Viveu entre 1923 e 2005. O poeta nasceu na freguesia de Póvoa de Atalaia (Fundão). Fixou-se em Lisboa aos 10 anos, com a mãe, que entretanto se separara do pai.
Frequentou o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado de Castro, tendo escrito os seus primeiros poemas em 1936. Em 1938, enviou alguns desses poemas a António Botto que, gostando do que leu, o quis conhecer. Botto incentivou-o e em 1939 publicou o seu primeiro livro, «Narciso», sob o seu verdadeiro nome, obra que mais tarde viria a rejeitar.
Em 1943, mudou-se para Coimbra, onde regressa depois de cumprido o serviço militar, convivendo com Miguel Torga e Eduardo Lourenço. Tornou-se funcionário público em 1947, exercendo durante 35 anos as funções de Inspector Administrativo do Ministério da Saúde. Uma transferência de serviço levá-lo-ia a instalar-se no Porto, em 1950, numa casa que só deixou mais de quatro décadas depois, quando se mudou para o edifício da extinta Fundação Eugénio de Andrade, na Foz do Douro.
Durante os anos que se seguem até à data da sua morte, o poeta fez diversas viagens, foi convidado para participar em vários eventos e travou amizades com muitas personalidades da cultura portuguesa e estrangeira, como Joel Serrão, Miguel Torga, Afonso Duarte, Carlos Oliveira, Eduardo Lourenço, Joaquim Namorado, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís, Teixeira de Pascoaes, Vitorino Nemésio, Jorge de Sena, Mário Cesariny, José Luís Cano, Ángel Crespo, Luis Cernuda, Jaime Montestrela, Marguerite Yourcenar, Herberto Hélder, Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge, Óscar Lopes e muitos outros.
Apesar do seu enorme prestígio nacional e internacional, Eugénio de Andrade viveu sempre distanciado da chamada vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com «essa debilidade do coração que é a amizade».
Recebeu um sem número de distinções, entre as quais o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários (1986), Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus (1988), Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1989) e Prémio Camões (2001). A 08 de Julho de 1982 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e a 04 de Fevereiro de 1989 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito.
Faleceu a 13 de Junho de 2005, no Porto, após uma doença neurológica prolongada.
Estreou-se em 1939 com a obra «Narciso», torna-se mais conhecido em 1942 com o livro de versos «Adolescente». A sua consagração acontece em 1948, com a publicação de «As Mãos e os Frutos», que mereceu os aplausos de críticos como Jorge de Sena ou Vitorino Nemésio. A obra poética de Eugénio de Andrade é essencialmente lírica, considerada por José Saramago como uma poesia do corpo, a que se chega mediante uma depuração contínua.
Entre as dezenas de obras que publicou encontram-se, na poesia, «Os Amantes sem Dinheiro» (1950), «As Palavras Interditas» (1951), «Escrita da Terra» (1974), «Matéria Solar» (1980), «Rente ao dizer» (1992), «Ofício da paciência» (1994), «O Sal da Língua» (1995) e «Os Lugares do Lume» (1998).
Em prosa, publicou «Os Afluentes do Silêncio» (1968), «Rosto Precário» (1979) e «À Sombra da Memória» (1993), além das histórias infantis «História da égua branca» (1977) e «Aquela nuvem e as outras» (1986).
Foi também tradutor de algumas obras dos espanhóis Federico Garcia Lorca e Antonio Buero Vallejo, da poetisa grega clássica Safo («Poemas e fragmentos», em 1974), do grego moderno Yannis Ritsos, do francês René Char e do argentino Jorge Luís Borges.
Em Setembro de 2003, a sua obra «Os Sulcos da Sede» foi distinguida com o prémio de poesia do PEN Clube Português.
A reunião de toda a poesia de Eugénio de Andrade, a partir da última edição revista em vida pelo autor e com prefácio de José Tolentino Mendonça.
«Já passou mais de uma década do seu desaparecimento e o tempo encarregar-se-á de revelá-lo, sempre mais decididamente, como um clássico da literatura portuguesa e europeia. Há que dizê-lo com as letras todas: Eugénio de Andrade revolucionou a nossa poesia. Até ele a poesia era uma espécie de ponto de passagem para outra coisa, representação de uma realidade anterior ou para lá do próprio poema. Com ele a poesia deixa de ser veículo e torna-se substância de si. Termina o primado da ideia sobre a palavra. Por isso, como sublinhou Prado Coelho, em Eugénio de Andrade, o poema é, na sua admirável transparência, duma opacidade total: ele não permite que se veja através dele, porque continuamente nos reafirma que tudo está nele. E Eduardo Lourenço dirá, em registo lapidar, que a sua poesia é a primeira poesia da poesia da nossa Literatura».