Jack Kerouac

Kerouac_by_Palumbo_2-e1518467210120Viveu entre 1922 e 1969. Romancista e poeta de origem franco-canadiana.

Considerado um iconoclasta literário, pioneiro da Geração Beat juntamente com William S. Burroughs e Allen Ginsberg. Ficou conhecido pela sua «prosa espontânea», versando temas como a Religião (Catolicismo e Budismo), o Jazz, a Promiscuidade, as Drogas, a Pobreza e a Viagem. Tornou-se uma celebridade do meio «alternativo», tendo abraçado o movimento hippie, ainda que discordasse de certas atitudes mais radicais inerentes ao mesmo.

Morreu em 1969, com apenas 47 anos, à conta de uma hemorragia abdominal provocada por uma vida inteira de alcoolismo. O seu prestígio cresceu após a morte, tendo sido publicadas várias obras a título póstumo.

 

Jack Kerouac nasceu a 12 de Março de 1922, em Lowell, Massachusetts, de pais franco-canadianos.

Perdeu um irmão mais velho – Gerard – logo em 1926, devido a febre reumatóide, com apenas nove anos. O episódio afectou-o profundamente (tinha apenas quatro anos), afirmando com frequência que o irmão o acompanhava pela vida como um «anjo da guarda». Teve outra irmã, também mais velha, chamada Caroline. Kerouac era conhecido na infância como «pequeno Jack».

Começou por falar francês, até aprender inglês aos seis anos, embora tivesse algumas dificuldades de expressão nesta última até ao fim da adolescência. Era uma criança séria, muito ligado à mãe, que teve um papel essencial na sua vida. Esta era uma católica devota, tendo passado esse sentimento a ambos os filhos. Kerouac chegaria mesmo a afirmar que a sua mãe foi a única mulher que amou verdadeiramente. A morte de Gerard fez com que esta procurasse abrigo na fé, ao contrário do pai, que preferiu entregar-se à bebida, ao jogo e ao tabaco.

O autor tinha alguma poesia escrita em francês, tendo mesmo confessado ao amigo Allen Ginsberg, numa fase mais adiantada da vida, o desejo de voltar a expressar-se nessa língua.

Por volta de 1928, com apenas seis anos, Kerouac experimentou a sua primeira Confissão. Como penitência, foi-lhe dito que rezasse o terço, durante o qual Jack alega ter ouvido a voz de Deus. Este ter-lhe-ia «dito» que tinha uma alma pura e que seria salvo no final, apesar de ter à sua espera uma vida de sofrimento e uma morte dolorosa e assustadora. Tal experiência, a juntar à visão que o irmão Gerard terá tido da Virgem pouco antes de morrer, à sua fé católica e a alguns estudos sobre o Budismo, revelar-se-iam os alicerces da sua visão do mundo e do seu trabalho literário.

Contraditoriamente, existem episódios de algum desrespeito e desprezo para com a figura do homem religioso, sobretudo quando o pai expulsou um padre de casa com violência após a morte do filho ou esmurrou um rabino que não se desviava do seu caminho.

A capacidade atlética de Jack valeu-lhe na juventude uma bolsa universitária em Nova Iorque, enquanto jogador de futebol americano. No entanto, acabou por partir uma perna no primeiro ano e arranjou problemas com o treinador no segundo, queixando-se de ficar sempre no banco. Estreou-se por essa altura na escrita, ao redigir alguns artigos desportivos no jornal da escola.

Assim que a sua «carreira» futebolística terminou, Kerouac desistiu da Universidade. Continuou no entanto a viver na cidade mais algum tempo com a namorada e futura mulher, Edie Parker. Foi nesta altura que conheceu os integrantes do (famoso) grupo mais tarde conhecido por Geração Beat, aos quais esteve sempre associado e que lhe forneceram inspiração para muitos dos seus trabalhos. Aqui se incluem Allen Ginsberg, Neal Cassady, John Clellon Holmes, Herbert Huncke, Lucien Carr e William S. Burroughs.

Kerouac alistou-se na Marinha mercante em 1942 e na Marinha em 1943, mas adoeceu logo na primeira semana. De acordo com o relatório médico, este «pediu uma aspirina para lidar com a dor de cabeça, mas foi-lhe diagnosticada ‘demência precoce’». O médico de serviço reportou ainda que a capacidade de adaptação do autor à vida militar era muito fraca, citando o próprio: «Não aguento, simplesmente. Quero ser eu próprio». Dois dias depois foi dispensado por motivos psiquiátricos e considerado «de natureza apática e com possíveis problemas mentais».

Ainda durante o tempo que passou na Marinha mercante, Kerouac escreveu o primeiro romance, «The Sea Is My Brother». Apesar de escrito em 1942, foi publicado apenas em 2011, 42 anos depois da morte do autor e quase 70 depois de ter sido escrito. Jack descreveu o trabalho como sendo acerca da «revolta simples de um homem perante a sociedade tal como ela está, com todas as desigualdades, frustração e sofrimentos auto-infligidos». Acabou por considerar o resultado um fracasso, apelidando-o de «literatura miserável» e nunca se esforçou por publicar.

Já em 1944, Kerouac foi preso enquanto testemunha material no homicídio de um tal David Kammerer, que vinha desde há algum tempo a assediar um dos amigos de Jack, Lucien Carr, originário de St. Louis. William Burroughs era seu conterrâneo, tendo sido através de Carr que este conhecera Kerouac e Allen Ginsberg. Segundo Carr, a obsessão homossexual de Kammerer tornara-se violenta, obrigando o primeiro a esfaqueá-lo em legítima defesa. Carr atirou o corpo ao rio Hudson e pediu ajuda a Kerouac. Este viu-se livre da arma do crime e enterrou os óculos da vítima. Carr, encorajado por Burroughs, entregou-se depois à Polícia. Kerouac e Burroughs foram então detidos como testemunhas materiais. O pai de Jack recusou-se a pagar a fiança, mas o filho prometeu casar com Edie Parker se este mudasse de ideias. (O casamento acabaria por ser anulado em 1948). Kerouac e Burroughs escreveram depois um romance em conjunto acerca do sucedido, de seu nome «E os Hipopótamos Cozeram nos seus Tanques». Mais uma vez, o trabalho só viu a luz do dia muitos anos depois (2008).

Mais tarde, o autor viveu próximo dos pais, numa zona do bairro de Queens conhecida como Ozone Park. Escreveu então o primeiro trabalho publicado, «The Town and the City», e começou ainda o famoso Pela Estrada Fora por volta de 1949. Foi nessa altura apelidado pelos amigos de «Feiticeiro de Ozone Park», uma mescla humorística entre a alcunha de Thomas Edison (Feiticeiro de Menlo Park) e o filme «O Feiticeiro de Oz».

«The Town and the City» foi publicado em 1950 sob o pseudónimo «John Kerouac» mas apesar de algumas críticas favoráveis, vendeu poucos exemplares. Apresentando fortes influências de Thomas Wolfe, versa sobretudo acerca dos contrastes entre as pequenas cidades e a vida ampla e multi-dimensional das grandes urbes. Sofreu grandes cortes antes da publicação, na ordem das 400 páginas.

Kerouac continuou a escrever com regularidade nos seis anos seguintes. Aperfeiçoando rascunhos que exibiam títulos tentadores como «A Geração Beat» ou «Perdido na Estrada», o autor concluiu o trabalho hoje titulado Pela Estrada Fora em Abril de 1951. Por esta altura, vivia em Manhattan com a sua segunda mulher, Joan Haverty. O livro é bastante autobiográfico, focando-se nas viagens aventurosas do autor pelas estradas dos EUA e do México na companhia do amigo Neal Cassady, em finais dos anos 40, princípios de 50 e nas amizades com outros escritores dessa geração. A primeira versão ficou concluída após um período de prosa confessional que lhe ocupou três semanas. Aprimorou depois o texto final em 20 dias, durante os quais contou com a ajuda da mulher para obter medicamentos, cigarros, latas de sopa de ervilha e chávenas de café. Antes de começar, Kerouac cortava folhas de papel vegetal em longas tiras, da largura da máquina de escrever e unia-as com fita-cola em rolos de 37 metros, que depois prendia na máquina. Isto permitia-lhe escrever constantemente, sem ter de fazer pausas para introduzir novas folhas. O texto resultante não continha nem capítulos nem parágrafos, sendo o conteúdo muito mais explícito que o contido na versão mais tarde publicada. Apesar de «espontâneo», o autor tinha feito uma profunda preparação prévia, sobretudo através do registo dos eventos em diversos diários.

Apesar de ter o trabalho pronto em curto espaço de tempo, Kerouac demorou bastante a encontrar um editor disponível. Antes do manuscrito ser finalmente aceite, viu-se obrigado a trabalhar nos caminhos-de-ferro, fazendo viagens frequentes entre as duas costas (Leste e Oeste), de modo a poder sustentar-se. Encontrava tempo e espaço para escrever na casa da mãe. Nesta fase, conheceu e tornou-se amigo de Abe Green, um colega de trabalho que depois o apresentou a Herbert Huncke, um pequeno criminoso amigo de muitos escritores da Geração. Por esta altura, começou a preparar o manuscrito daquela que apelidou de «obra da sua vida»: «Duluoz, o Vaidoso». Entre 1955-1956, viveu períodos na casa da irmã, conhecida como «Nin», onde meditava e estudava sobre o Budismo.

Os editores começaram por rejeitar Pela Estrada Fora devido ao estilo experimentalista da escrita e ao conteúdo sexual. Muitos deles também hesitavam em publicar um livro que continha, para a época, descrições demasiado gráficas de consumo de drogas e comportamentos homossexuais. Fazê-lo, podia resultar num processo judicial por obscenidade, algo que acabou por acontecer com «Festim Nu» de Burroughs e «Uivo», de Ginsberg.

Segundo Kerouac, Pela Estrada Fora era de facto «uma história acerca da viagem de dois amigos católicos pelo país, em busca de Deus. E encontrámo-lo». De acordo com analistas, o livro tem sido considerado uma narrativa acerca de dois amigos em busca de aventuras, quando o mais importante a reter é que Jack era católico – a relembrá-lo, quase todas as páginas do seu diário continham desenhos de crucifixos, orações ou frases religiosas.

Na Primavera de 1951, apesar de grávida, Joan Haverty saiu de casa e divorciou-se de Jack. Em Fevereiro do ano seguinte, deu à luz a única filha do autor, Jan Kerouac. Este recusou-se a assumir a paternidade durante nove anos, até que um teste clínico comprovou o facto. Continuou a viajar pelos EUA e México e a escrever. Lidava frequentes vezes com episódios de alcoolismo e depressão. Nesta fase, concluiu primeiras versões do que mais tarde seriam múltiplos romances, incluindo «Os Subterrâneos» e «Tristessa».

Em 1953, passou a maior parte do tempo em Nova Iorque, envolvendo-se alguns meses com uma mulher afro-americana. O tórrido romance inspirou a personagem «Mardou» presente no romance «Os Subterrâneos».

Kerouac acumulou inimizades nos dois campos políticos. Se a Direita desprezava as suas experiências e descrições sobre drogas e libertinagem sexual, a Esquerda criticava as suas convicções anti-comunistas e o seu catolicismo. O autor clama, num dos seus textos: «Na Universidade, estavam sempre a doutrinar-nos sobre Marx, como se isso me interessasse».

Aquando da publicação de Pela Estrada Fora, em 1957, o texto sofreu grandes cortes e os nomes das personagens foram alterados, para evitar processos judiciais. Estes factos levaram os críticos do autor a colocar em causa a suposta «espontaneidade» da obra.

Em Julho de 1957, Kerouac mudou-se para uma pequena casa na Florida, enquanto esperava pela publicação de Pela Estrada Fora. Algumas semanas depois, uma crítica no «The New York Times» elegia-o «a voz de uma nova geração» e o autor ascendeu à categoria de «grande escritor americano». A sua amizade com Allen Ginsberg, William S. Burroughs e Gregory Corso, entre outros, deu origem à Geração Beat. O termo foi inventado por Kerouac durante uma conversa com o romancista Herbert Huncke. Este usou o termo «beat» para se referir a alguém «com pouco dinheiro e poucos planos». Esta fama assoberbou Kerouac de forma incontrolável e estaria mais tarde na origem da sua queda.

Este passou a ser conhecido como «o Rei da Geração Beat», carimbo que sempre o deixou desconfortável, tendo mesmo comentado a dada altura:

Não sou um Beatnik, sou um Católico. Estão a ver este retrato de Paulo VI? Sabem quem pintou isto? Eu.

A fama instantânea fez com que os editores pedissem outros manuscritos para publicação, antes rejeitados. Após nove meses agitados, o autor deixou de se sentir seguro em público, tendo mesmo sido agredido com gravidade por três homens à saída de um café, numa certa noite. Neal Cassady, tornado famoso a partir do momento em que foi identificado enquanto personagem central do livro, acabou preso e acusado de vender marijuana.

Procurando reagir, Kerouac decidiu partilhar em livro algumas das suas experiências com o Budismo, em paralelo com as suas aventuras na companhia de Gary Snyder e outros poetas da zona de São Francisco. O resultado foi «Os Vagabundos do Dharma», publicado em 1958.

O resultado, contudo, não foi o esperado, já que o autor acabou por ser criticado por figuras proeminentes do Budismo nos EUA. Após diversos desentendimentos e discussões, sentiu que os outros o consideravam «um impostor», tendo afirmado:

Tornei-me tão decadente e alcoolizado que já não quero saber de nada. Deixei de ser Budista.

Muitos consideram esta reacção uma prova do crescente «descontrolo emocional de Kerouac, marcado por declínio espiritual e progressiva adulação».

Nos anos seguintes, o autor teria ainda de lidar com a morte da irmã mais velha, à conta de um enfarte (1964) e com uma trombose da mãe, em 1966. Para terminar, o amigo Neal Cassady também falece, durante uma estadia no México (1968).

Por volta das 11h da manhã de um dia de Outubro de 1969, Kerouac encontrava-se na Florida, a trabalhar num novo manuscrito e a beber whisky. Sentiu uma náusea repentina e foi à casa de banho, tendo começado a vomitar sangue. Levado para um hospital próximo, concluiu-se que tinha sofrido uma hemorragia abdominal. Recebeu diversas transfusões de sangue e ainda foi tentada uma cirurgia, mas o péssimo estado do fígado minou todos os esforços.

Morreu no dia seguinte, sem nunca ter recuperado a consciência.

Vivia na altura com a sua terceira mulher, Stella Sampas Kerouac e com a mãe, que herdou a maioria dos bens.

 

O estilo do autor era fortemente baseado no jazz, sobretudo Charlie Parker, Dizzy Gillespie e Thelonious Monk. Kerouac definia-o como «prosa espontânea». Tratam-se sobretudo de romances autobiográficos (roman à clef), acerca da sua vida e de pessoas com quem interagia.

Como características principais, encontramos a ideia da «respiração» (retirada do jazz e da meditação budista), improviso e parca revisão. Associada estava a eliminação do ponto final, substituído por um travessão, fazendo com que, lido em voz alta, o texto ganhasse um determinado ritmo e fluência musicais.

Kerouac passava horas, quase sempre alcoolizado, a descrever este método a amigos e desconhecidos. Allen Ginsberg, inicialmente pouco impressionado, tornar-se-ia num dos seus maiores admiradores, tendo mesmo sido inspirado por Kerouac aquando da feitura do seu poema «Uivo».


250xObra baseada nas viagens do autor e amigos pelos EUA. Considerado um livro essencial e definidor do Pós-Guerra e da Contracultura, cujos protagonistas se entregam a uma vida influenciada pelo jazz, poesia e consumo de drogas. Publicado em 1957, o texto descreve muitas das figuras essenciais dessa geração, como William S. Burroughs (Old Bull Lee), Allen Ginsberg (Carlo Marx) e Neal Cassady (Dean Moriarty), para além do próprio Kerouac enquanto narrador, chamado Sal Paradise.

As duas personagens principais são precisamente Sal Paradise e o seu amigo Dean Moriarty, muito admirado pelo seu temperamento descontraído e aventureiro, um rebelde de espírito livre ansioso por viver todo o tipo de experiências, revelando-se a  principal inspiração e motivação para as viagens de Sal. O romance está dividido em cinco partes, três delas acerca das viagens efectuadas com Moriarty. Decorre entre os anos de 1947 e 1950 e está recheado de cultura popular americana.

 

Parte Um

A primeira parte descreve a viagem de Sal a São Francisco. Abatido depois de um divórcio, a sua vida muda ao conhecer Dean Moriarty, alguém «tremendamente entusiasmado com a existência» e que o relembra da liberdade inerente ao nomadismo: «Algures no percurso sabia que iriam surgir as mulheres, as visões, tudo, algures no percurso as pérolas começariam a surgir». Arranca em Julho de 1947, com cinquenta dólares no bolso. Depois de vários autocarros e boleias, acaba por chegar a Denver, onde recebe apoio de Carlo Marx, Dean e outros amigos. Não faltam festas – incluindo uma excursão à cidade fantasma de Central City. Sal volta a partir, mais cedo ou mais tarde, desta vez rumo a São Francisco, onde se encontra com Remi Boncoeur e a namorada deste, Lee Ann. Remi arranja-lhe um trabalho de guarda-nocturno num alojamento para marinheiros mercantes, que aguardam navio para embarcar. Não estabiliza por muito tempo, regressando à estrada. «Por onde andará a mulher que amo?», lamenta. Conhece então Terry, «uma miúda mexicana muito gira», num autocarro com destino a Los Angeles. Viajam juntos, passando por Bakersfield e depois Sabinal, «a terra natal dela», onde conhece a família da companheira, que se dedica à agricultura. O irmão desta, Ricky, ensina-lhe o verdadeiro significado de «mañana» (amanhã). Experimenta trabalhar na apanha de algodão, mas conclui que não foi feito para aquele tipo de vida. Despede-se de Terry e apanha novo autocarro de regresso a Times Square, em Nova Iorque. Ao chegar a casa da tia, em Paterson, percebe que se desencontrou com Dean, que o tinha vindo visitar dois dias antes.

 

Parte Dois

Em Dezembro de 1948, Sal prepara-se para celebrar o Natal com a família no estado da Virgínia, quando recebe a visita de Dean, acompanhado de Marylou (deixou a segunda mulher, Camille, e a filha recém-nascida, Amy, em São Francisco) e de Ed Dunkel. Isto estraga os planos de Sal uma vez que agora «o bichinho das viagens regressava, um bichinho chamado Dean Moriarty». Arrancam primeiro para Nova Iorque, juntando-se a Carlo e restante grupo. Dean sugere que Sal durma com Marylou, mas este recusa. Já em Janeiro de 1949, partem rumo a Nova Orleães. De caminho, visitam um amigo viciado em morfina, Old Bull Lee, e a mulher deste, Jane. Galatea Dunkel junta-se ao marido em Nova Orleães enquanto Sal, Dean e Marylou seguem viagem. De regresso a São Francisco, Dean descarta Marylou e volta para Camille. «O Dean é capaz de te deixar a dormir ao relento sempre que isso for do seu interesse», comenta Marylou com Sal. Acabam por ficar os dois brevemente num hotel, mas ela depressa volta a partir, acompanhada por um gerente de clube nocturno. Sal fica entregue a si próprio e lida com visões de vidas passadas, de nascimento e de renascimento. Dean acaba por encontrá-lo e convida-o a passar uns tempos com a sua família. Saem juntos à noite, frequentando clubes para ouvir Slim Gaillard e outros músicos de jazz. No entanto, esta fase acaba envolta em alguma amargura: «Não encontro utilidade para o tempo que passei aqui». Acaba por partir de regresso a casa.

 

Parte Três

Chegada a Primavera de 1949, Sal volta a apanhar um autocarro rumo a Denver. Sente-se deprimido e sozinho, já que nenhum dos amigos está por perto. Depois de receber algum dinheiro, faz nova viagem para São Francisco, para mais uma visita a Dean. Camille está grávida e infeliz, e o amigo magoou o dedo ao tentar bater em Marylou por esta dormir com outros homens. Camille acaba por expulsá-los e Sal sugere ao outro regressarem a Nova Iorque, de modo a planearem uma viagem a Itália. Encontram-se com Galatea, que se zanga com Dean: «Só te preocupas contigo e com os teus pequenos prazeres». Sal reconhece que ela tem razão, mas acaba por defendê-lo, já que «ele conhece o segredo que todos procuramos». Depois de outra noite de jazz e bebedeira, partem. A caminho de Sacramento, conhecem um «maricas» que lhes faz uma proposta. Dean tenta lucrar com a situação, sem sucesso. Nesta fase da viagem, o par envolve-se em longas discussões filosóficas e existenciais. Em Denver, um ligeiro desentendimento prova a crescente animosidade entre ambos. Dean provoca o outro, relembrando-lhe a idade (Sal é mais velho). Ganham acesso a um Cadillac, comprometendo-se a conduzi-lo até Chicago. Dean conduz o tempo quase todo, meio louco e irresponsável, muitas vezes em excesso de velocidade e acaba por entregar o carro num estado lastimável. Apanham depois um autocarro até Detroit e passam uma noite divagante, com Dean a tentar encontrar o pai indigente. Dali apanham boleia para casa, seguindo para o novo apartamento da tia de Sal, em Long Island. Nessa noite frequentam outra festa, na qual Dean conhece Inez, dormindo com ela e engravidando-a.

 

Parte Quatro

Um ano mais tarde, Sal recupera a vontade de viajar. Dean arranjou trabalho como funcionário de um parque de estacionamento, em Manhattan, e vive com a nova namorada, Inez. Sal conclui que o amigo se deixou enredar (e reduzir) na vida quotidiana – que inclui ouvir relatos na rádio e espreitar imagens eróticas. Segue viagem sozinho, passando por Washington, D.C., Ashland, Cincinnati e St. Louis, até chegar de novo a Denver. Encontra-se com Stan Shephard e os dois começam a planear uma ida à Cidade do México, ficando entretanto a saber que Dean comprou um carro e vem a caminho. Acabam por seguir os três através do Texas, atravessando depois a fronteira. Estão eufóricos, tendo «deixado tudo para trás e estando agora diante de uma nova e desconhecida realidade». Descobrem que ali os preços são reduzidos, a Polícia é indolente, as drogas são fáceis de obter e as pessoas são curiosas e afáveis. As paisagens são impressionantes. Travam conhecimento com Victor, um miúdo local que os encaminha para um bordel onde fazem uma «última grande festa», que inclui dança, álcool e sexo com prostitutas. Entretanto, Sal adoece com disenteria e passa uns tempos «delirante e inconsciente». Dean abandona-o e o outro confessa: «quando melhorei, percebi o sacana que ele era, mas ao mesmo tempo procurei analisar a extrema complexidade da sua vida, que o obrigara a abandonar-me ali doente, de modo a poder atender as suas mulheres e problemas associados».

 

Parte Cinco

Dean, tendo obtido os papéis do divórcio no México, regressara de pronto a Nova Iorque para se casar com Inez, mas de imediato a deixa e volta para Camille. Depois de recuperar da doença, Sal regressa a casa no Outono. Conhece outra mulher, Laura, e faz planos para viver com ela em São Francisco. Escreve a Dean a contar-lhe tudo. Este responde, confirmando a sua intenção de os acompanhar. O amigo chega cinco semanas antes do previsto, mas Sal saiu para um passeio nocturno e solitário. Ao regressar, encontra um exemplar de Proust e percebe que o amigo chegou mais cedo. O problema, contudo, é que a diferença de datas não permite que Sal tenha fundos suficientes para encetar a viagem. Ao saber disto, o outro arrepende-se e volta uma vez mais para Camille. A caminho de um concerto de Duke Ellington, Remi Boncoeur recusa aceder ao pedido de Sal, no sentido de dar uma boleia a Dean. Laura percebe que se trata de um momento difícil e obriga Sal a reagir ao facto de todos partirem sem Dean. «Ele safa-se», responde ele. Mais tarde, noutro passeio nocturno, relembra tudo o que fizeram juntos, afirmando: «Penso em Dean Moriarty, penso até em Old Dean Moriarty, o patriarca que nunca encontrámos, mas penso sobretudo em Dean Moriarty».

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