No fim do cais, a roda gigante surge como ponto de exclamação de um apelo a antigos modelos lúdicos, caídos em desuso. Ao longo de alguns metros, desdobra-se um conjunto de diversões luminosas, que remetem para memórias de infância. Para além da esfera imponente, não faltam os carrinhos de choque, o comboio fantasma, entre outros mecanismos que jogam com a força da gravidade e o equilíbrio dos estômagos.

Nem sempre me deixei ameaçar pela vertigem que hoje me obriga a olhar para tais desafios com redobrada prudência. Entrei na roda, cumprindo a lei essencial que obriga a nunca olhar para baixo. Mantendo o horizonte em perspectiva, pude apreciar a fantástica linha costeira da cidade um pouco mais perto do algodão das nuvens. Brincando com a inevitável tendência dos adultos para se levarem a sério, atrevi-me ainda pelo comboio fantasma, que resvalou desgraçadamente para a comédia, cujas fronteiras são, como se sabe, muito fáceis de confundir. A conclusão fez-se no mais tradicional dos carroceis encantados, esquecidos por aquele mundo que se deveria recordar com mais frequência.

Desloquei-me no dia seguinte a Stillorgan, um lugarejo perdido entre a via rápida e os terrenos que a circundam. Ao contrário das localidades costeiras, aqui a origem foi agrária, meia dúzia de casebres que deram lugar a urbanizações e pequeno comércio. Procurava duas memórias: uma igreja e uma rua. A primeira, Saint Brigid, confessa a passagem dos 110 anos desde a sua construção somente através do tamanho da árvore que a ampara. Comparando a foto desbotada da época com a visão que hoje oferece, é apenas nesse detalhe que se vislumbram diferenças. A estrada, provavelmente a primeira que atravessou a localidade, mudou de nome, mas manteve as curvas e as esquinas, o que me fez procurar por pouco tempo o local onde já me encontrava.

Na nossa medíocre existência, um século está fora de alcance, mas na estrutura das coisas, é somente um grão da areia que enche a ampulheta.