Já tivemos oportunidade de falar sobre Camilo Castelo Branco, mas fica aqui registada a opinião mais sapiente do autor Eça de Queirós.
Camilo, cujo verbo é prodigioso, acumulando tudo o que o génio nacional inventou para se exprimir! E por isso é tanto mais doloroso ver que ele não sabia usar essa imensa riqueza e que, com um léxico mais vasto que o de Ramalho e de Oliveira Martins, não alcançou jamais, como eles, o vigor, o relevo, a cor, a intensidade, a imagem, a vida, mesmo naqueles assuntos em que o romancista, o crítico e o historiador se encontram: na pintura exterior dos homens e do drama humano.
Onde Ramalho é largo e transparente, tudo reproduzindo como um belo rio que corre, onde Oliveira Martins é incorrecto, mas intensamente vivo à maneira do genial Saint-Simon, Camilo, com o verbo completo duma raça na ponta da língua, hesita, tataranha, amontoa, retorce, embaralha e faz um pastel confuso – que nem o Diabo lhe pega, ele que pega em tudo!
Jornal «O Distrito de Évora»