Anos 50-70 – Miguel Torga

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Viveu entre 1907 e 1995. Foi um dos mais influentes escritores do século XX. Destacou-se como poeta, contista e memorialista, mas escreveu também romances, peças de teatro e ensaios.

Nasceu na localidade de São Martinho de Anta, em Vila Real. Oriundo de uma família humilde de Sabrosa, era filho de Francisco Correia Rocha e Maria da Conceição Barros.

Em 1917, aos dez anos, foi para uma casa apalaçada do Porto, habitada por parentes. Fardado de branco, servia de moço de recados, regava o jardim, limpava o pó, polia os metais da escadaria nobre e atendia campainhas. Foi despedido um ano depois, devido à constante insubmissão. Em 1918 foi mandado para o seminário de Lamego, onde viveu um dos anos cruciais da sua vida. Estudou Português, Geografia e História, aprendeu Latim e ganhou familiaridade com os textos sagrados. Pouco depois comunicou ao pai que não seria padre.

Emigrou para o Brasil em 1920, ainda com treze anos, para trabalhar com o tio, proprietário de uma fazenda de café em Minas Gerais. Ao fim de quatro anos, o protector apercebe-se da inteligência do rapaz e patrocina-lhe os estudos liceais no Ginásio Leopoldense, em Leopoldina. Distingue-se como um aluno dotado. Em 1925, convicto de que ele viria a ser doutor em Coimbra, o tio propôs pagar-lhe os estudos como recompensa pelos cinco anos de serviço, pelo que regressou a Portugal e concluiu os estudos liceais.

Em 1928, entra para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publica o seu primeiro livro de poemas, «Ansiedade». Em 1929, com vinte e dois anos, deu início à colaboração na revista «Presença», folha de arte e crítica, com o poema «Altitudes». A revista, fundada em 1927 pelo grupo literário avançado de José Régio, Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca era bandeira literária do grupo modernista e bandeira libertária da revolução modernista. Em 1930, rompe definitivamente com a revista, tal como Edmundo Bettencourt e Branquinho da Fonseca, por «razões de discordância estética e razões de liberdade humana», assumindo uma posição independente. Nesse ano, publica o livro «Rampa», lançando no ano seguinte «Tributo» e «Pão Ázimo». Já em 1932, segue-se «Abismo». Em colaboração com Branquinho da Fonseca, funda a revista «Sinal», de efémera duração e em 1936 lança, juntamente com Albano Nogueira, o periódico «Manifesto». Nesse ano, publica «O Outro Livro de Job».

Em 1934, aos 27 anos, Adolfo Correia Rocha cria o pseudónimo «Miguel Torga». Miguel, em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. Torga é uma planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho, com um caule incrivelmente rectilíneo.

A obra de Torga traduz a sua rebeldia contra as injustiças e seu inconformismo diante dos abusos de poder. Reflecte a sua origem aldeã, a experiência médica em contacto com a gente pobre e ainda os cinco anos que passou no Brasil (dos 13 aos 18 anos de idade), período que deixou impresso em «Traço de União» (1955) e num personagem que lhe servia de alter-ego em «A Criação do Mundo», obra de ficção em vários volumes publicada entre 1937 e 1939. As críticas que fez aí ao franquismo resultaram na sua prisão (1940). Publica os livros «A Terceira Voz» em 1934, onde pela primeira vez empregou o seu pseudónimo, «Bichos» em 1940, Contos da Montanha em 1941, «Rua» em 1942, «O Sr. Ventura» e «Lamentação» em 1943, «Novos Contos da Montanha» e «Libertação» em 1944, «Vindima» em 1945, «Sinfonia» em 1947, «Nihil Sibi» em 1948, «Cântico do Homem» em 1950, «Pedras Lavradas» em 1951, «Poemas Ibéricos» em 1952 e «Orfeu Rebelde» em 1958.

Crítico da praxe e das restantes tradições académicas, chama depreciativamente «farda» à capa e batina. Ama a cidade de Leiria, onde exerce a sua profissão de médico a partir de 1939 e até 1942, onde escreve a maioria dos seus livros. Logo em 1933, concluíra a licenciatura em Medicina pela Universidade de Coimbra. Começou a exercer a profissão nas terras agrestes transmontanas, pano de fundo de grande parte da sua obra. Dividiu o seu tempo entre a clínica de otorrinolaringologia e a Literatura. Após a Revolução dos Cravos que derrubou o Estado Novo, em 1974, Torga surge na política para apoiar a candidatura de Ramalho Eanes à presidência da República (1979). Era, porém, avesso à agitação e à publicidade, permanecendo distante de movimentos políticos e literários.

Autor prolífico, publicou mais de cinquenta livros ao longo de seis décadas e foi várias vezes indicado para o Prémio Nobel da Literatura.

Casou-se com Andrée Crabbé, em 1940, uma estudante belga que, enquanto aluna de Estudos Portugueses, viera a Portugal fazer um curso de Verão na Universidade de Coimbra. O casal teve uma filha, Clara Rocha, nascida a 03 de Outubro de 1955 e divorciada de Vasco Graça Moura.

Torga, sofrendo de cancro, publicou o seu último trabalho em 1993, vindo a falecer em Janeiro de 1995. A sua campa rasa em São Martinho de Anta tem uma torga plantada a seu lado, em honra ao poeta.

 

A obra de Torga tem um carácter humanista: criado nas serras transmontanas, entre os trabalhadores rurais, assistindo aos ciclos de perpetuação da Natureza, Torga aprendeu o valor de cada homem como criador e propagador da Vida; sem o Homem, não haveria searas, não haveria vinhas, não haveria toda a paisagem duriense, feita de socalcos nas rochas, obra magnífica de muitas gerações de trabalho humano. Ora, estes homens e as suas obras levam Torga a revoltar-se contra a Divindade Transcendente a favor da imanência: para ele, só a Humanidade seria digna de louvores, de cânticos, de admiração.

De acordo com o autor, nenhum deus é digno de admiração: na sua condição omnisciente é-lhe muito fácil ser virtuoso e enquanto ser sobrenatural não se lhe opõe qualquer dificuldade para fazer a Natureza – mas o Homem, limitado, finito, condicionado, exposto à doença, à miséria, à desgraça e à morte é também capaz de criar e é sobretudo capaz de se impor à Natureza, como os trabalhadores rurais transmontanos.


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Estes textos pretendem demonstrar e descrever o comportamento, as emoções e os sentimentos humanos de uma pequena aldeia no interior rural de Portugal (mais precisamente na região de Trás-os-Montes), durante o regime do Estado Novo.

 

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