Sobre Influências – 3

Não é segredo, a imortalidade de certos textos. Logo, de certos autores. A ordem é discutível.

Depois, nem sempre equivalentes, os imortalizados pela História e os que são eternos apenas em nós.

Hoje não é dia para combates de gladiadores.

Apenas para visitar um dos meus imortais e o texto que me fez elegê-lo a tal panteão.

Uma página desse livro mítico: A Espuma dos Dias.

Cumprimentos de Boris Vian:


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© Peter Turnley


« – Por que são a um tal ponto desdenhosos? – Perguntou Chloé. – Trabalhar não é coisa assim tão boa…

– Disseram-lhes que é bom. – Respondeu Colin. – Em geral costuma achar-se que é bom. Mas a verdade é que ninguém pensa assim. Trabalha-se por hábito, justamente para não pensarmos nisso.

– De qualquer forma, é idiota fazer um trabalho que pode ser feito pelas máquinas.

– É preciso construir máquinas. – Disse Colin. – Quem o fará?

– Oh! Claro! – Disse Chloé. – Para fazer um ovo é preciso uma galinha e uma vez que haja galinha podemos ter uma porção de ovos. Portanto, mais vale começar pela galinha.

– Seria preciso saber o que impede a construção das máquinas. – Disse Colin. – É, com certeza, falta de tempo. As pessoas perdem tempo a viver, por isso já lhes não sobra nenhum para trabalhar.

– Não será antes o contrário? – Disse Chloé.

– Não. – Disse Colin. – Se tivessem tempo para construir máquinas, depois já não seria preciso fazer mais nada. O que eu quero dizer é que trabalham para viver, em vez de trabalharem para construir máquinas que iriam levá-los a viver sem trabalhar.

– É complicado. – Concluiu Chloé.

– Não – disse Colin. – É muito simples. A coisa deveria dar-se progressivamente, bem entendido. Mas perde-se tanto tempo a fazer coisas que se gastam…

– Não acreditas que gostassem mais de ficar em casa a dar beijos à mulher, de ir à piscina e a divertimentos?

– Não. – Disse Colin. – Porque não pensam nisso.

– Mas será culpa deles, se pensam que trabalhar é bom?

– Não. – Disse Colin. – A culpa não é deles. Foi porque lhes disseram: «O trabalho é sagrado, é bom, é belo, é o que acima de tudo conta e só os que trabalham têm direito a tudo». Mas sucede que as coisas estão feitas para serem obrigados a trabalhar o tempo todo e dessa forma não podem aproveitar o facto de terem trabalho.

– Serão afinal estúpidos? – Disse Chloé.

– Sim, são estúpidos. – Disse Colin. – Por isso estão de acordo com quem lhes faz acreditar que o trabalho é o que há de melhor. Isto evita que reflictam e tentem progredir até não trabalhar.

– Falemos de outra coisa. – Disse Chloé. – São assuntos cansativos. Diz-me se gostas do meu cabelo…».

 

 

 

 

 

 

 

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