Viveu entre 1867 e 1916. Poeta, iniciador e máximo representante do Modernismo literário em língua castelhana. É possivelmente o poeta com maior e mais duradoura influência na poesia do século XX no âmbito hispânico e considerado o príncipe de las letras castellanas.
Para a sua formação poética foi determinante a influência da poesia francesa. Em primeiro lugar, os românticos, e muito especialmente Víctor Hugo. Mais tarde, e de forma decisiva, chega a influência dos parnasianos Théophile Gautier, Catulle Mendès e José Maria de Herédia. Por último, o que completa a estética dariana é sua admiração pelos simbolistas, e entre eles, acima de qualquer outro, Paul Verlaine.
Recapitulando a sua trajectória poética no poema inicial de Cantos de Vida y Esperanza (1905), o próprio Dário sintetiza as suas principais influências afirmando que foi «forte com Hugo e ambíguo com Verlaine».
Muito ilustrativo para conhecer os gostos literários de Dário é o volume Los Raros, que publicou no mesmo ano que Prosas Profanas, e dedicado a glosar brevemente alguns escritores e intelectuais que admirava. Entre os seleccionados estão Edgar Alan Poe, Villiers de l’Isle Adam, León Bloy, Paul Verlaine, Lautréamont, Eugénio de Castro e José Martí (este último é o único autor mencionado que escreveu a sua obra em espanhol). O predomínio da cultura francesa é evidente. Dário escreveu:
El Modernismo no es otra cosa que el verso y la prosa castellanos pasados por el fino tamiz del buen verso y de la buena prosa franceses.
Isto não quer dizer que a literatura em castelhano não tenha importância na sua obra. Deixando de parte a época inicial, anterior a Azul…, na qual a sua poesia é em grande medida devedora dos grandes nomes da poesia espanhola do século XIX, como Núñez de Arce y Campoamor, Dário foi um grande admirador de Bécquer.
Os temas espanhóis estão muito presentes na sua produção já desde Prosas Profanas (1896) e, muito especialmente, desde a sua segunda viagem a Espanha, em 1899. Consciente da decadência do castelhano tanto na política como na arte (preocupação que compartilhou com a chamada Geração de 98), inspira-se com frequência em personagens e elementos do passado. Assim ocorre, por exemplo, no seu Letanía de nuestro señor Don Quijote, poema incluído em Cantos de Vida y Esperanza (1905), em que exalta o idealismo de Dom Quixote.
Em relação aos autores de outras línguas, deve-se mencionar a profunda admiração que sentia por três autores norte-americanos: Emerson, Poe e Whitman.
A sua evolução poética está balizada pela publicação dos livros que a crítica tem reconhecido como obras fundamentais: Azul… (1888), Prosas Profanas y Otros Poemas (1896) e Cantos de Vida y Esperanza (1905).
Antes de Azul… Dário escreveu três livros e um grande número de poemas soltos que constituem o que se tem chamado a sua «pré-história literária». Os livros são Epístolas y Poemas (escrito em 1885, porém não publicado até 1888, com o título de Primeras Notas), Rimas (1887) e Abrojos (1887). Na primeira destas obras é patente a impressão das suas leituras de clássicos espanhóis, assim como a marca de Vítor Hugo. A métrica é clássica (décimas, romances, estâncias, tercetos encadeados em versos heptassílabos, octossílabos e hendecassílabos) e o tom é sobretudo romântico. As cartas, de influência neoclássica, são dirigidas a autores como Ricardo Contreras, Juan Montalvo, Emílio Ferrari e Vítor Hugo.
Em Abrojos, publicado já no Chile, a influência mais notada é a do espanhol Ramón de Campoamor. Já Rimas, publicado também no Chile e no mesmo ano, foi escrito para um concurso de composições como imitação das Rimas de Bécquer, pelo que não é estranho que o seu tom intimista seja muito similar ao das composições do poeta de Sevilha. Consta de apenas catorze poemas, de tom amoroso, cujos procedimentos expressivos são caracteristicamente becquerianos.
Azul… (1888), considerado o livro inaugural do Modernismo hispano-americano, recolhe tanto relatos em prosa como poemas, cuja variedade métrica chamou a atenção da crítica. Apresenta já algumas preocupações características de Dário, como a insatisfação ante a sociedade burguesa (veja-se, por exemplo, o conto El Rey Burguês). Em 1890 é publicada a segunda edição do livro, aumentada com novos textos, entre os quais uma série de sonetos alexandrinos.
A etapa da plenitude do Modernismo e da sua obra poética é o livro Prosas Profanas y Otros Poemas, colecção de poemas em que a presença do erótico se torna mais importante e em que não está ausente a preocupação com temas esotéricos. Neste livro já está toda a imaginação exótica própria da poética do autor: a França do século XVIII, a Itália e a Espanha medievais, a mitologia grega, etc.
Em 1905, publicou Cantos de Vida y Esperanza, que anuncia uma linha mais intimista e reflexiva dentro da sua produção, sem renunciar aos temas que se haviam convertido em senhas de identidade do Modernismo. Ao mesmo tempo, aparece na sua obra a poesia cívica, com poemas como A Roosevelt, uma linha que se acentuará em El Canto Errante (1907) e em Canto a la Argentina y otros poemas (1914). O lado intimista da obra acentua-se em Poema del Otoño y otros poemas (1910), onde mostra uma simplicidade formal surpreendente.
Nem todos os poemas de Dário foram publicados em livro durante a vida do poeta. Muitos deles, aparecidos apenas em publicações periódicas, foram recompilados depois da sua morte.
Estritamente relacionado com o tema do erotismo está o recurso a cenários exóticos, longínquos no espaço e no tempo. A busca do exótico tem geralmente sido interpretada nos poetas modernistas enquanto atitude de rejeição à pacata realidade em que vivem. Em geral, a poesia de Dário (salvo alguns poemas cívicos, como o Canto a Argentina ou Ode a Mitre) exclui a actualidade dos países em que viveu e centra-se em cenários remotos. Entre estes está o que aborda a mitologia da Grécia Antiga. Os poemas estão povoados de sátiros, ninfas, centauros e outras criaturas mitológicas. A França galante do século XVIII é outros dos cenários exóticos favoritos do poeta. Em Divagación, ao que o próprio se referiu, em Historia de mis libros, como «um curso de geografia erótica», aparecem, além dos já citados, os seguintes ambientes exóticos: a Alemanha do Romantismo, Espanha, China, Japão, Índia e a Israel bíblica. Merece menção à parte a presença na sua poesia de uma imagem idealizada das civilizações pré-colombianas.
Apesar de seu apego ao sensorial, a poesia de Rúben Dário é atravessada por uma poderosa corrente de reflexão existencial sobre o sentido da vida. É conhecido o seu poema Lo Fatal, de Cantos de Vida y Esperanza, onde afirma:
no hay dolor más grande que el dolor de ser vivo
ni mayor pesadumbre que la vida consciente
A religiosidade de Dário afasta-se da ortodoxia cristã para procurar refúgio na religiosidade sincrética própria do fim do século, em que se mesclam influências orientais, um certo ressurgir do paganismo e, sobretudo, várias correntes ocultistas.
Teve também uma faceta, bastante menos conhecida, de poeta social e cívico. Algumas vezes por encargo, e outras por desejo próprio, compôs poemas para exaltar heróis e nacionalidades, assim como para criticar ou denunciar os males sociais e políticos. Um dos seus mais destacados poemas nesta linha é Canto a la Argentina, incluído em Canto a la Argentina y otros poemas e escrito a pedido do jornal La Nación por ocasião do primeiro centenário da independência do país. Este extenso poema (com mais de 1000 versos, o maior que o autor escreveu), destaca o carácter de terra de acolhimento para imigrantes de todo o mundo do país sul-americano e enaltece, como símbolos da sua prosperidade, as Pampas, Buenos Aires e o Rio da Prata.
Grande parte da produção literária foi escrita em prosa. A primeira tentativa por parte do autor de escrever um romance foi pouco antes de desembarcar no Chile. Juntamente com Eduardo Poirier escreveu durante dez dias, em 1887, um folhetim romântico intitulado Emelina, para apresentação no Prémio Varela, mas a obra não venceu o prémio. Mais tarde, voltou a tentar a sorte com o género novelesco com El Hombre de Oro, escrita por volta de 1897 e ambientada na Roma Antiga. Já no fim da vida começou a escrever um romance, de marcado carácter autobiográfico, que não chegou a terminar.
Nesta obra canónica, o poeta expandiu uma escrita que, sem abandonar os mundos de Azul e Prosas Profanas, abre espaço para a erupção impetuosa do lado mais pessoal da sua poesia: sentimentos de culpa e de prazer, lamentos e receios, unem-se a reflexões sobre a cultura, a história e a defesa do americano e do hispânico, ameaçado, na transição entre o século XIX e XX, por forças poderosas como os Estados Unidos.