Viveu entre 1932 e 1963. Nasceu em Boston. Foi poeta, romancista e contista. Casou com o poeta Ted Hughes em 1956, tendo o casal vivido nos Estados Unidos e depois em Inglaterra. Foram pais de duas crianças, Frieda e Nicholas, antes de se separarem em 1962.
Plath passou grande parte da vida adulta a lutar contra a depressão, tendo sido tratada inúmeras vezes com electrochoques. Acabou por cometer suicídio em 1963.
É conhecida pela sua poesia confessional, cujos melhores exemplos foram reunidos nas colectâneas Ariel e «The Colossus». Na prosa, destaca-se o romance semi-autobiográfico «A Campânula de Vidro», publicado pouco antes da sua morte. Acabará por receber um Pulitzer a título póstumo, em 1982.
Sylvia Plath nasceu em 1932, em Boston, Massachusetts. A mãe era uma americana com ascendência austríaca e o pai, alemão, exercia o cargo de professor de Biologia na Universidade de Boston.
Em 1935 nasce o irmão, Warren, e no ano seguinte a família muda de casa. Plath, com apenas oito anos, publica o seu primeiro poema na secção infantil de um jornal local. Nos anos seguintes, acaba por repetir a experiência diversas vezes, alternando entre jornais e revistas da região. Aos onze anos, começa a manter um diário. A par da escrita, revela também dotes para a pintura, tendo recebido um prémio de alguma importância pelos seus trabalhos, em 1947. De muito cedo dá indícios de estar «extremamente motivada para atingir o sucesso». Diz-se que possuía um QI de 160.
O pai, Otto Plath, morre nos finais de 1940, pouco depois do oitavo aniversário da filha, de complicações relacionadas com diabetes, que já o tinham obrigado a amputar um pé. A sua doença havia surgido pouco depois da morte de um amigo próximo, de cancro pulmonar. Na sequência disto, e fazendo uma apressada comparação entre os sintomas, Otto convenceu-se que padecia do mesmo mal, pelo que não procurou tratamento adequado até ser tarde demais. Estes acontecimentos abalaram as convicções religiosas de Sylvia, tendo esta mantido uma eterna dúvida depois disso. O pai foi enterrado num cemitério de Massachusetts e após uma visita ao local, esta decidiu escrever um poema sobre o assunto. Passado pouco tempo, em 1942, a família restante volta a mudar-se. Sylvia comentará mais tarde que aqueles primeiros nove anos «encapsularam-se em si mesmos, como um navio dentro de uma garrafa – belos, inacessíveis, obsoletos, um mito luminoso, etéreo e agradável». Terminou o secundário em 1950 e logo a seguir viu um dos seus textos publicados pela primeira vez a nível nacional.
Entrou na Faculdade nesse mesmo ano, apresentando excelentes resultados. Numa carta para a mãe, explica-lhe que «o mundo abriu-se aos meus pés, qual melancia madura e sumarenta». Edita um jornal local e no Verão do terceiro ano de estudos é-lhe oferecido um apetecível cargo de editor-convidado de uma revista bem reputada, oportunidade que lhe permitiu passar um mês em Nova Iorque. Contudo, tal experiência não correspondeu às suas expectativas tendo esse acontecimento precipitado uma queda abrupta. Ficou inconsolável com o facto de não estar presente numa reunião que o editor preparara com o poeta galês Dylan Thomas – um autor que ela idolatrava «mais do que a própria vida» segundo um dos seus ex-namorados. Passou boa parte dos dias seguintes a vigiar o hotel e o bar onde se dizia que este estaria, desconhecendo que o autor estava já a caminho de casa. Algumas semanas mais tarde, faz diversos cortes nas pernas, de modo a perceber se tinha «coragem» suficiente para se suicidar. A maioria dos acontecimentos ocorridos nesse Verão serviram mais tarde de inspiração para o romance «A Campânula de Vidro». É também nesta altura que vê ser recusada a candidatura para um seminário de escrita em Harvard. Tudo isto despoleta o primeiro episódio depressivo, tratado com electrochoques. No seguimento disto, Plath faz a sua primeira tentativa de suicídio, em Agosto de 1953, recorrendo aos sedativos da mãe.
Sobreviveu, porém, a este primeiro ensaio, sem que ninguém a tenha conseguido encontrar durante três dias. Sobre a experiência dirá que «sucumbiu a uma maravilhosa escuridão protectora, que sempre considerou o descanso eterno». É internada mais seis meses nos cuidados psiquiátricos, onde foi submetida a novos choques eléctricos e a doses de insulina. Sylvia aparenta recuperar do sucedido e regressa à faculdade. Nos inícios de 1955, entrega a tese, intitulada «O Espelho Mágico: Um Estudo sobre o Duplo em dois romances de Dostoievski». No final desse ano escolar obtém a graduação, com resultados invejáveis.
Recebe uma bolsa de estudo numa Universidade Inglesa, uma de duas exclusivamente compostas por mulheres. Escreve e publica poesia com regularidade no jornal local. As primeiras férias de Natal e Páscoa são passadas a viajar pela Europa.
Plath conheceu o poeta Ted Hughes pela primeira vez em 1956, numa festa estudantil. Mais tarde, em 1961, descreve numa entrevista à BBC como tudo se passou:
Coincidiu estar em Cambridge. Tinha ido lá parar à conta de uma bolsa do Governo Americano. Também tinha lido uns poemas dele numa revista, que me impressionaram muito, pelo que tinha vontade de conhecê-lo. Apareci numa pequena festa e acabámos por nos encontrar lá. A partir daí saímos juntos muitas vezes. De repente, uns meses depois, decidimos casar. Continuámos a escrever poemas um ao outro e acho que as coisas foram avançando à conta disso, do facto de estarmos a escrever tanto e a gostar tanto de o fazer. Pareceu-nos bem continuar esse ritmo.
Sylvia descreve Hughes como um «cantor, contador de histórias, leão e nómada, com uma voz que parecia um trovão divino».
Casam-se no Verão de 1956, em Londres, com a mãe de Plath entre os assistentes, e passam a lua-de-mel em Benidorm, no sul de Espanha. Sylvia regressa em Outubro, para o segundo ano de estudos. Nesta fase, começam a revelar enorme interesse pela astrologia e pelo sobrenatural, chegando mesmo a usar tábuas Ouija.
Um ano depois mudam-se para os Estados Unidos e a partir de Setembro Plath dá aulas na sua alma mater. Contudo, encontra dificuldades em conciliar o ensino com a actividade da escrita – por falta de tempo e energia – pelo que decidem mudar-se para Boston a meio do ano de 1958. Ela aceita um trabalho de recepcionista na unidade psiquiátrica do Hospital de Massachusetts e aproveita as noites para frequentar seminários de escrita criativa, leccionados pelo poeta Robert Lowell (também frequentados por Anne Sexton e George Starbuck).
Lowell e Sexton sugerem que Plath partilhe as suas experiências na escrita, conselho que ela aceita. Confessa a sua depressão a Lowell e as tentativas de suicídio a Sexton, que a influencia para que escreva a partir de uma perspectiva mais feminina. A autora começa então a construir uma persona literária mais séria e focada, quer na poesia quer no conto. É por esta altura que o casal (Plath e Hughes) conhece o poeta W. S. Merwin, que se transforma num amigo duradouro. Entretanto, Sylvia retoma as sessões de psicanálise, em Dezembro.
Plath e Hughes encetam pouco depois uma viagem pelos Estados Unidos e Canadá, hospedando-se a dado momento numa colónia de artistas em Nova Iorque, nos finais de 1959. Plath explica que foi nesta altura que aprendeu a «ser honesta com as suas idiossincrasias», mas mantém reservas em tornar a sua escrita demasiado pessoal. Acabam por regressar a Londres em Dezembro do mesmo ano. A filha, Frieda, nasce a 01 de Abril do ano seguinte. Em Outubro, publica a sua primeira colectânea de poesia: «The Colossus».
Em Fevereiro do ano seguinte, uma segunda gravidez acaba num aborto espontâneo, situação que ela aborda em diversos poemas. Numa carta ao terapeuta, confessa que Hughes lhe bateu dois dias antes do sucedido. Em Agosto conclui o romance semi-autobiográfico «A Campânula de Vidro» e logo em seguida a família muda-se para outra zona de Londres. Nicholas, o segundo filho, nasce em Janeiro de 1962. Em meados desse ano, Hughes começa a cuidar de abelhas, cenário que passará a figurar em muitos poemas de Sylvia.
Em 1961, tinham alugado o velho apartamento a outro casal. Hughes encantou-se imediatamente com a bela mulher, de nome Assia, sentimento que foi recíproco. Em Junho do ano seguinte, Plath tem um acidente de carro, evento que ela confessa fazer parte de um conjunto de tentativas de suicídio. Um mês depois, descobre que o marido está envolvido com Assia Wevill e o casal separa-se em Setembro.
Em Outubro, Plath é dominada por uma enorme veia criativa, tendo escrito nesse período a maioria dos poemas que a tornaram famosa. Pelo menos 26 dos poemas da colectânea póstuma Ariel surgiram nos últimos meses de vida da autora. Em Dezembro, regressa sozinha (com os filhos) ao centro de Londres e aluga – num contrato de cinco anos – um apartamento muito próximo do antigo. Descobre que o poeta William Butler Yeats já lá viveu, situação que a entusiasma e que considera um bom presságio.
O Inverno de 1962/1963 revelou-se o mais gelado em 100 anos: a canalização congelava, as crianças – agora entre dois anos e nove meses – ficavam doentes com frequência e a casa não tinha telefone. O cenário revelou-se terreno fértil para o regresso da depressão, mas Sylvia concluiu os poemas que faltavam para a colectânea que seria publicada postumamente, em 1965/66. O romance já mencionado saiu em 1963, tendo sido publicado sob pseudónimo – Victoria Lucas – e passado despercebido.
Em Janeiro de 1963, Plath falou com o médico de família e com um amigo que vivia na vizinhança: descreveu-lhes o episódio depressivo que a afligia, situação que se arrastava nos últimos seis ou sete meses. Apesar de ser capaz de trabalhar na maioria do tempo, o estado clínico tinha-se agravado, tornando-se severo, «pontuado por uma agitação constante, pensamentos suicidas recorrentes e uma dificuldade progressiva em lidar com o quotidiano». Sylvia debatia-se com insónias – recorrendo a medicação para induzir o sono – e acordava cedo com frequência. Perdeu cerca de dez quilos. Apesar de tudo, procurava manter uma boa aparência física e nunca confessava sentimentos de culpa ou demérito.
O médico de família passou-lhe uma receita de antidepressivos poucos dias antes do evento fatal. Percebendo que se tratava de uma situação de risco, por esta estar sozinha com os dois filhos, relata que a visitava diariamente e fazia todo o possível para convencê-la a ser de novo internada. Sendo incapaz disso, decidiu arranjar-lhe uma enfermeira residente. Há quem especule que devido ao facto dos antidepressivos demorarem cerca de três dias até fazer efeito, a receita possa ter sido passada tarde demais.
A enfermeira tinha chegada marcada para as 09h da manhã do dia 11 de Fevereiro de 1963, de modo a auxiliar Plath com as crianças. Não conseguiu entrar no apartamento, mas acabou por forçar essa entrada com a ajuda de um vizinho. Acto contínuo, descobrem Sylvia morta, intoxicada com monóxido de carbono depois de ter selado a cozinha do resto da casa com a ajuda de fita, panos e toalhas, e ter enfiado a cabeça no forno. Tais acções terão ocorrido perto das 04h30 da manhã. Contava apenas 30 anos.
Surgiram vozes a afirmar que Plath não tinha real intenção de se suicidar. Na manhã anterior, teria perguntado ao vizinho de baixo a que horas planeava sair de casa. Deixou também um bilhete com o número do médico de família e uma nota que dizia «Ligar ao doutor». Estes detalhes fazem crer que esta teria ligado o gás a uma hora que permitia ainda que alguém encontrasse o bilhete a tempo. Por outro lado, a biografia da sua melhor amiga comprova que «…de acordo com as autoridades, a cabeça estava completamente presa no forno, comprovando o seu real desejo de morrer». O médico de família concorda, dizendo: «Ninguém que tenha visto o detalhe com que a cozinha foi selada pode ter qualquer dúvida acerca das suas reais intenções. Ninguém faz aqueles preparativos por impulso». Plath descreveu a natureza do seu desespero como «garras de coruja a asfixiarem-lhe o coração». Um amigo escritor descreve a situação como «um grito por ajuda que ficou sem resposta» e confessa muitos anos depois que lamenta profundamente não ter sido capaz de lhe prestar o devido auxílio: «Falhei nesse campo. Tinha 30 anos e era um idiota. Que podia eu saber sobre depressão crónica? Ela precisava de facto de alguém que cuidasse dela e eu não era a pessoa certa para isso».
Hughes ficou inconsolável, tendo afirmado: «A minha vida acabou. A partir de agora tudo é póstumo». Os fãs mais acérrimos de Sylvia contudo, ficaram pouco convencidos e vandalizavam frequentemente a pedra tumular da autora de modo a rasparem o nome «Hughes». Tal hábito intensificou-se quando a amante deste, Assia Wevill, se suicidou juntamente com a filha de quatro anos, em 1969, de um modo muito semelhante ao de Plath, uma vez que esse gesto parecia confirmar os boatos de que Hughes era um homem abusivo para com ambas. Choveram críticas, acusações, processos jurídicos, ameaças de morte.
A situação nunca caiu no esquecimento e o poeta permaneceu sob ataque público cerrado, pelo menos até 1989. Em sua defesa, afirmou:
Nos primeiros anos após a morte (de Sylvia), quando era abordado por biógrafos, tentava sempre acreditar que a curiosidade que revelavam era honesta, que estavam mesmo interessados nos factos. Mas acabei por me desenganar. (…) Sempre que me esforçava ao máximo para corrigir uma fantasia qualquer, contando-lhes exactamente o que acontecera, acabava por ser acusado de tentar suprimir o direito ao contraditório. Em geral, a minha recusa em alimentar seja de que forma for o «Mito Plath» tem sido vista como intolerância ou ditadura do pensamento. (…) O «Mito Plath» é mais agradável do que a verdade sobre Sylvia. Não sei de que forma pode essa atitude respeitar os factos sobre a vida dela (e sobre a minha), a sua memória ou até a sua obra literária.
Hughes acabou por falecer em 1998. Quanto aos filhos de ambos, Frieda é escritora e artista e Nicholas, depois de um historial depressivo, acabou por também cometer suicídio, em 2009.
Os primeiros poemas de Sylvia Plath revelam já as metáforas e temas que a tornaram famosa: a lua, sangue, hospitais, fetos, crânios. Apesar de tudo, eram ainda «imitações» de poetas que ela admirava, como Dylan Thomas ou W. B. Yeats.
Depois de 1960, os textos ganharam uma paisagem temática ainda mais surreal, enegrecida por uma noção de aprisionamento e morte próxima, sempre assombrada pela presença do pai. «The Colossus» está recheado de temas como a morte, redenção e ressurreição. Depois de abandonar Hughes, Plath produziu, em menos de dois meses, 40 dos seus poemas mais famosos, plenos de raiva, desespero, amor e vingança, trabalho que lhe consolidou em definitivo a reputação.
Os poemas de Ariel marcam assim uma transição entre os primeiros trabalhos/temas e uma temática mais pessoal. Publicado postumamente em 1966, o impacto dessa obra foi enorme, devido às descrições sombrias e certamente autobiográficas acerca da doença mental, visíveis em poemas como «Túlipas», «Paizinho» e «A Senhora Lazarus». O seu estilo é muitas vezes inserido no género conhecido como poesia confessional:
Nos seus trabalhos mais maduros, Plath recorre a detalhes do quotidiano enquanto matéria-prima. Um visitante ocasional, um telefonema inesperado, um corte, uma pancada, uma peça de loiça, uma vela – tudo passou a ser utilizável e revestido de significado, transformado noutra coisa. Os poemas estão cheios de referências e imagens que parecem enigmáticas para o incauto, mas que podiam ser transformadas em rodapés por biógrafos com conhecimento total acerca da vida de Sylvia. Os críticos referem-se a estes elementos enquanto «surreal doméstico». O poema «Canção da Manhã» é considerado um dos melhores do séc. XX.
A amiga e também poeta confessional Anne Sexton partilha:
Sylvia e eu debatíamos em detalhe a nossa primeira tentativa de suicídio – enquanto petiscávamos umas batatas fritas. Afinal, o suicídio é o contrário do poema. Agíamos como espelhos uma da outra. A morte estava sempre presente com grande intensidade, ambas atraídas por ela como traças pela lâmpada, sempre a desafiá-la. Contou-me a história da sua primeira tentativa com intrincados detalhes, episódio que está presente em «Uma Campânula de Vidro».
Este lado confessional criou também detractores, que consideram tais trabalhos uma desnecessária exposição de sentimentalismo melodramático e de auto-comiseração. Plath é mesmo tida por alguns como «a rainha da dramatização».
Quanto ao romance semi-autobiográfico, cuja publicação a mãe de Sylvia tentou impedir, acabou por sair em 1963 e depois em território americano, em 1971. Plath tentou explicar a obra à mãe da seguinte forma:
O que fiz foi juntar eventos reais com aspectos fictícios para lhe aumentar o interesse. É algo polémico admito, mas penso que irá demonstrar até que ponto uma pessoa se pode sentir isolada quando padece de um esgotamento nervoso….tentei imaginar o meu mundo e as pessoas nele presentes como se observasse tudo através da imagem distorcida de uma campânula de vidro.
Acrescentou ainda, noutro contexto, que a obra era tão-somente «um trabalho autobiográfico amador, que precisava de escrever para me libertar do passado».
Segunda colectânea de poesia, publicada pela primeira vez em 1965, dois anos após o suicídio da autora. Os poemas presentes, com as suas imagens psicológicas recorrentes e paisagens sombrias, marcam uma enorme transição em relação ao anterior trabalho.