, tendo acabado por escrever ao Presidente Wilson em Dezembro desse ano. Cummings acabou por ser libertado a meio do mês e o colega dois meses depois. O autor usou esta experiência na criação do seu primeiro romance, O Quarto Enorme (1922), acerca do qual F. Scott Fitzgerald afirmou:
De todas as obras que saíram das mãos de jovens autores nos anos 20, apenas uma sobrevive ao esquecimento – O Quarto Enorme de E.E. Cummings.
Cummings havia regressado a casa em 1918, mas ainda nesse ano volta a ser recrutado pelo Exército, tendo lá permanecido até Novembro.
Regressa a Paris em 1921 e vive na cidade durante dois anos antes de voltar a Nova Iorque. Lança a colectânea de poemas «Tulips and Chimneys» em 1923 onde é já evidente o uso original da gramática e sintaxe, o que obriga o editor a fazer cortes substanciais. «XLI Poems and &» é publicado em 1925. A partir daqui, fica estabelecida a sua reputação de poeta vanguardista.
Ao longo das décadas de 20 e 30, Cummings regressa a Paris várias vezes e faz outras viagens pela Europa, travando conhecimento com artistas como Pablo Picasso. No ano de 1931, aventura-se pela União Soviética, tendo partilhado tais experiências na obra «Eimi», editada dois anos depois. Passou ainda pelo Norte de África e pelo México. Entre 1924 e 1927, faz trabalhos para a «Vanity Fair» como retratista e ensaísta.
No ano de 1926, os pais do autor haviam sofrido um desastre de automóvel. Apenas a mãe sobrevive, embora com lesões graves. Cummings descreveu posteriormente o sucedido no volume de ensaios «eu: seis inconferências», saído das conferências que deu em Harvard entre 1952 e 1953:
Uma locomotiva partiu o carro em dois, matando imediatamente o meu pai. Quando dois funcionários saltaram do comboio imobilizado, viram uma mulher em pé – atordoada mas firme – ao lado de um amontoado de metal. O sangue escorria-lhe em torrente da cabeça (como me confidenciou um deles). Uma das mãos (acrescentou o outro), verificava com insistência o vestido, como se não percebesse por que razão se encontrava ensopado. Os homens ampararam aquela mulher de 66 anos nos braços e tentaram guiá-la para uma quinta situada nas proximidades, mas ela sacudiu-os e dirigiu-se para o corpo do meu pai, forçando um pequeno grupo de assustadas testemunhas a cobri-lo. Quando tal se cumpriu (e só nessa altura) permitiu que a levassem.
A morte do pai afectou o autor de forma profunda, provocando-lhe uma mudança na carreira artística. A poesia passou então a focar-se em temas mais sérios, tendo mesmo dedicado um poema à memória do progenitor.
Em 1952, foi oferecido a Cummings o cargo de professor convidado em Harvard.
O autor passou a última década da vida em viagem, a dar conferências e a aproveitar os tempos livres na residência de Verão, em New Hampshire. Morreu de enfarte em 1962, com a idade de 67 anos. Nesta altura, era já o segundo autor mais lido dos EUA e o seu trabalho continua a ser editado postumamente.
Apesar da familiaridade do autor com os vanguardismos literários – decerto influenciado por Guillaume Apollinaire – a maioria dos trabalhos de Cummings é bastante tradicional. Encontram-se inúmeros sonetos, por exemplo, apesar de apimentados com um toque de modernidade. A sua poesia lida quase sempre com os temas do Amor e da Natureza, bem como da relação do Homem com as Massas e o Mundo, num tom quase sempre satírico.
Apesar dos temas e formas revelarem pontos em comum com a tradição do Romantismo, os poemas exibem depois idiossincrasias sintácticas que os tornam originais.
Recebeu influências de conhecidos modernistas, como Gertrude Stein e Ezra Pound, e as várias visitas a Paris acabaram por colocá-lo em contacto com outros movimentos marcantes, como o Dadaísmo e o Surrealismo. Os textos começaram a revelar traços de simbolismo e alegoria, substituindo as mais comuns comparações e metáforas. Isto fez com que os derradeiros trabalhos se revelassem «mais lúcidos, tocantes e profundos que as tentativas iniciais». São também usuais os temas da Natureza e da Morte.
Apesar de alguns poemas utilizarem o verso livre (ausência de regras relacionadas com rimas e métrica), muitos outros apoiam-se na familiar estrutura do soneto com 14 versos. Por outro lado, vários exibem excentricidades tipográficas, nomeadamente palavras, segmentos ou pontuação espalhada pela página, numa aparente desordem só tornada compreensível depois de uma leitura em voz alta. Cummings, que era também pintor, entendia a importância da apresentação, socorrendo-se da tipografia para «criar uma imagem visual» com os textos.
Depois do romance autobiográfico O Quarto Enorme, seguiu-se uma colectânea de poemas intitulada «Tulips and Chimneys» (1923), onde revelou pela primeira vez o uso invulgar dado à gramática e pontuação.
Romance autobiográfico sobre a curta pena de prisão cumprida pelo autor em França, durante a Primeira Guerra Mundial.
Cummings prestou serviço como condutor de ambulâncias durante a Guerra. Em finais de Agosto de 1917, um colega e amigo de nome William Slater Brown (identificado no livro pela letra B), é preso pelas autoridades francesas por expressar ostensivamente através de cartas um conjunto de opiniões anti-militares. Ao ser interrogado, Cummings mostra-se solidário com o companheiro, pelo que também acaba preso.
Durante este período, o pai recebe uma carta enganosa, a informá-lo que o filho pereceu em alto mar. Tal missiva é mais tarde desmentida, mas a ausência geral de informações acerca do verdadeiro destino do autor mergulha o patriarca num estado de grande ansiedade.
Enquanto isso, Cummings e B. são por azar enviados para o campo de prisioneiros poucos dias depois da partida dos comissários responsáveis pela revisão – e possível perdão – das penas, pelo que são obrigados a esperar até Novembro. Quando finalmente regressam, autorizam a sua transferência supervisionada para uma pequena comunidade remota e enviam o amigo B. para uma prisão em Précigné. Contudo, antes de consumado o processo, dá-se a libertação incondicional de Cummings, devido à intervenção da diplomacia americana. Acaba por regressar a Nova Iorque em Janeiro de 1918.
O autor cumpre assim apenas quatro meses de prisão. Nesse período, travou conhecimento com um conjunto de personagens insólitas, que lhe proporcionaram diversas aventuras, a matéria-prima para a obra em causa. A linguagem utilizada é uma mescla entre as conhecidas idiossincrasias gramaticais e o tom sagaz de um intelectual saído de Harvard que se vê colocado numa situação absurda.
O título refere-se – em sentido literal – à enorme divisão onde o autor passava as noites, na companhia de pelo menos mais 30 prisioneiros, mas também serve de alegoria para a mente de Cummings – já que quando descreve os restantes personagens estes ainda vivem, de certa forma, no «quarto enorme» que é o seu cérebro.