Marquês de Sade

Viveu entre 1740 e 1814. Nobre, político revolucionário, filósofo e escritor famoso pela sua libertinagem sexual. Autor de romances, contos, peças de teatro, diálogos e tratados políticos. No seu tempo, alguns destes trabalhos foram publicados com o seu nome, mas outros foram considerados anónimos, uma vez que Sade negou a autoria. O autor é conhecido sobretudo pelos seus textos de cariz erótico, nos quais mesclava discursos filosóficos com pornografia, elaborando fantasias sexuais recheadas de violência (particularmente contra mulheres e crianças), sofrimento, criminalidade e blasfémias contra o Cristianismo. Adquiriu terrível reputação à conta dos inúmeros crimes sexuais que cometeu contra jovens do sexo masculino e feminino, bem como crianças. Alegava ser um defensor da «liberdade total», livre de Moralidade, Religião ou Lei. Os termos «sadismo» e sádico» derivam do seu nome.

Sade cumpriu pena em diversas prisões e até num sanatório psiquiátrico num total de 32 anos: 11 em Paris (dez dos quais na Bastilha), um mês na Conciergerie, dois anos numa fortaleza, um ano no convento de Madelonnettes, três anos no asilo de Bicêtre, um na prisão de Sainte-Pélagie e 12 no sanatório de Charenton. Durante a Revolução Francesa, foi eleito delegado da Convenção Nacional. A maioria dos seus textos foi escrita na prisão.

Continua a subsistir, ainda hoje, um certo interesse e até fascínio pela figura de Sade, não só entre académicos mas também na cultura popular. Conhecidos intelectuais franceses como Roland Barthes, Jacques Lacan, Jacques Derrida ou Michel Foucault publicaram estudos sobre ele. Por outro lado, o filósofo Michel Onfray criticou bastante tal interesse, afirmando ser «intelectualmente bizarro transformar Sade num herói». Surgiram também variadas adaptações das suas obras ao cinema, sendo a mais famosa «Salò ou os 120 dias de Sodoma», de Pasolini, a partir do livro «Os 120 Dias de Sodoma».

Sade nasceu a 02 de Junho de 1740, em Paris, filho de Jean Baptiste François Joseph, Conde de Sade e Marie Eléonore de Maillé de Carman, uma prima distante e Dama de Companhia da princesa de Condé. Revelou-se filho único, tendo sido educado por um tio, o Abade de Sade. Quando o autor ainda era jovem, o pai abandonou a família e a mãe foi viver para um convento, ficando Sade entregue a diversos criados que faziam «tudo o que ele queria», contexto que o tornou «uma criança rebelde e mimada, com um feitio cada vez mais difícil».

Anos mais tarde, foi inscrito no Liceu Louis-le-Grand em Paris, uma instituição jesuíta, durante quatro anos. Nesse período, a sua educação este a cargo do abade Jacques-François Amblet. Muito depois, este religioso acabou por testemunhar num dos julgamentos de Sade, afirmado que o antigo aluno «tinha um temperamento apaixonado, obcecado pela busca do prazer» mas era dono de «um bom coração». Ainda nos tempos do Liceu, o autor foi sujeito a «fortes castigos corporais», onde se incluía a «flagelação», tendo Sade passado o resto da vida adulta «fortemente interessado na violência». Ao fazer 14 anos, foi incorporado numa academia militar de elite.

Após 20 meses de treino, a 14 de Dezembro de 1755, já com 15 anos, foi-lhe atribuído o posto de subtenente. Após mais 13 meses, foi promovido a Segundo-tenente e acabou por ascender ao posto de coronel, tendo participado na Guerra dos Sete Anos. Em 1763, ao regressar da campanha, demonstrou interesse na filha de um magistrado rico, mas este rejeitou tais avanços, preferindo emparelhá-lo com a filha mais velha, Renée-Pélagie de Montreuil, casamento que redundou em dois filhos e uma filha. Em 1766, mandou construir um teatro privado no seu castelo – Château de Lacoste – na Provença. Em Janeiro do ano seguinte, o pai morre.

Os homens na família Sade alternavam o uso dos títulos de «marquês» e «conde». O avô, Gaspard François de Sade, foi o primeiro a ostentar a designação de marquês; sendo mesmo conhecido a espaços por Marquês de Sade, embora esteja oficialmente identificado em documentos como Marquês de Mazan. A família Sade descendia das linhagens mais antigas da nobreza francesa, remetendo para a era dos Francos, pelo que estava «autorizada» a assumir um título nobiliárquico sem a usual autorização do Rei. Em teoria, o título de «marquês» era concedido a nobres possuidores de diversas propriedades e honrarias, mas o uso abusivo da designação por indivíduos de linhagem sombria acabou por deslustrar a sua reputação.

Durante muitos anos, os descendentes de Sade consideraram a vida e obra deste como algo escandaloso, que carecia de ser esquecido e mesmo eliminado. Este estado de coisas prolongou-se até meados do século XX, quando o Conde Xavier de Sade recuperou para si o título de marquês, há muito caído em desgraça, nos seus cartões de visita, tendo ainda revelado interesse em conhecer a obra literária do seu antepassado. Na altura, o «divino marquês» de reputação hoje lendária era um assunto tão proibido entre os membros da própria família que Xavier de Sade só tomou conhecimento da sua existência no final dos anos 40, quando foi abordado a esse propósito por um jornalista. Tal motivou investigações que redundaram na descoberta de um conjunto de documentos pertencentes a Sade no castelo da família, em Condé-en-Brie, tendo o descendente requisitado o trabalho de eruditos e estudiosos ao longo de décadas, até conseguir que tais trabalhos fossem publicados. O filho mais novo de Xavier, o marquês Thibault de Sade, prosseguiu a empreitada, tendo ainda adquirido direitos sobre o nome. O castelo acabou por ser vendido em 1983. Diferentes manuscritos são detidos pela família, mas também por universidades e bibliotecas, embora a maioria se tenha perdido ao longo dos séculos XVIII e XIX. Grande parte deles foi mesmo destruída logo após a morte do autor, por acção do próprio filho, Donatien-Claude-Armand.

Sade teve uma existência libertina e escandalosa, procurando com frequência a companhia de jovens prostitutas e contratando serventes de ambos os sexos para o seu castelo em Lacoste. Foi ainda acusado de ser um blasfemo – uma acusação muito séria na época. A sua conduta levou-o ainda a ter um caso com a cunhada, Anne-Prospère, que passara a viver no castelo.

A partir de 1763, Sade passou a viver quase sempre na cidade de Paris ou nos arredores. Várias prostitutas da cidade começaram a queixar-se de serem maltratadas por ele, pelo que o autor foi posto sob a vigilância da polícia, que mantinha relatórios detalhados do seu quotidiano. Depois de cumprir curtas penas, acabou por ser exilado no seu castelo de Lacoste, em 1768.

O primeiro grande escândalo teve lugar no Domingo de Páscoa de 1768, no qual Sade requisitou os serviços de uma mulher de nome Rose Keller, uma viúva na penúria que o tinha procurado em busca de uma esmola. Este explicou-lhe que ela podia fazer dinheiro se trabalhasse para ele, tendo esta entendido que ele se referia às funções de governanta. No seu castelo de Arcueil, Sade rasgou-lhe as roupas, atirou-a para cima de um divã e atou-lhe mãos e pés, de cara em baixo, de modo a impede-la de perceber o que se passava nas suas costas. Depois chicoteou-a. Keller declarou ainda que ele lhe fez vários cortes no corpo, nos quais deitou cera quente, embora os investigadores não tenham encontrado feridas desse género no corpo da mulher. O autor defendeu-se, alegando ter-lhe feito um curativo depois da sessão de sadismo. Keller acabou por escapar ao subir até uma janela do segundo andar e saltando para o exterior. A família deste pagou à mulher para esta se manter em silêncio, mas a onda de embaraço social acabou por manchar a reputação de Sade. A influente sogra do autor acabou por obter do Rei uma lettre de cachet (uma ordem de prisão real, sem divulgação dos motivos ou possibilidade de intervenção dos tribunais), de modo a proteger Sade de futuros processos públicos, mas o acto acabaria por se revelar desastroso para o futuro do marquês.

Quatro anos mais tarde, em 1772, Sade voltaria a cometer acções impróprias com quatro prostitutas e um criado, de nome Latour. Esse episódio, ocorrido em Marselha, incluiu a administração de uma droga não-letal nas mulheres, um produto supostamente afrodisíaco conhecido como Spanish fly e actos de sodomia com Latour. Acabaram ambos condenados à morte (embora não estivessem presentes no tribunal) e foram obrigados a fugir para Itália. Sade levou a cunhada com ele. Foram mais tarde apanhados e aprisionados na fortaleza de Miolans, em finais desse ano, mas conseguiram escapar quatro meses depois.

Sade acabou por se esconder em Lacoste, juntando-se à mulher, que a partir desta altura se tornou cúmplice das suas aventuras. Em 1774, o autor aprisionou seis crianças, incluindo um rapaz, no castelo, durante seis semanas. Estes foram sujeitos a diversos tipos de abuso, autorizados pela mulher. Mantinha também um conjunto de jovens serventes nas instalações, tendo a maioria confessado os abusos sofridos e abandonado as funções rapidamente. Sade foi obrigado a fugir para Itália, uma vez mais. É por esta altura que escreve a obra «Voyage d’Italie». Em 1776, regressa a Lacoste, contrata nova fornada de serventes femininas e estas voltam quase todas a fugir em pouco tempo. Em 1777, o pai de uma delas deslocou-se a Lacoste para salvar a filha e tentou matar o Marquês à queima-roupa, mas a arma encravou.

Ainda nesse ano, Sade caiu num logro, no qual foi requisitado para ir visitar a mãe, muito doente, embora na verdade esta já tivesse falecido. Acabou detido e encarcerado em Château de Vincennes. Conseguiu sair vencedor do recurso à pena de morte em 1778, mas manteve-se preso à conta da lettre de cachet. A dado momento, escapou, mas voltou a ser apanhado. Regressou então à escrita e fez amizade com outro prisioneiro, o Conde de Mirabeau, também ele autor de contos eróticos. Apesar desta afinidade temporária, os dois acabaram por se afastar e tornar-se mesmo inimigos.

Em 1784, Vincennes foi encerrada como prisão e Sade foi transferido para a Bastilha. No ano seguinte, escreveu a primeira versão da sua magnum opus «Os 120 Dias de Sodoma», numa letra minúscula, servindo-se de um rolo de papel imenso que enrolou cuidadosamente e escondeu numa certa zona da parede da sua cela. Acabou por não conseguir terminar o trabalho, uma vez que a 04 de Julho de 1789 foi transferido «nu como vim ao mundo» para o asilo psiquiátrico de Charenton, nos arredores de Paris, dois dias após ter – alegadamente – incitado à revolta da população ao gritar pela janela que «eles estão a matar-nos aqui dentro!». Sade não teve assim tempo de retirar o manuscrito antes de ser transferido e a invasão da Bastilha – um dos episódios mais marcantes da Revolução Francesa – ocorreu a 14 de Julho, dez dias após a sua saída. Ficou desesperado, pois convenceu-se que o trabalho tinha sido destruído na batalha, apesar do mesmo ter na verdade sido salvo por um homem chamado Arnoux de Saint-Maximin, dois dias antes da revolta. Desconhecem-se as razões que levaram este indivíduo a salvar o manuscrito, da mesma forma que se desconhece praticamente tudo sobre ele. Em 1790, Sade foi libertado de Charenton após ter sido abolida a figura da lettre de cachet pela Assembleia Nacional Constituinte. A mulher conseguiu o divórcio pouco tempo depois.

Durante o tempo que passou em liberdade, a partir de 1790, o autor conseguiu publicar alguns dos seus livros sob anonimato. Conheceu uma mulher de nome Marie-Constance Quesnet, uma antiga actriz com um filho de seis anos, que tinha sido abandonada pelo marido. Acabaram por ficar juntos até à morte deste.

Começou por adaptar-se à nova ordem política saída da Revolução, tornando-se apoiante da República, autodenominando-se «cidadão Sade» e obtendo diversos cargos públicos apesar do seu passado aristocrático.

À conta dos estragos na sua propriedade em Lacoste, pilhada em 1789 por uma turba revoltosa, mudou-se para Paris. Em 1790, foi eleito para a Convenção Nacional, na bancada da extrema-esquerda. Escreveu vários panfletos políticos, nos quais defendia a implementação do voto directo. Apesar disso, existem múltiplas provas de que era obrigado a tolerar abusos psicológicos por parte dos colegas revolucionários, devido às suas origens aristocráticas. A situação piorou quando, em Maio de 1792, o filho desertou do exército, onde servia como segundo-tenente e adjunto de um importante coronel, o Marquês de Toulengeon. Sade viu-se forçado a repudiar o acto, de modo a não sofrer consequências.

Apesar de se declarar contra o Reino de Terror que tinha lugar em 1793, escreveu uma elegia muito elogiosa a Jean-Paul Marat (um político radical). Por outro lado, tornou-se cada vez mais crítico de Maximilien Robespierre e todo este contexto culminou – em princípios de Dezembro – na sua destituição dos cargos, em acusações de «neutralidade» e na sua prisão durante quase um ano. Acabou por ser libertado em 1794 depois do fim do Reino de Terror.

Em 1796, totalmente arruinado, foi obrigado a vender o castelo de Lacoste, também ele destruído.

Em 1801, Napoleão Bonaparte ordenou a prisão do autor anónimo de Justine e «Juliette». Sade foi detido no escritório do editor e de novo encarcerado sem julgamento, primeiro na prisão de Sainte-Pélagie e depois, na sequência de testemunhos que o acusavam de tentar seduzir jovens prisioneiros, num rigoroso asilo chamado Bicêtre Asylum.

Após nova intervenção da família, foi declarado louco em 1803 e de novo transferido para o asilo de Charenton. A ex-mulher e os filhos concordaram em pagar-lhe o internamento. Constance, simulando pertencer à família, foi autorizada a viver com ele na instituição. O director, Abade Coulmier, autorizou-o e encorajou-o a levar à cena várias das duas peças, com os prisioneiros a fazerem de actores, sendo depois apresentadas ao público parisiense. Esta revolucionária abordagem de Coulmier, sustentada na psicoterapia, provocou enormes protestos. Em 1809, ordens superiores das autoridades atiraram com Sade para a solitária e retiraram-lhe o acesso a papel e caneta. Em 1813, o governo decretou a suspensão de todas as apresentações teatrais do género na instituição.

Logo em 1810, Sade dera início a uma relação sexual com Madeleine LeClerc, de apenas 14 anos e filha de um funcionário em Charenton. O caso durou até à morte do autor, quatro anos depois, em 1814.

No seu testamento, colocou ordens explícitas para que o seu corpo não fosse aberto ou violentado por nenhum motivo, para que o mesmo permanecesse intocado durante 48 horas na cela onde morresse e por fim fosse introduzido num caixão e enterrado numa propriedade sua em Malmaison, perto de Épernon. Estas directrizes não foram respeitadas e o autor foi enterrado em Charenton. O crânio foi mais tarde retirado da campa para exames frenológicos. O filho ordenou que todos os manuscritos por publicar fossem queimados, incluindo a enorme obra em vários volumes conhecida como «Les Journées de Florbelle».

A ficção de Sade foi associada a diferentes géneros, incluindo Gótico, Barroco ou Pornográfico. As obras mais famosas são considerados «romances libertinos», onde se inclui Justine, ou os Infortúnios da Virtude, «História de Juliette», «Os 120 Dias de Sodoma» e «A Filosofia na Alcova». Todos estes textos desafiam as convenções acerca da sexualidade, religião, leis, idade e género. As opiniões reveladas sobre violência sexual, sadismo e pedofilia perturbaram até os contemporâneos de Sade habituados aos temas normalmente presentes no género gótico, muito em voga nos finais do século XVIII. O sofrimento parece ser obrigatório, uma vez que nestes romances o leitor é obrigado a tomar partido pelo torturador ou pela vítima. Apesar das obras abordarem o lado negro da natureza humana, a faceta mística e fantasmagórica tradicional no género gótico está ausente por complete, sendo essa a razão principal para que tais romances não sejam incluídos nessa categoria.

Através das paixões censuradas das suas libertinas, Sade procurava abanar o mundo nos seus alicerces. Em «120 Days…», por exemplo, o autor confessava o desejo de apresentar «a história mais impura alguma vez escrita, desde que o Mundo é Mundo». Apesar das suas tentativas literárias de conjurar o Mal, as suas personagens e enredos perdiam-se com frequência na repetição de actos sexuais e na apresentação de justificações filosóficas para os mesmos. Simone de Beauvoir e Georges Bataille consideram que o formato repetitivo dos romances libertinos, apesar de prejudicarem o talento da escrita, acabam por reforçar os argumentos individualistas. A natureza repetitiva e obsessiva nos relatos dos abusos sofridos por Justine, bem como da sua frustração ao não conseguir cumprir o objectivo de ser uma boa cristã e viver uma vida pura e virtuosa, pode numa leitura superficial parecer excessiva e aborrecida, mas Sade manipula o leitor para que este considere o texto um exemplo de pornografia barata e risível de modo a depois confrontá-lo – de forma mestra e artística – com extensos raciocínios sobre moral social e individual.

Na obra «The Crimes of Love», subtitulada «Heroic and Tragic Tales», Sade constrói uma mescla de romance e terror, servindo-se de alguns lugares-comuns do Gótico em nome do efeito dramático. Existe sangue, bandidagem, cadáveres e, obviamente, luxúria insaciável. Em comparação com Justine, o texto é relativamente sóbrio, já que o eroticismo explícito e a tortura abrem espaço para uma abordagem mais psicológica.


Romance de 1791. Justine decorre numa França às portas da Revolução e centra-se na história de uma jovem rapariga conhecida como Thérèse. Esta relata as suas atribulações a Madame de Lorsagne procurando justificar os crimes de que é acusada e que redundarão na sua morte.

 

Enredo

Justine, uma criada de apenas 12 anos, procura ganhar a vida em França. O enredo acompanha a sua busca por uma vida virtuosa, até esta completar 26 anos. Ao longo do tempo, é confrontada com inúmeras provações sexuais, branqueadas por argumentos filosóficos. Destaque para quando esta procura refúgio e possibilidade de confissão num mosteiro, onde acaba por ser transformada na escrava sexual dos monges, que a sujeitam a inúmeras orgias, violações e outras torturas, ou para o período em que, depois de ajudar um cidadão que fora assaltado numa zona campestre, é levada por este para o seu castelo com a promessa de ser transformada na enfermeira da mulher, apenas para terminar aprisionada numa cave e submetida a semelhantes tormentos. O padrão repete-se ao longo de todo o livro, até mesmo quando esta recorre a um juiz para que este lhe conceda clemência num caso de fogo posto e se vê humilhada em tribunal, sem qualquer possibilidade de defesa.

Tudo isto é descrito com os conhecidos requintes maquiavélicos do autor, embora este romance não seja – ao contrário de outros – um mero catálogo de práticas sádicas.

Justine e Juliette são filhas de Monsieur de Bertole. Este é um banqueiro viúvo que se apaixona pela amante de outro homem. O ofendido, Monsieur de Noirseuil, decide vingar-se. Simula uma amizade, leva-o à ruina e acaba por envenená-lo, deixando as raparigas órfãs. Juliette and Justine acabam numa abadia, na qual recebem más influências da abadessa responsável. Juliette acaba por ceder, mas Justine resiste, obedecendo à sua natureza doce e virtuosa. Quando a abadessa é informada da morte de Bertole, expulsa ambas. A história de Juliette faz parte de outro enredo. Neste, Justine prossegue a sua busca pela santidade, começando por se tornar uma criada em casa de um homem chamado Harpin, primeira fonte dos seus tormentos.

Em permanente carência de sustento e abrigo, Justine cai em sucessivos contextos difíceis, nas mãos de criminosos que a torturam e dela abusam, bem como a todos de quem se faz amiga. É injustamente acusada de roubo por parte de Harpin e enviada para a prisão, onde aguarda sentença fatal. Perante isto, é obrigada a fazer uma aliança com Miss Dubois, uma criminosa que a inclui na fuga encetada pelo bando que lidera. O plano inclui um fogo posto, no qual morrem 21 pessoas. Depois de se afastar do bando de Dubois, Justine vagueia pelo território e acaba por trespassar sem querer a propriedade do conde de Bressac.

Tais provações são relatadas por «Thérèse», numa estalagem, à referida Madame de Lorsagne. Acaba por se concluir que esta é Juliette, a desaparecida irmã de Justine. Ironicamente, a mesma acabou por ter uma vida agradável, após um breve período vicioso, tendo aproveitado para praticar o Bem. Justine, ao recusar pagar o preço da «liberdade», viu-se forçada a maiores e mais duradouros tormentos.

Juliette decide usar a sua influência para resolver os problemas da irmã, restabelecendo-lhe a reputação. Apesar disso, esta cai pouco depois num estado de introversão e tristeza sendo por fim atingida por um raio. Morre de imediato. Madame de Lorsagne adere a uma ordem religiosa.

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